Ele, o ídolo da classe média de Brasília?
Nonato Menezes - Brasília, 13 de março de 2013. Mais
ou menos 100.000 pessoas reunidas na Esplanada dos Ministérios. Em torno de 4,5%
da população total do Distrito Federal. Talvez 100% de classe média.
Pressupõe-se que todos instruídos, possivelmente a maioria com nível superior.
Essa multidão não foi à Esplanada
para um evento cultural, para aplaudir uma boa intérprete, nem para ouvir uma
boa música. Ela foi para uma manifestação política, convocada pela Rede Globo
de Televisão.
Ter atendido ao chamamento da
Globo, por si, é um escárnio. Orientados pelos motivos da Famígliga Marinho,
chega a ser patético.
Imagine pessoas instruídas, bem
alimentadas, sem carências básicas, aceitarem a convocação de uma emissora que
sonega impostos, que sua História tem raízes, caule, folhas e frutos na Ditadura
civil-militar, que tem em seu DNA a instabilidade institucional, que é golpista
às claras e vive a lamber as botas do império! Só imagine que tipo gente é
essa!
Agora, imagine se o motivo que
tocou corações e mentes daquela manada foi o que tanto a Globo diz ser contra:
a corrupção!
Ora, ora, ora! A Globo contra a
corrupção? Só imagine!
Então, deixemos os motivos de
lado e cuidemos das lideranças que lá estavam.
A mais tietada, a que foi
ovacionada e brindada com laivos de esperança, foi ele mesmo: o fascista Jair
Bolsonaro.
O “incorruptível” que é citado
nas mutretas de Furnas e protegido pela Operação vaza-ajato. O que está na
lista dos mais faltosos nos trabalhos da Câmara Federal e tido como o mais
truculento com seus pares, sobretudo, com as mulheres. Característica indelével
dos covardes.
Mas o ídolo de parte da classe
média de Brasília é muito mais que isto. Seus pensamentos e sua maneira de agir
podem ser entendidos a partir de algumas frases por ele proferidas. Eis algumas
pérolas e suas motivações.
1. “O erro da ditadura foi torturar e não matar.” (Jair Bolsonaro, em
discussão com manifestantes)
2. “Pinochet devia ter matado mais gente.” (Bolsonaro sobre a ditadura
chilena de Augusto Pinochet. Disponível na revista Veja, edição 1575, de 2 de
Dezembro de 1998 – Página 39)
3. “Seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho meu
morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí.” (Jair Bolsonaro
em entrevista sobre homossexualidade na revista Playboy)
4. “Não te estupro porque você não merece.” (Jair Messias Bolsonaro,
para a deputada federal Maria do Rosário)
5. “Eu não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados”
(Bolsonaro para Preta Gil, sobre o que faria se seus filhos se relacionassem
com uma mulher negra ou com homossexuais)
6. “A PM devia ter matado 1.000 e não 111 presos.” (Bolsonaro, sobre o
Massacre do Carandiru)
7. “Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se
beijando na rua, vou bater.” (Afirmação de Jair Bolsonaro após caçoar de
FHC sobre este segurar uma bandeira com as cores do arco-íris)
8. “Você é uma idiota. Você é uma analfabeta. Está censurada!”.
(Declaração irritada de Jair Bolsonaro ao ser entrevistado pela repórter
Manuela Borges, da Rede TV. A jornalista decidiu processar o deputado após os
ataques)
9. “Parlamentar não deve andar de ônibus”. (Declaração publicada pelo
jornal O Dia em 2013)
10. “Mulher deve ganhar salário menor porque engravida” (Bolsonaro
justificou a frase: “quando ela voltar [da licença-maternidade], vai ter mais
um mês de férias, ou seja, trabalhou cinco meses em um ano”)
Agora, imagine aplaudir e
depositar esperança numa criatura que pensa assim! Só imagine!
Para finalizar, conto-lhes um
ocorrido em minhas andanças por este Brasil maravilhoso.
Era 2010, ano de inquietação política
em Brasília. Tempo de “Caixa de Pandora.” Motivo forte para se ouvir gracinhas
e piadas, nos passeios de carro, com placa de Brasília.
Foi o que aconteceu comigo numa
cidade do interior da Bahia.
Havia acabado de estacionar,
aproxima-se um moço de seus quarenta e tantos anos, sorrindo, sem nem um boa
tarde, foi logo perguntando: - então, o senhor é da cidade dos ladrões?
Como fui pego de surpresa e não
tinha uma resposta pronta; parei, pensei um pouco e “lasquei”: - se o senhor
está se referindo ao número de congressistas, há um engano; Brasília só tem
nove, enquanto a Bahia tem 40, sendo 39 deputados e um senador.
Silêncio!
E ele: - são 40, é? Sim, são! Respondi.
Ele saiu. Nem boa tarde deu.
Ele saiu. Nem boa tarde deu.
E agora, se me perguntarem: o
senhor é da cidade que 100 mil pessoas aplaudiram o Bolsonaro?
Por enquanto, só tenho uma
resposta: não moro no Plano Piloto, nem em Águas Claras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12