Com a redução da lucratividade das petroleiras
imperialistas, a estratégia de disputar o controle das melhores reservas e
privatizar estatais se acelera.
Gilberto Cervinski* // www.cartamaior.com.br
Os trabalhadores da Petrobrás estão em greve
nacional contra a privatização da Petrobrás. Mais do que enfrentar o plano de
desinvestimento, a greve significa um enfrentamento ao capital internacional.
A decisão de privatização adotada pela atual
direção da Petrobrás é parte da estratégia e do jogo político que vem desde
antes das eleições presidenciais que teve a difícil vitória da Presidenta
Dilma.
O fato é que desde 2008 há uma crise mundial da
economia, que vem afetando principalmente os países centrais do capitalismo,
como Europa, Estados Unidos e Japão.
Baixo crescimento significa baixo lucro geral
gerado aos setores empresariais. Sem
perspectivas de retomada no curto prazo, a estratégia do capital é adotar
medidas para “ajustar” a retomada das taxas de lucratividade e principalmente
reajustar a distribuição do lucro. Neste momento do desenvolvimento do capital
aumentam as disputas intercapitalistas e principalmente, a ofensiva do capital
contra os trabalhadores para explorar mais e retomar suas taxas médias de
acumulação.
Os países centrais do capitalismo concentram a
maior parte da produção industrial, mas o quadro do último período apresentava
recessão industrial praticamente em todos, o que também representa a estagnação
do consumo mundial de petróleo. A região da OCDE teve queda de 8% no consumo
acumulado de petróleo desde a crise. Além disso, os países que mais consomem
petróleo praticamente não possuem reservas, necessitando importar grande parte
do petróleo e gás dos países produtores e detentores das reservas.
Petróleo e gás, como todos sabem, são a principal
base de matéria prima e de eletricidade para a indústria mundial. Significa que
preços altos elevam o custo de produção da indústria mundial e, portanto,
maiores dificuldades de superação da crise de realização de valor na indústria
do capitalismo central.
Sem perspectiva de solução da crise no curto prazo,
a estratégia dos países industrializados foi adotar medidas para elevar a
produção mundial de petróleo e gás e derrubar os preços mundiais. Estratégia
que também interessa aos sauditas, definidores de preços mundiais do petróleo,
e que colaboraram com a derrubada com claro interesse de eliminar concorrentes
e plantas mundiais de produção.
O preço alto do petróleo beneficia os países
produtores de petróleo com a apropriação significativa de riqueza, países
periféricos do capitalismo, desde a Venezuela, Rússia, Irã até a Arábia
Saudita.
A estratégia de redução nos preços mostrou
resultados a partir de meados de 2014, quando se verifica a queda do preço do
barril abaixo dos US$ 50, os quais seguem em baixa até os dias atuais. O que de
imediato causou redução na expectativa de lucratividade das empresas
petroleiras e consequente queda nas ações de cada petroleira.
Ao mesmo tempo que se estabelece uma contradição
maior no interior da indústria petroleira mundial, a derrubada dos preços
(petróleo, minérios e agrícolas) proporciona redução do custo de produção para
indústria mundial, beneficiando principalmente os países centrais, e também a
China, além dos países compradores de commodities, como EUA, Europa e Japão.
A energia é estratégica para o desenvolvimento do
capital, com papel de acelerar a produtividade do trabalho e a produção de
valor. Com a redução da lucratividade das petroleiras imperialistas - Chevron,
Exxon Mobil, Royal Dutch Shell, ConocoPhillips, BG Group, etc, a estratégia de
disputar o controle das melhores reservas e privatizar empresas estatais se
acelera.
É em meio a esta disputa mundial que se situam a
ofensiva e os ataques contra a Petrobrás e a legislação brasileira de petróleo,
principalmente a lei de partilha e a política que garante à Petrobrás ser
operadora única nas áreas de pré-sal, a política de conteúdo nacional, entre
outras.
O Brasil tem o que qualquer país central gostaria
ter, as reservas do pré-sal e a Petrobrás. Com o pré-sal, o Brasil coloca-se
entre as maiores reservas mundiais de petróleo, provavelmente a 3ª. E a
Petrobrás, além de ter a melhor tecnologia de produção em áreas profundas, é
uma empresa que concentra 92% da produção brasileira de petróleo, é controlada
pelo Estado e todo seu mercado é nacional. Além do que, houveram avanços
importantes nas leis do petróleo na última década para o bem do povo
brasileiro, deixando o imperialismo ainda mais insatisfeito.
O interesse principal é do capital internacional,
petroleiras privadas dos países centrais e dos bancos internacionais de
especulação, que possuem fortes aliados internos em nosso país, que jogam como
marionetes, e que vão desde o parlamento, mídia, judiciário e até setores do
governo.
É neste jogo político, em meio a derrubada dos
preços mundiais do petróleo que aumentaram os ataques contra a Petrobrás.
Momento que coincidia com a mais dura luta eleitoral ao posto de presidente. O
capital apostava que ali ganhariam.
Basta relembrar a ofensiva do judiciário brasileiro
e estadunidense casado com os episódios da PricewaterhouseCoopers (PwC), a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Securities and Exchange Commission
(SEC) para a assinatura e a publicação do balanço auditado da Petrobrás.
Chantagens e mais chantagens. É nesta ofensiva em várias frentes de ataque que
impuseram ao governo uma mudança de diretoria na Petrobrás, obrigando colocar
pessoas do “mercado”.
O “mercado”, rentistas, criaram uma crise política
e inicialmente impuseram “Levy” para adotar uma política econômica rentista,
privatista e de “ajuste” que beneficia o capital financeiro e retira os ganhos
que a classe trabalhadora teve nos últimos 12 anos.
No mesmo jogo, logo em seguida, é escolhido
“Bendine” como presidente da Petrobrás e o presidente da “Vale” para presidir o
Conselho de Administração da Petrobrás juntamente com outros representantes do
“mercado” – um conselho da mais importante empresa estatal passa então a ser
presidido por um representante de uma empresa privada, privatizada por FHC em
um dos maiores escândalos de privatização da era tucana.
Desta nova direção de mercado, que surge o plano de
“desinvestimento”, que significa um plano de privatização da Petrobrás e
prioridade de atender aos interesses do “mercado”, interesses do capital
financeiro internacional.
A partir disso, federações industriais, analistas,
fundos e bancos internacionais diariamente passaram a publicar estudos e
análises do quanto “vale” e o que deve ser “vendido”.
Enquanto o preço internacional do petróleo estava
acima de U$ 100/barril a área de produção de petróleo era a mais lucrativa.
Agora com o preço abaixo de U$ 50/barril a lucratividade é garantida na outra
ponta, e é esta que o capital quer privatizar. Assim como ocorreu na energia
elétrica.
Portanto, o plano de desinvestimento é parte de uma
estratégia do capital para uma futura privatização completa de áreas
estratégicas da Petrobrás. Estratégia de “ajuste” que terá como principal
beneficiado o capital internacional e quem sairá perdendo é o povo brasileiro.
A greve que os trabalhadores e trabalhadoras da
Petrobrás estão fazendo, é em defesa da soberania nacional, contra a
privatização e a entrega do petróleo ao imperialismo. É uma greve de
enfrentamento ao capital internacional especulativo, basta ver as principais
manchetes dos jornais e os relatórios dos fundos e bancos internacionais (HSBC,
J.P.Morgan, Bovespa, Bank of America Merrill Lynch, etc) cobram claramente do
governo ações mais duras contra os grevistas, para não colocar em risco o plano
de “desinvestimento”.
Uma greve em defesa do povo brasileiro e do Brasil.
Os setores populares e sindicais não podem ter nenhuma dúvida de que lado devem
estar. Não se trata de greve contra o governo, pelo contrário, é uma greve em
defesa de todos os trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. Abrir mão da
soberania energética certamente causará muito mais sacrifícios futuros ao povo
brasileiro. Defender a Petrobrás é defender o Brasil, por isso a sociedade deve
apoiar a greve e lutar contra a privatização.
Gilberto Cervinski
*Dirigente nacional do MAB – Movimento dos
Atingidos por Barragens
Créditos da foto: Petrobras
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