Extrato do texto de TEREZA CRUVINEL, NO http://www.brasil247.com/
Em agosto do ano passado, quando José Dirceu foi preso às
vésperas do protesto do dia 16 daquele mês contra Dilma e o governo, a
narrativa fez uma forte inflexão. Registramos neste blog, no dia 25 de
agosto: “Lava Jato muda narrativa para
chegar a Lula”. Falando sobre a 17ª.
Fase, em que Dirceu foi preso, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, porta voz mais frequente do
comando de Curitiba, afirmou repetidas vezes em relação a Dirceu:
"Chegamos a um dos líderes principais, que instituiu o esquema, permitiu
que ele existisse e se beneficiou dele". E estabeleceu a comparação com o
mensalão de 2005: “O DNA é o mesmo: compra de apoio político”. Com muita insistência afirmou que o esquema
“teve início no governo Lula” e perguntado se o ex-presidente também seria
investigado respondeu: "nenhuma
pessoa no regime republicano está isenta de ser investigada". A frase
inteira em que ele responsabiliza Dirceu foi claramente insinuante: "Não descarto que existam outros
cabeças mas chegamos a um dos líderes principais, que instituiu o esquema,
permitiu que ele existisse e se beneficiou dele".
Vieram as outras fases.
A Odebrecht foi a única empreiteira que, mesmo tendo seu principal executivo e
herdeiro preso, recusou-se a fazer acordo de delação. Nas fases seguintes, não
foram encontradas provas de que Lula era “o outro cabeça” ou a principal cabeça
do esquema Petrobrás. Ele então começou a ser investigado pelas obras no sítio
de Atibaia e por reformas no apartamento que não chegou a comprar. Dava no
mesmo, ou quase.
O cerco a Lula foi se fechando ao mesmo tempo
que o Congresso avançava contra Dilma com o impeachment. Quando ela chama Lula
para ajuda-la a resistir e a soerguer o governo, e o nomeia ministro, Moro dá o tiro de escopeta da divulgação
ilegal dos grampos. Foi aí que a narrativa começou a sair dos trilhos. Moro
expôs-se mais que o devido, para além do previsto no script.
A base social de Lula e do PT também foi às
ruas. A consciência jurídica manifestou-se contra o impeachment por razões
políticas, que assim sendo, ganha outro nome, como disse Renan Calheiros. O
nome de golpe.
E para completar, com a
operação Xepa invadindo suas sedes em várias cidades, a Odebrecht informa em
nota que está disposta a fazer uma “colaboração definitiva” sobre fatos que se
relacionam com a existência “de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento
do sistema partidário-eleitoral”. Opa, de um sistema? Na narrativa original
estava escrito “um partido”.
E começa o vazamento da
lista com mais de 300 nomes do “sistema” que receberam dinheiro da empreiteira.
Doações legais ou ilegais? Não importa, pois as doações das empreiteiras ao PT
não são consideradas como “propinas”.
O “sistema”, segundo a
lista, é antigo, remonta aos anos 1980. Opa, isso contradiz o procurador que afirmou
sem sombra de dúvida que ele “foi instituído no governo Lula”.
O Ministério Público
então avisa que não tem interesse pela delação da Odebrecht. Ela poderia ser um
tiro fatal na narrativa.
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