Um
bando de javalis ocupa o espaço onde homens viviam há três décadas
Mais
de 30 anos após acidente nuclear, estudo revela populações de cervos, javalis e
lobos
O
Globo - RIO — Em abril de 1986, uma explosão da Usina Nuclear de Chernobyl,
seguida por um incêndio, lançou grande quantidade de partículas radioativas na
atmosfera, no pior acidente nuclear da História. Por causa da radiação,
milhares de pessoas foram removidas de suas casas para nunca mais voltar.
Chernobyl, no Norte da Ucrânia, se transformou em uma cidade fantasma. E, sem a
presença humana, a natureza retomou o seu espaço.
Um
estudo publicado nesta segunda-feira na revista científica “Current Biology”
mostra que Chernobyl mais se parece com um parque de proteção ambiental que uma
zona de desastre. Sem humanos, bandos de alces, veados, cervos, javalis e lobos
são vistos perambulando entre ruas e construções abandonadas há três décadas. A
pesquisa demonstra empiricamente a resiliência da vida selvagem, mas também
pode ajudar na compreensão do impacto de longo prazo do desastre de Fukushima,
ocorrido em 2011, no Japão.
—
É muito provável que o número de animais selvagens em Chernobyl seja bem maior
agora do que antes do acidente — diz Jim Smith, da Universidade de Portsmouth,
no Reino Unido. — Isso não significa que a radiação é boa para a vida selvagem,
apenas que os efeitos da habitação humana, incluindo caça, agricultura e
desmatamento, são muito piores.
Estudos
realizados anteriormente nos 4.200 quilômetros quadrados da Zona de Exclusão de
Chernobyl apontavam efeitos dramáticos da radiação, com redução aguda nas
populações selvagens. As novas evidências, baseadas em dados censitários de
longo prazo, agora mostram que as populações de mamíferos se recuperaram.
O
número de alces, veados, cervos vermelhos e javalis dentro da zona de exclusão
é similar ao encontrado em quatro reservas naturais não contaminadas na região,
demonstram os pesquisadores. Já o número de lobos vivendo em Chernobyl é mais
de sete vezes maior do que o encontrado nesses parques protegidos.
“Esses
resultados demonstram pela primeira vez que, apesar dos efeitos potenciais da
radiação em animais, a Zona de Exclusão de Chernobyl suporta abundante
população de mamíferos cerca de três décadas após a exposição crônica à
radiação”, concluem os pesquisadores, que destacam ainda o aumento nas
populações de alces e javalis em Chernobyl num momento de queda em outras
regiões da ex-União Soviética.
Contagens
realizadas por helicóptero revelam a tendência de aumento das populações de
alces, veados e javalis entre um e dez anos após o acidente. Uma queda da
comunidade de javalis foi registrada em um ponto, mas relacionada a uma doença,
não à exposição à radiação.
—
Esses dados únicos mostram uma grande variedade de animais que prosperam a
poucos quilômetros de um grande acidente nuclear e ilustram a capacidade de
resistência dos animais selvagens quando livres das pressões humanas — disse
Jim Beasley, pesquisador da Universidade da Geórgia, nos EUA.
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