Ato de Juristas pela Legalidade e Democracia no Salão Nobre
da Faculdade de Direito da USP
Foto Helio Carlos Mello/via Jornalistas Livres
“Estamos trabalhando, já faz tempo, não é só a Lava Jato,
com processos que são disputados na opinião pública, não é um processo que é
disputado no Judiciário”, disse Marcelo Semer, Mestre em direito penal pela USP
Por Camila Boehm // http://www.brasildefato.com.br/
Ato de Juristas pela Legalidade e Democracia no Salão Nobre
da Faculdade de Direito da USP
A espetacularização do processo da Operação Lava Jato pelos
meios de comunicação chegou a um limite insuportável, avaliou o juiz de direito
em São Paulo, Marcelo Semer, ao comentar a divulgação das conversas entre a
presidenta Dilma Roussef e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Estamos
trabalhando, já faz tempo, não é só a Lava Jato, com processos que são
disputados na opinião pública, não é um processo que é disputado no
Judiciário”, disse Semer, que é mestre em direito penal pela USP, autor de
obras jurídicas e ex-presidente da Associação Juízes para a Democracia.
A declaração ocorreu no Ato de Juristas pela Legalidade e
Democracia, que ocupou o Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, no Largo
São Francisco, na noite de hoje (17). Segundo Semer, a imprensa tem antecipado
os processos e os testemunhos, causado a exposição de réus, além de transformar
as manifestações em espetáculo.
“Temos que ter muito certo que não é possível apurarmos,
julgarmos, investigarmos, passando por certos limites e pela lei”, disse. O
juiz explicou que o grampo telefônico é uma violação da privacidade, a qual é
um direito constitucional, porém, há a possibilidade legal de interceptação
telefônica dentro de uma investigação criminal.
O grampo, portanto, serviria somente como prova do processo
criminal e apenas as pessoas que trabalham nesse processo poderiam ter acesso
às conversas interceptadas. “Mesmo que os processos não sejam sigilosos, as
escutas são, a lei determina isso. Porque você só pode quebrar a privacidade de
uma pessoa por um interesse muito maior, processual, mas não para divulgar para
as pessoas”, disse Semer. “O grampo não é ilegal, mas a exposição dessas
pessoas é extremamente nefasta”.
Para o juiz, há ilicitude toda vez que há um vazamento de
grampos. “Se o delegado vazou, está errado. Se o promotor vazou, está errado.
Se o advogado vazou, está errado. Se o réu vazou, está errado. Agora a questão
a se perguntar, e eu deixo essa questão em aberto, é o que fazer quando é o
próprio juiz que encaminha [as interceptações]?”.
Efeito político
O cientista político e professor da Escola de Sociologia e
Política de São Paulo, Aldo Fornazieri, disse que a divulgação dos áudios, a
prisão coercitiva do ex-presidente Lula e outras medidas que foram tomadas no
passado recente sempre visaram produzir um efeito político na opinião pública.
Ele lamentou que juízes tomem decisões e criem um clima de prejulgamento das
pessoas, muitas vezes, sem investigação.
“As decisões da Lava Jato, que aparentemente eram
republicanas no início, perderam totalmente esse caráter republicano e se
tornaram decisões politicamente orientadas. O Ministério Público, a Polícia
Federal e particularmente a figura do juiz [Sérgio] Moro estão querendo
produzir um efeito nas massas, que é um efeito de comoção social, visando
alcançar fundamentalmente dois objetivos”, disse Fornazieri.
Os objetivos citados pelo professor são a derrubada do
governo Dilma e a inviabilização da candidatura do ex-presidente Lula em 2018.
“Os atos que ocorreram ontem e hoje, ontem pela parte do Moro e hoje de manhã
por parte de um outro juiz de primeira instância [Itagiba Catta Preta Neto, que
suspendeu, em liminar, a posse de Lula como ministro-chefe da Casa Civil],
confirmam uma tese que venho defendendo há algum tempo: está em curso um golpe
judicial no Brasil e nós temos um estado de exceção judicial”.
Defesa da democracia
Fornazieri disse que, independentemente de críticas ao
governo de Dilma Rousseff, é necessária a defesa da democracia no país e disse
que a sociedade tem que acompanhar de perto o que o Judiciário e o Ministério
Público vem fazendo. Sobre o clima de polarização e violência nas ruas, ele diz
que o juiz Moro, junto com setores da mídia e do Ministério Público, “criaram
um clima de comoção social que está incontrolável”.
“Eu penso que os democratas não devem temer. Cabe aos
democratas não provocarem, não estimularem a violência, mas cabe também não se
acovardar e defender a democracia nas ruas”, concluiu o professor.
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