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Jornal GGN - A entrada do novo ministro da Justiça, Wellington Cesar Lima e Silva, ex-procurador de Justiça do Ministério Público da Bahia, com comprovada experiência na intermediação com polícias, provocou insatisfação entre editoriais desta terça-feira (01) e representantes da própria Polícia Federal.
Diante do contexto da saída de José Eduardo Cardozo, duramente criticado por setores do PT por não intervir em abusos da PF nas investigações da Operação Lava Jato, e com a notícia de que Wellington, apesar de ter boa passagem entre procuradores e o próprio PGR Rodrigo Janot, foi uma indicação do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, para conter os desmandos, a PF mostrou-se "preocupada" com a decisão, por meio da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal.
Em nota oficial, os delegados disseram que recebiam "com extrema preocupação a notícia da iminente saída do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em razões de pressões políticas para que controle os trabalhos da Polícia Federal". "Os Delegados Federais reiteram que defenderão a independência funcional para a livre condução da investigação criminal e adotarão todas as medidas para preservar a pouca, mas importante, autonomia que a instituição Polícia Federal conquistou", completaram.
Na manifestação, pediram "o apoio do povo brasileiro para defender a Polícia Federal", alegando que "nesse cenário de grandes incertezas, se torna urgente a inserção da autonomia funcional e financeira da PF no texto constitucional".
Além da nota oficial, o presidente da ADPF, Carlos Eduardo Miguel Sobral, concedeu entrevista afirmando que a saída de Cardozo "disparou o alarme" na organização. "Eu não tenho nenhuma dúvida de que qualquer tentativa do novo ministro de intervir na Polícia Federal vai gerar uma crise institucional sem precedentes no Brasil. A instituição não vai aceitar isso. O Ministério Público Federal não vai aceitar. Mas, sobretudo, a sociedade brasileira não aceitará", disse ao Financista.
Na entrevista, o delegado disse que a Associação enxerga a mudança "com muita preocupação" e cobrou do novo ministro "garantias claras, logo em seus primeiros dias, de que vai preservar a autonomia da PF e apoiá-la".
Mas não foi apenas a Polícia Federal que "ficou em alerta". Editoriais de O Globo, reportagens do Estadão e da Folha de S. Paulo também criticaram a entrada de Wellington Cesar Lima e Silva, como escolha da presidente Dilma Rousseff para tratar da tensão nas autoridades com as investigações da Lava Jato.
O colunista Merval Pereira, de O Globo, protestou contra a saída de Cardozo, que "por clara pressão do PT, arma-se uma crise institucional". Interpretando que a mudança de ministro afetará a independência da PF, Merval disse que, politicamente, vai ser difícil tentar manipular a organização, apesar de temer um corte de recursos que inviabilize as principais operações, sobretudo a Lava Jato - fomentando a principal alegação dos delegados para não cortar os custos da Instituição.
Além do blogueiro, o próprio editorial do jornal dá um aviso a Wellington Cesar: "São nítidos os limites do ministro da Justiça", adianta no título. "Saída de Cardozo do ministério, por pressão lulopetista, alerta para o risco da tentativa de intervenção em operações da PF, com objetivos espúrios", completa o primeiro parágrafo.
O editorial vai além. Afirma que se o novo ministro da Justiça "for leniente, será centro de novo escândalo, também com repercussões internacionais. Porque não seria notícia trivial que o PT conseguiu induzir o novo ministro da Justiça de Dilma a manietar a PF, num caso acompanhado de perto pela grande imprensa estrangeira", diz o jornal.
Também alfineta o ponto frágil da presidente Dilma Rousseff, de tentar em sua gestão mostrar mudanças em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem, contudo, afastar-se das bases do partido. O Globo ameaça: "a última palavra terá de ser de Dilma, sobre se ela aceita correr o risco de ser considerada um fantoche de Lula para abafar investigações da PF".
Mais discretas, as reportagens do Estadão passam o recado em terceira pessoa: "‘Não seja marionete’, sugere delegado da PF a novo ministro da Justiça". "Edson Garutti, diretor regional da Associação dos Delegados em São Paulo, avalia que sucessor de José Eduardo Cardozo não deve chegar pensando em controlar as investigações: 'o ministro tem que saber seu papel, fortalecer as instituições'", completa o jornal.
Ainda em outra matéria, o Estado de S. Paulo publicou que o substituto de José Eduardo Cardozo poderia nomear um novo diretor da PF, entrando na linha de que Wellington faria uma reforma estrutural. Ao mesmo tempo, relacionou a mudança de ministro com uma publicação de Jaques Wagner, quem indicou Wellington, no Facebook: "O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, usou as redes sociais nesta segunda-feira, 29, para fazer uma defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ressaltar que as denúncias envolvendo o nome de Lula são 'injustas'", publicou o jornal, indicando uma suposta indireta ao ministro.
Apesar de a presidente Dilma Rousseff afirmar que o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, permanecerá em seu cargo e que não mudará com a entrada do novo ministro, a Folha de S. Paulo preferiu mencionar um "por ora" na notícia: "Leandro Daiello, diretor-geral da Polícia Federal, deve continuar por ora à frente da corporação, apesar da troca do ministro da Justiça, chefe administrativo da polícia. A saída de José Eduardo Cardozo colocou em risco a permanência de Daiello em seu cargo", descreveu o jornal.
Já o Painel da Folha encontrou na ruptura entre a presidente Dilma Rousseff e o PT o meio-fio para interpretar o cenário de mudanças dos ministros. Mas garantiu a previsão: "Ninguém tem hoje poder de segurar a Operação Lava Jato".
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