
Jornal do Brasil - Se não falham os estudiosos, a expressão
“o fim da picada”, deriva da situação em que se encontra, de repente, o sujeito
que vinha seguindo uma trilha, no meio da floresta, e, subitamente, se vê
perdido, quando essa trilha, ou “picada”, aberta à medida que se corta, ou se
“pica” o mato à frente, termina abruptamente, obrigando o viajante a seguir às
cegas, ou a voltar para um distante, e muitas vezes, inalcançável, ponto de
partida.
O grampo contra a Presidente da República, com sua imediata
divulgação, para uma empresa de comunicação escolhida para escancarar seu
conteúdo ao país, operado por um juiz de primeira instância, depois da
desnecessária e arbitrária condução coercitiva e do pedido de prisão de um
ex-presidente da República, devido a uma acusação de falsidade ideológica – em
um país em que bandidos com dezenas de
milhões de dólares em contas na Suíça, procurados pela Interpol e condenados à
prisão em outros países circulam, soltos,
tranquilamente - representa isso.
O fim da picada de uma Nação em que as instituições se
recusam a funcionar, e estão, virtualmente, sob o sequestro de meia dúzia de
malucos concursados - apoiados corporativamente por toda uma geração de
funcionários de carreira de Estado comprometidos ideologicamente, com a
razoável exceção de organizações como a associação de Juízes para a Democracia
- que atuam como ponta de lança de uma plutocracia estatal, que, embalada por
uma imprensa parcial e irresponsável, pretende tutelar a República,
colocando-se acima dos poderes constituídos.
Perguntado o que achava do pedido de prisão do Ministério
Público de São Paulo, há poucos dias, o líder do PSDB na Câmara Alta, o senador
Cássio Cunha Lima, disse que não via motivos para tanto e recomendou cautela
neste momento.
Agradece-se a sua coragem e bom-senso – Cássio Cunha Lima
foi violentamente atacado por isso pela malta radical fascista nos portais e
redes sociais – mas agora é tarde.
A oposição deveria ter pensado nisso quando ainda não
ocupava – tão hipócrita e injustamente quanto outros acusados - as manchetes da
coluna de delações “premiadas”, e abandonou o calendário político normal para
fazer política nos tribunais, por meio da criminalização da atividade,
entregando o país a um grupo de procuradores e a um juiz de primeira instância
que age - como se viu pelo vazamento
imediato do grampo do Palácio do Planalto - como um fio desencapado, não se
importando – assim como os procuradores que o cercam ou nele se inspiram - em
incendiar o país para dizer que é ele quem está no comando, independente da
atitude da Presidente da Republica de trocar o Ministro da Justiça, ou nomear
para a Casa Civil um ex-presidente da República, ou da preocupação de alguns
ministros e ministras do STF – pelo menos aqueles que parecem ter conservado um
mínimo de dignidade e de razão neste momento.
Iludem-se aqueles que acham que a Operação Lava-Jato vai
livrar o país da corrupção.
Os resultados políticos da Operação Mani Pulite – a operação
Mãos Limpas, à qual o Juiz Sérgio Moro se refere a todo instante como seu farol
e fonte de “inspiração”, foram a condução de Berlusconi, um bufão pseudo
fascista ao poder na Itália, por 12 anos eivados de escândalos, seguida da
entrega do submundo do Estado a uma máfia comandada por ex-terroristas de extrema-direita,
responsáveis por mega-escândalos como o da Máfia Capitale, que envolve desvios
e comissões em obras públicas em Roma, da ordem de bilhões de euros, cujo
julgamento começou no último mês de novembro.
Da mesma forma, iludem-se, também, aqueles que acham que,
com a queda do governo, por meio de impeachment, ou de manobra no TSE ou no
TCU, ou de uma Guerra Civil, que se desenha como cada vez mais provável, o
Brasil irá voltar à normalidade.
A verdadeira batalha, neste momento e a perder de vista – e
há uma grande proporção de parvos que ainda não entenderam isso – não é entre o
governo e a oposição, mas entre o poder político, alcançado por meio do voto
soberano da população, e a burocracia estatal, principalmente aquela que tem a
possibilidade – pela natureza de seu cargo -
de pressionar, coagir, chantagear, a seu bel-prazer, a Presidência da
República, o Congresso e o grande empresariado.
Em palestra recente, para empresários – quando, com suas
multas e sanções, ele está arrebentando com metade do capitalismo brasileiro –
o Juiz Sérgio Moro afirmou que a operação Lava-Jato não tem consequências
econômicas.
Sua Excelência poderia explicar isso ao BTG, cujas ações
diminuíram pela metade seu valor, quebrando milhares de acionistas, ou que
perdeu quase 20 de reais em ativos desde a prisão de André Esteves.
Ou à Mendes Júnior que teve de demitir metade dos seus
funcionários e está entrando em recuperação judicial esta semana.
Ou, ainda, aos 128.000 trabalhadores terceirizados da
Petrobras que perderam o emprego no ano passado.
Ou às famílias dos 60.000 trabalhadores da Odebrecht, que
também foram demitidos, ou aos funcionários restantes que aguardam o efeito da
multa de 7 bilhões de reais – mais de 15 vezes o lucro do Grupo em 2014 – que
se pretende impor “civilmente” à companhia.
Ou aos funcionários da Odebrecht que estão envolvidos com
projetos de extrema importância para a defesa nacional, como a construção de
nossos submarinos convencionais e atômicos e nosso míssil ar-ar A-Darter,
concebido para armar nosso futuros caças Gripen NG-BR, que terão de ser
interrompidos caso essa multa venha a ser cobrada.
Ou, ainda, aos “analistas” entre os quais é consenso que a
Operação Lava Jato foi responsável por 2%, ou mais de 50%, da queda do PIB - de
3,8% - no ultimo ano.
Na mesma ocasião, o Sr. Sérgio Moro - como se fôssemos
ingênuos de acreditar que juízes não têm suas próprias opiniões, ideologia e
idiossincrasias políticas – afirmou não ter “partido”
Ora, ele tem, sim, o seu partido.
]
E ele se chama PSM, o Partido do Sérgio Moro.
Um “partido” em que não cabem os interesses do país, nem os
do governo, nem os da oposição, a não ser que eles se coloquem sob a sua
tutela.
Assim como não dá para acreditar, com sua relativamente
longa experiência, depois dos episódios de Maringá e do Banestado, que ele
esteja agindo como age por ter sido picado pelo messianismo que distrai e
embala a alma de outros “salvadores da pátria” da Operação Lava-Jato.
O que - seguindo a lógica do raciocínio - só pode nos levar
a pensar que ele está fazendo o que faz porque talvez pretenda meter-se a
comandar o país diretamente – achando, quem sabe, que as Forças Armadas vão
permitir que venha a adentrar o Palácio do Planalto carregado por manifestantes
convocados pelo Whats UP, em uma alegre noite de buzinaço, como um moderno Salazar ou Mussolini – ou
quando eventualmente se cansar, lá pela milésima-primeira fase da Operação
Lava-Jato - de exercitar seu ego e – até agora - seu incontestável poder de
manter o país em suspense, paralisado política e economicamente,
independentemente do ocupante de turno – quem grampeia um presidente grampeia
qualquer presidente - que estiver sentado na principal poltrona do Palácio do
Planalto.
A alternativa a essa República da “Destrói a Jato”, de um
país mergulhado permanentemente na chantagem, na manipulação, no caos e na
paralisia, é alguém ter coragem, nos órgãos de controle e fiscalização, de
enfrentar o falso “clamor”, pretensamente “popular”, de um senso comum ditado
pela ignorância e a mediocridade, e pendurar o guizo no pescoço do gato – ou
desse tigre (de papel) - impondo ao mito
construído em torno dessa operação, e aos seus “filhotes”, o império da Lei e o
respeito ao Estado de Direito e à Constituição Federal.
Mas para isso falta peito e consciência de História a quem
pode fazê-lo.
E sobra – talvez pelo medo das tampas de panela dos vizinhos - hesitação e covardia.
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