500 mil dólares: este é o financiamento estrangeiro
à oposição, cujo único fim é criar um imaginário de fraude eleitoral através do
terrorismo midiático.
Álvaro Verzi
Rangel* // www.cartamaior.com.br
A Unasul já começou os trabalhos de acompanhamento
das eleições parlamentares da Venezuela, no dia 6 de dezembro, feito por
especialistas de onze países, encabeçados pelo ex-presidente dominicano Leonel
Fernández. Apesar desses esforços, a oposição continua clamando pela ingerência
de políticos e observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA), da
União Europeia e de ex-presidentes conservadores não só da América Latina.
Mas o interesse não é só dos membros da coalizão
direitista Mesa de Unidade Democrática (MUD), que aglutina os setores da
oposição. A necessidade de criar um imaginário de fraude eleitoral – como vem
se repetindo em cada fracasso nas urnas – vem do Norte, e tem um amplo
financiamento germano-estadunidense.
No dia 29 de setembro, a sede do Comitê de Relações
Internacionais da MUD foi palco de uma reunião sigilosa, com o objetivo de
coordenar com diferentes ONGs internacionais a presença de “observadores”
especiais vindos de outros países.
Outro ponto abordado nessa reunião foi a
necessidade da oposição venezuelana de receber maior apoio financeiro, que
permita desenvolver maiores e melhores ações, além do dinheiro necessário para
alimentar as campanhas dos candidatos, para maior publicidade e mobilização de
eventos, que visam não só promover a oposição como trabalhar na deterioração da
imagem do governo nacional e internacionalmente – e para isso os fundos sempre
estão disponíveis.
Embora os principais líderes da MUD se encontrassem
no recinto, o encontro foi dirigido por Eduardo Semtei e Lilian Tintori, a
esposa de Leopoldo López.
Também estavam presentes os “patrocinadores
convidados”, os financiadores estrangeiros da desestabilização: Henning Suhr,
representante da Fundação alemã Konrand Adenauer na Venezuela, Lee Mclenny, encarregado
de negócios da Embaixada dos Estados Unidos em Caracas, e Samuel David Sipes,
funcionário do escritório político da mesma sede diplomática, e sucessor de
Phililp Laidlaw na direção da sede da CIA na capital venezuelana.
Os opositores venezuelanos e os financiadores
alemães e estadunidenses concordaram em promover a presença de mais de 200
observadores membros das fundações alemãs Adenauer e Frederick Ebert, da
Internacional Socialista (social-democrata), da União Europeia e da Federação
Interamericana de Advogados (FIA) – tais organismos não são reconhecidos pelas
autoridades eleitorais da Venezuela. Além desses grupos, também seriam trazidos
ao país grupos de parlamentares e ex-presidentes da região, talvez alguns
intelectuais – todos ultradireitistas.
O essencial neste encontro foi desenhar a
estratégia para que os observadores dessas ONGs selecionadas pudessem ter
acesso ao processo eleitoral, segundo o mecanismo pelo qual os partidos
políticos podem convidar alguns dos observadores, os quais o Conselho Nacional
Eleitoral (CNE) chama de “acompanhadores do processo”.
A missão principal dessa manobra, segundo explicou
Semtei, é conseguir que a campanha midiática internacional pressione o governo
para aceitar a observação eleitoral de diferentes atores internacionais,
capazes de semear uma matriz de opinião que reflita a possibilidade de uma
fraude.
Os financiadores pedem ordem
As conclusões da reunião não ficaram nas mãos dos
dirigentes da MUD. Se tornaram missões encarregadas a Suhr, Mclenny e Sipes,
que deram prioridade e à necessidade imediata de que a oposição alcance uma
maior organização sobre os diversos projetos e ações previstas para os dias
prévios, para o dia das eleições e também para as jornadas posteriores.
Conscientes de que para pedir ordem deveriam
mostrar seu poder de persuasão, os patrocinadores convidados falaram na
distribuição de meio milhão de dólares como apoio solidário, para serem
distribuídos através de transferências bancárias, provenientes principalmente
desde a Alemanha, passando por contras já existentes na República Dominicana,
em Curaçau e nos Estados Unidos.
A divisão, dólar por dólar
A tabela de distribuição dos fundos foi apresentada
no final da reunião: de um total de 500 mil dólares, cerca de 91 mil seriam
destinados ao apoio aos candidatos opositores nas eleições parlamentares,
fundamentalmente naqueles circuitos onde existem maiores possibilidades de
abstenção e muitos eleitores indecisos. Timoteo Zambrano, coordenador de
assuntos internacionais da MUD, foi quem assumiu o compromisso de administrar
sua distribuição.
Outros 98 mil dólares foram investidos no lobby
internacional através de viagens, conferências, pronunciamentos e encontros com
representantes dos governos. Obviamente, essa verba será controlada pela esposa
pop star de López, Lilian Tintori, para turnês na Europa (Espanha, Bélgica e
Suíça) e na América Latina (Uruguai, Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile). Os patrocinadores convidados também investiram 32 mil dólares para a
promoção a grande escala de projetos, conferências, entrevistas (televisão,
publicidade digital, rádio, redes sociais), assim como encontros com figuras de
realce internacional, para o qual se destinaram mais 35 mil dólares.
Para o apoio logístico e a preparação da imagem
para as eleições parlamentares serão usados 30 mil dólares, cifra que alguns
dirigentes da MUD consideraram baixa.
Um montante de 50 mil dólares será para a campanha
em favor da liberação dos que eles qualificam como presos políticos
venezuelanos e contra as supostas violações de direitos humanos contra eles –
dos quais, cerca de 20 mil irão para os meios jornalísticos audiovisuais,
gráficos e portais cibernéticos, e quem os administrará é o diretor do diário
El Nacional, Miguel Enrique Otero.
O acordo também prevê uma maior ênfase na figura de
Leopoldo López durante a campanha, tarefa para a qual estarão comprometidos os
demais 30 mil dólares, para garantir que não faltarão as ferramentas
necessárias, como telefones, tablets, laptops, baterias e outros equipamentos.
Financiar a subversão
Mas a maior cifra, cerca de 250 mil dólares, serão
para o desenvolvimento de projetos, programas, cursos de capacitação que
abordem temas de liderança juvenil, governabilidade social, sociedade civil e
diretos humanos. Para isso, se selecionou um grupo de ONGs na Venezuela,
encarregadas de estruturar as redes necessárias para inserir neste plano
subversivo os setores juvenis, estudantis e demais, capazes de mobilizar a
“sociedade civil” para enfrentar o governo.
Dessa verba, cerca de 24 mil dólares foram
entregues à Rede Venezuelana de Organizações para o Desenvolvimento Social
(Redsoc), 26 mil para as atividades da ONG Anistia Internacional Venezuela e 20
mil para e a Corporação Venezuelana de Televisão (Venevisión), especializada em
campanhas de degradação do governo.
Mas há outros beneficiários: 18 mil foram para o
Centro de Divulgação do Conhecimento Econômico para a Liberdade (Cedice) e 38
mil para fortalecer o acionar dos jovens do Centro de Diritos Humanos da
Universidade Católica Andrés Bello.
Na lista divulgada no dia 29 de setembro, 22 mil
dólares foram destinados para a promoção do trabalho da Fundação Reflexos da
Venezuela, 17 mil para incrementar o trabalho realizado pela ONG Transparência
Venezuela, além de 16 mil para os jesuítas da Fundação Centro Gumilla.
Ainda assim, 34 mil dólares serão para o trabalho
da ONG Venezuela Diversa, e outros 22 mil para continuar com a capacitação de
jovens através do Programa Venezuelano de Educação (Provea). Finalmente, 22 mil
a mais para assegurar o apoio da associação civil Controle Cidadão, “para a
segurança, a defesa e a força armada nacional”.
Essas são as cifras do financiamento estrangeiro à
oposição, cujo único fim é a desestabilização do país, e criar um imaginário de
fraude eleitoral através do terrorismo midiático cartelizado.
*Sociólogo, investigador do Observatório da
Comunicação e da Democracia.
Tradução: Victor Farinelli
Créditos da foto: Dorwis Gómez / Flickr
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