terça-feira, 6 de outubro de 2015

Sem humanos, vida selvagem prospera em Chernobyl

Um bando de javalis ocupa o espaço onde homens viviam há três décadas

Mais de 30 anos após acidente nuclear, estudo revela populações de cervos, javalis e lobos

O Globo - RIO — Em abril de 1986, uma explosão da Usina Nuclear de Chernobyl, seguida por um incêndio, lançou grande quantidade de partículas radioativas na atmosfera, no pior acidente nuclear da História. Por causa da radiação, milhares de pessoas foram removidas de suas casas para nunca mais voltar. Chernobyl, no Norte da Ucrânia, se transformou em uma cidade fantasma. E, sem a presença humana, a natureza retomou o seu espaço.

Um estudo publicado nesta segunda-feira na revista científica “Current Biology” mostra que Chernobyl mais se parece com um parque de proteção ambiental que uma zona de desastre. Sem humanos, bandos de alces, veados, cervos, javalis e lobos são vistos perambulando entre ruas e construções abandonadas há três décadas. A pesquisa demonstra empiricamente a resiliência da vida selvagem, mas também pode ajudar na compreensão do impacto de longo prazo do desastre de Fukushima, ocorrido em 2011, no Japão.

— É muito provável que o número de animais selvagens em Chernobyl seja bem maior agora do que antes do acidente — diz Jim Smith, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido. — Isso não significa que a radiação é boa para a vida selvagem, apenas que os efeitos da habitação humana, incluindo caça, agricultura e desmatamento, são muito piores.
 
Estudos realizados anteriormente nos 4.200 quilômetros quadrados da Zona de Exclusão de Chernobyl apontavam efeitos dramáticos da radiação, com redução aguda nas populações selvagens. As novas evidências, baseadas em dados censitários de longo prazo, agora mostram que as populações de mamíferos se recuperaram.

O número de alces, veados, cervos vermelhos e javalis dentro da zona de exclusão é similar ao encontrado em quatro reservas naturais não contaminadas na região, demonstram os pesquisadores. Já o número de lobos vivendo em Chernobyl é mais de sete vezes maior do que o encontrado nesses parques protegidos.

“Esses resultados demonstram pela primeira vez que, apesar dos efeitos potenciais da radiação em animais, a Zona de Exclusão de Chernobyl suporta abundante população de mamíferos cerca de três décadas após a exposição crônica à radiação”, concluem os pesquisadores, que destacam ainda o aumento nas populações de alces e javalis em Chernobyl num momento de queda em outras regiões da ex-União Soviética.
 
Contagens realizadas por helicóptero revelam a tendência de aumento das populações de alces, veados e javalis entre um e dez anos após o acidente. Uma queda da comunidade de javalis foi registrada em um ponto, mas relacionada a uma doença, não à exposição à radiação.


— Esses dados únicos mostram uma grande variedade de animais que prosperam a poucos quilômetros de um grande acidente nuclear e ilustram a capacidade de resistência dos animais selvagens quando livres das pressões humanas — disse Jim Beasley, pesquisador da Universidade da Geórgia, nos EUA.

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