terça-feira, 15 de março de 2016

BRASÍLIA: CAPITAL DE REACIONÁRIOS?

Mito
Ele, o ídolo da classe média de Brasília?

Nonato Menezes - Brasília, 13 de março de 2013. Mais ou menos 100.000 pessoas reunidas na Esplanada dos Ministérios. Em torno de 4,5% da população total do Distrito Federal. Talvez 100% de classe média. Pressupõe-se que todos instruídos, possivelmente a maioria com nível superior.

Essa multidão não foi à Esplanada para um evento cultural, para aplaudir uma boa intérprete, nem para ouvir uma boa música. Ela foi para uma manifestação política, convocada pela Rede Globo de Televisão.

Ter atendido ao chamamento da Globo, por si, é um escárnio. Orientados pelos motivos da Famígliga Marinho, chega a ser patético.

Imagine pessoas instruídas, bem alimentadas, sem carências básicas, aceitarem a convocação de uma emissora que sonega impostos, que sua História tem raízes, caule, folhas e frutos na Ditadura civil-militar, que tem em seu DNA a instabilidade institucional, que é golpista às claras e vive a lamber as botas do império! Só imagine que tipo gente é essa!

Agora, imagine se o motivo que tocou corações e mentes daquela manada foi o que tanto a Globo diz ser contra: a corrupção!

Ora, ora, ora! A Globo contra a corrupção? Só imagine!

Então, deixemos os motivos de lado e cuidemos das lideranças que lá estavam.

A mais tietada, a que foi ovacionada e brindada com laivos de esperança, foi ele mesmo: o fascista Jair Bolsonaro.

O “incorruptível” que é citado nas mutretas de Furnas e protegido pela Operação vaza-ajato. O que está na lista dos mais faltosos nos trabalhos da Câmara Federal e tido como o mais truculento com seus pares, sobretudo, com as mulheres. Característica indelével dos covardes.

Mas o ídolo de parte da classe média de Brasília é muito mais que isto. Seus pensamentos e sua maneira de agir podem ser entendidos a partir de algumas frases por ele proferidas. Eis algumas pérolas e suas motivações.

1. “O erro da ditadura foi torturar e não matar.” (Jair Bolsonaro, em discussão com manifestantes)

2. “Pinochet devia ter matado mais gente.” (Bolsonaro sobre a ditadura chilena de Augusto Pinochet. Disponível na revista Veja, edição 1575, de 2 de Dezembro de 1998 – Página 39)

3. “Seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí.” (Jair Bolsonaro em entrevista sobre homossexualidade na revista Playboy)

4. “Não te estupro porque você não merece.” (Jair Messias Bolsonaro, para a deputada federal Maria do Rosário)

5. “Eu não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados” (Bolsonaro para Preta Gil, sobre o que faria se seus filhos se relacionassem com uma mulher negra ou com homossexuais)

6. “A PM devia ter matado 1.000 e não 111 presos.” (Bolsonaro, sobre o Massacre do Carandiru)

7. “Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater.” (Afirmação de Jair Bolsonaro após caçoar de FHC sobre este segurar uma bandeira com as cores do arco-íris)
8. “Você é uma idiota. Você é uma analfabeta. Está censurada!”. (Declaração irritada de Jair Bolsonaro ao ser entrevistado pela repórter Manuela Borges, da Rede TV. A jornalista decidiu processar o deputado após os ataques)

9. “Parlamentar não deve andar de ônibus”. (Declaração publicada pelo jornal O Dia em 2013)

10. “Mulher deve ganhar salário menor porque engravida” (Bolsonaro justificou a frase: “quando ela voltar [da licença-maternidade], vai ter mais um mês de férias, ou seja, trabalhou cinco meses em um ano”)

Agora, imagine aplaudir e depositar esperança numa criatura que pensa assim! Só imagine!

Para finalizar, conto-lhes um ocorrido em minhas andanças por este Brasil maravilhoso.

Era 2010, ano de inquietação política em Brasília. Tempo de “Caixa de Pandora.” Motivo forte para se ouvir gracinhas e piadas, nos passeios de carro, com placa de Brasília.

Foi o que aconteceu comigo numa cidade do interior da Bahia.

Havia acabado de estacionar, aproxima-se um moço de seus quarenta e tantos anos, sorrindo, sem nem um boa tarde, foi logo perguntando: - então, o senhor é da cidade dos ladrões?

Como fui pego de surpresa e não tinha uma resposta pronta; parei, pensei um pouco e “lasquei”: - se o senhor está se referindo ao número de congressistas, há um engano; Brasília só tem nove, enquanto a Bahia tem 40, sendo 39 deputados e um senador.

Silêncio!

E ele: - são 40, é? Sim, são! Respondi.

 Ele saiu. Nem boa tarde deu.

E agora, se me perguntarem: o senhor é da cidade que 100 mil pessoas aplaudiram o Bolsonaro?


Por enquanto, só tenho uma resposta: não moro no Plano Piloto, nem em Águas Claras.

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