É uma exigência democrática - e
não só jurídica - que os US$100 milhões de propina não sejam abafados pelo
condomínio policial-jurídico-midiático
Jeferson Miola // www.cartamaior.com.br
Um fato de alta significação
política e judicial foi guardado em segredo pelo Ministério Público Federal
[MP].
Nestor Cerveró, um dos
ex-diretores corruptos da Petrobrás, em depoimento prestado ao MP em outubro de
2015, revelou que o governo FHC recebeu 100 milhões de dólares de propina por
negócios feitos na Argentina em 2002.
É perturbador lembrar que este mesmo
depoimento do Cerveró, quando vazou naquela época, selecionou a parte que
incriminava o governo Dilma, mas ocultou a revelação do esquema de corrupção
implantado na Petrobrás pelo governo do PSDB. Isto deixa clara a partidarização
e a seletividade do vazamento.
Esta nova denúncia de propina no
período dos governos tucanos foi desvendada de maneira acidental. A descoberta
só foi possível porque cópia do depoimento de Cerveró ao MP, que teoricamente
seria protegido por segredo de justiça, foi encontrada junto com os documentos
apreendidos no escritório do senador Delcídio Amaral. É difícil saber se, não
fosse esta circunstância acidental, algum dia o assunto viria à tona.
Como Delcídio conseguiu obter o
depoimento de Cerveró é uma incógnita, e merece rigorosa apuração. E por que o
senador, que foi diretor da Petrobrás nomeado por FHC no governo tucano, não
denunciou as propinas pagas ao governo tucano, está longe de ser um
mistério.
Ocultar um crime pode ser
considerada uma ação tão grave quanto o crime cometido. É difícil acreditar que
autoridades que dizem conduzir as investigações da Lava Jato com diligência e
preciosismo processual, tenham prevaricado. O MP, a PF e os juízes coordenados
por Sérgio Moro certamente dissiparão qualquer dúvida de que não agem com
parcialidade e seletividade para incriminar os governos do PT.
É uma exigência democrática – e
não só jurídica – que este crime não seja abafado pelo condomínio
policial-jurídico-midiático de oposição, como foram abafadas todas as denúncias
anteriores que revelaram a origem da corrupção na Petrobrás nos governos do FHC
e do PSDB.
Faria bem à democracia brasileira
se nossa sociedade recebesse sinais claros das “autoridades justiceiras” que
coordenam a Lava Jato – os procuradores do MP, os policiais da PF e os juízes
do Judiciário – de que serão instalados inquéritos para apurar toda a corrupção
do país, e não só a parte que convém politicamente apurar – justamente aquela
que ataca adversários ideológicos.
Quando a Ordem Jurídica de um
país é quebrada pelo casuísmo processual unicamente para perseguir inimigos, a
República é derrotada, e então cede lugar a um “Regime”. Na Alemanha dos anos
1920 e 1930, o nacional-socialismo magnetizou a sociedade alemã com o Regime
defensor dos ideais da raça pura, intolerante, odiosa, de olhos azuis,
domiciliada em Higienópolis e adestrada na USP.
O Brasil, afinal, chegou ao
século 21. Seria penoso regressarmos àqueles tempos arcaicos em que existia um
Engavetador-Geral da República obediente ao Príncipe e sua corja; em que a
Polícia Federal era desmantelada e adestrada para não investigar. Naqueles
tempos, enfim, em que a Suprema Corte tinha a representação de um líder do
governo do Príncipe.
Créditos da foto: reprodução
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