O aprofundamento da recessão abala a sustentação do
governo. Apesar disso, o Partido não consegue se unificar em torno de mudanças
na condução da economia
Jeferson
Miola // www.cartamaior.com.br
É bastante incômoda a situação do PT diante da
instabilidade política e da crise econômica que o governo enfrenta. Dois
personagens - Eduardo Cunha e Joaquim Levy - ampliam os impasses e as
dificuldades enfrentadas pelo Partido nessa conjuntura.
A alta sensibilidade do momento complica o
posicionamento partidário. E também sujeita o Partido a contradições que,
fossem tempos e condições normais de legitimidade e de força política, ele não
estaria obrigado a se sujeitar.
Por mais gritantes que sejam as denúncias com evidências
do envolvimento de Eduardo Cunha no esquema de corrupção na Petrobrás, o PT não
consegue se posicionar de maneira clara. E por que isso acontece? Porque o
presidente da Câmara dos Deputados usa a prerrogativa constitucional para
instalar o procedimento de impeachment como arma de chantagem contra a
presidente Dilma, mesmo que inexistam fatos determinados que autorizem o início
do processo.
Há uma ameaça concreta, no Brasil, de regressão dos
valores jurídicos e democráticos consignados na Constituição de 1988 e, em
lugar deles, a adoção de parâmetros típicos de regimes de exceção. Neste
panorama, o “impeachment sem causa” defendido pelo condomínio
policial-jurídico-midiático de oposição, é o equivalente do golpe
“institucional” [sic] tentado sem êxito no passado recente em alguns países da
região e aplicado com eficiência em Honduras [2009] e no Paraguai [2012].
Para transitar neste ambiente de governabilidade
instável, o PT é contingenciado a agir como um “autista político”; como um
Forrest Gump da Câmara dos Deputados. E, com isso, vê degradar sua imagem
perante a base partidária e social, que anseia por respostas éticas
contundentes, capazes de contrarrestar a desmoralização construída
midiaticamente contra o PT em razão dos desvios cometidos por alguns petistas.
No enfrentamento da crise econômica, a contradição
não é menor; em relação a ela o PT vive outro drama existencial. O ajuste em
andamento agrava os efeitos deletérios sobre o emprego e sobre a população
menos favorecida.
Os índices de inflação e de desemprego escalam as
alturas e atingem quase o dobro em relação ao patamar de um ano atrás. A
paralisia da atividade econômica bloqueia o orçamento público com a perda de
dezenas de bilhões de reais de arrecadação, comprometendo os avanços sociais e
o financiamento do desenvolvimento do país.
O aprofundamento da recessão abala a legitimidade e
a sustentação do governo. O problema é que, persistindo esta tendência, os
trinta e poucos por cento das intenções de voto que o Lula tem hoje, em breve
poderão se aproximar dos 8% do governo.
Mas, apesar disso, o Partido não consegue se
unificar em torno de um posicionamento claro sobre a necessidade de mudanças na
condução da economia.
E por que isso acontece? Supostamente, pelo temor
com a reação do “deus-Mercado” que, com ira implacável, devastará o país caso
contrariado nos seus dogmas intoxicantes. Além disso, se o PT não apóia de
maneira uníssona a política econômica do Levy e ainda questiona sua
continuidade no cargo, o que obrigaria os demais aliados do governo a fazê-lo?
O PT se considera obrigado a trajar as mesmas
camisas-de-força que aprisionam o governo. Neste jogo de perdas acentuadas e de
ganhos modestos, o PT calcula que a preservação do mandato da presidente Dilma
é o ativo precioso a ser preservado, custe o que custar.
O tempo dirá como o PT se sairá desta situação
complexa. O Partido está metido numa enrascada e tanto, e a fórmula pra sair do
labirinto não esta à venda no armazém da primeira esquina.
Créditos da foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Nenhum comentário:
Postar um comentário