Prisões sem provas, pressões
físicas e psicológicas. A Lava-Jato transita num fio da navalha e é
impressionante ouvir quem acompanha os fatos de perto.
Rodrigo Vianna – Escrevinhador / www.cartamaior.com.br
A frase que dá título a esse
texto não foi dita por um militante petista desvairado. Nem por um jornalista
(como esse que escreve) afeito a teorias da conspiração.
Saiu da boca de um advogado
paulistano, bem-sucedido, com sólida formação acadêmica (é também professor de
Direito), sócio de um escritório na região da avenida Paulista.
Detalhe: ele votou em Aécio no
ano passado, mas não disse a frase em tom de “comemoração”, mas de alerta.
A conversa aconteceu num encontro
social privado, há alguns dias, antes portanto da prisão de José Dirceu. O
advogado, a quem conheço há mais de 30 anos, tem na sua carteira de clientes
alguns empreiteiros. Um deles está em prisão domiciliar, por causa da
Lava-Jato, e algumas semanas atrás foi obrigado a depor algemado em Curitiba –
como forma de pressão.
“Um homem de quase 60 anos,
franzino, que não oferece nenhum risco físico às autoridades, foi obrigado a
depor algemado durante várias horas, sob alegação de ameaça à segurança do
delegado“, contou.
Prisões sem provas, pressões
físicas e psicológicas. A Lava-Jato transita num fio da navalha muito perigoso.
Já sabemos disso. Mas é impressionante ouvir quem acompanha o desenrolar dos
fatos ali, bem ao lado dos investigados e dos algozes da PF e do Judiciário.
Experiente operador do Direito,
minha fonte está impressionada com o grau de truculência de delegados,
procuradores e do juiz Sérgio Moro. Perguntei a ele (com veia sempre
“conspiratória”) quem seria a cabeça pensante a traçar o roteiro da Lava-Jato:
“Moro me parece frágil, mal preparado, tropeçando nas palavras nas
inquirições…”, eu disse.
E o advogado: “não se engane, ele
pode não ser brilhante ao falar, mas o cérebro é ele. Moro se acha imbuído de
uma santa missão, e vai seguir em frente, nem que pra isso tenha que destruir
metade da República. Ele é uma personalidade perigosa para a democracia”.
Todos advogados que trabalham na
Lava-Jato estão assustados. Mas quase todos (e agora a avaliação é minha) temem
enfrentar abertamente Sergio Moro. O juiz de primeira instância – com suas
soturnas camisas pretas (ôpa, Itália dos anos 20 e 30!) acompanhadas de
gravatas também escuras – virou uma espécie de intocável. Montou uma operação
que – mais do que respeitada – é temida por todos que atuam no Judiciário.
“É uma espécie de estado islâmico
judicial, onde tudo é permitido; afinal há um objetivo final que é sagrado:
combater a corrupção”.
Algumas delações premiadas já
chegam prontas, feito matéria da “Veja”: primeiro o editor escreve, depois o
repórter acha alguma coisa que corrobore a tese. “Eles trazem a delação e dizem
ao preso: você assume isso aqui? Sabemos que você sabe, fica mais fácil pra
você”.
Mas o que explicaria essa
voracidade, voltada não contra todos os corruptos, mas contra o governo (PMDB e
PT são os alvos, com o PSDB poupado)? Não haveria uma operação tucana, uma
conexão com a mídia?
“Pode haver alianças, mas são
circunstanciais. Moro é bem tratado pela Globo, e faz o jogo. Mas não pense que
a Globo ou o PSDB controlam cada passo dele e de todos envolvidos na operação”,
foram as palavras do advogado, entre um gole e outro de vinho.
Minha fonte, que votou em Aécio
sob o argumento pragmático de que “o Brasil e a Dilma não vão aguentar o que
vem por aí na Lava-Jato; se o Aécio ganhar, isso tudo estará pacificado” (foi
essa, mais ou menos, a frase dele em outubro de 2014, quando nos reunimos num
jantar a poucos dias do segundo turno), está convicto de que a guerra santa
promovida por Moro tem um alvo: o ex-presidente Lula.
“O Lula ainda não é a bola da
vez, mas é a cabeça que os meninos de Curitiba querem sangrando numa bandeja”,
disse o advogado. Segundo ele, muitos réus foram indagados nas últimas semanas
sobre o que sabiam do “peixe grande”.
A conversa que narro nesse post
aconteceu durante um encontro com 6 ou 8 pessoas, em São Paulo. Um dos
presentes, que não é advogado, indagou: “então, caminhamos para uma grave crise
institucional?
“Não”, respondeu o advogado. “Não
caminhamos. Já estamos em plena crise”.
E a prisão de Lula então é
inevitável, dada a inação do PT e do governo?
“Avaliação política eu deixo por
sua conta” [o advogado disfarça, mas é também um arguto observador político].
“O o que posso dizer é na seara jurídica:
posso apostar com você que até o fim do ano vão tentar prendê-lo; vai
depender da postura do STJ e do STF nos HCs pendentes”.
Ou seja: Moro precisa ter certeza
que não vai passar vergonha, mandando prender Lula, mas tendo sua decisão
revogada em 24 horas, num tribunal superior.
“Quais seriam os próximos passos,
antes do Lula?”
“Aí não é informação, mas
especulação minha e de vários advogados que atuam na Lava-Jato. Não é segredo.
Vão tentar prender o Dirceu ou o Palocci, primeiro, nas próximas semanas.
Depois vem o Lula.”
Reparem, leitores. A conversa com
esse advogado ocorreu na segunda quinzena de julho.
O penúltimo passo foi dado.
Dirceu está preso.
Não há mais teoria conspiratória,
pois.
Lembremos que Vargas, em 1954,
estava na iminência de ser preso pela República do Galeão, e por isso tomou a
medida extrema em 24 de agosto.
Espero que não caminhemos para o
mesmo desfecho. Politicamente, Vargas salvou o trabalhismo com um tiro no
peito. Foi o suicídio que salvou seu campo politico.
Dilma, até aqui, com sua inação,
de certa forma faz o caminho inverso. Preserva-se pessoalmente, mas leva todo o
campo político do lulismo e do trabalhismo para um suicídio político.
E Lula? A reação não pode mais
levar semanas, ou meses. Acordos “pelo
alto” (com a banca e a elite emprersarial) não vão adiantar. Vargas era
estancieiro, e foi pro cadafalso. Por que poupariam o metalúrgico nordestino?
Moro não vai parar. Ele é o
estado islâmico judicial.
O advogado, minha fonte, fala que
tentarão a prisão de Lula “até o fim do
ano”. Minha impressão é de que o relógio se acelerou.
Em 2015, o agosto terrível da
política pode cair em agosto mesmo. Mas também pode cair em setembro ou
outubro. Até lá, teremos um desfecho.
Créditos da foto: Wikimedia
Commons
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12