por Armando
Rodrigues Coelho Neto // http://jornalggn.com.br/
Em mais de 30
anos de Polícia Federal, nunca vi uma condução coercitiva sem ser precedida, no
mínimo, por duas intimações não atendidas. Querem a cabeça do Lula para ser
exibida em praça pública ou seguir a escrita de produzir capa para a revista
Veja no final de semana, melhorar a audiência do decadente Jornal Nacional e ou
outras razões inconfessáveis.
Um linchamento
moral está em curso e medo de urna não se explica. Operadores do Direito,
alguns dos quais muito falantes e requisitados para programas de televisão, têm
estado silentes quanto à arbitrariedades. Não sei como se comportarão na de
hoje. Tudo em nome do “bem maior” revelado ou implícito: “Fora PT”.
Em nome desse
“bem maior”, as camadas mais pobres vem sendo preparadas pela dita “grande
mídia” para aceitar a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Hoje
teve “test drive”. Insatisfeitos com a verdade formal, a pretexto de buscar a
verdade real, o que seria razoável, partiu-se pro vale tudo.
Vale tríplex,
barquinho de lata, pedalinhos, qualquer coisa que possa alimentar à caça ao
Lula. Pouco importa que o tríplex tenha vínculos similares com a mansão dos
Marinhos. Pouco importa que a custa disso outras personagens queiram aparecer.
A situação é
tão esdruxula, que recentemente um site jurídico advertiu ironicamente os
advogados: cuidado! Uma batida de trânsito em frente do prédio da Petrobrás, no
Rio de Janeiro, pode ter a decisão deslocada para a cidade de Curitiba. Pela
camaleônica labilidade, o foro exclusivo já se permite a terceirização, de
maneira que, do mesmo modo que nunca ficou muito clara a figura de Sérgio Moro
como juiz natural de tudo. Do mesmo modo, não soa cristalina a intervenção do
Ministério Público de São Paulo, que a propósito não parece sequer fazer o seu
dever de casa.
A rigor, não
se pode dizer que a sociedade esteja sendo informada, mas sim insuflada a
compactuar com a guerra ao Partido dos Trabalhadores, até em programas de
culinária. Vale depoimento de MMA derrotado ou roqueiro decadente. Vale
insuflar com notícias não claras, dirigidas, seletivas.
Alguns
observadores mais ousados já haviam chamado a atenção para excessos, como a
coação nos depoimentos. Conforme a conveniência da investigação da PF,
supervisionada pelo Ministério Público e chancelada pela Justiça Federal
primária, prisões cautelares ou preventivas são realizadas com ou sem
vazamento. Ambas, segundo rumores, acabam tendo uma consequência comum:
prende-se, dá uma canseira e os presos começariam a receber visitas de
“aconselhadores” para que aceitem fazer “delação premiada”. Vale vazar uma
acusação sem prova, desde que sirva de manchete para a mídia porca de plantão.
Aos mais novos
posso lembrar “pau-de-arara”, “maricotas”, “cadeira de dragão”, métodos pródigos
em confissões viciadas. Hoje, o pau-de-arara é light e invisível, de onde
brotam controvertidos atos de contrição.
Não se trata
de ser contra a Lava Jato. Nem de desqualificar meus colegas de trabalho. Não
lhes posso atribuir a vergonhosa arbitrariedade de hoje, pois devem estar
cumprindo ordem, ainda que revestida de certa tirania.
O espectro
restrito das ações, a obsessão por um só partido, uma só época, o vazamento
seletivo, as exceções, as postagens de delegados federais nas redes sociais
tudo isso macula um trabalho, que se sério fosse, se ocuparia da corrução.
A aparente
falta de isenção faz a Lava Jato tem um quê de jogar para a plateia. Consta que
seu condutor-mor faz palestras, nas quais pede que o povo vá para as ruas
protestar. Consta ter recebido prêmios de instituições que estariam sob
supostas investigações, e até participado de lançamento de candidaturas.
Na esteira
dessa anomalia e estado de exceção, “Medalhões da Advocacia” estão levando chocolate de um juiz de
primeira instâncias, enquanto as instâncias revisoras estão acuadas pela mídia
visivelmente partidarizada.
Enquanto isso,
milhares de inquéritos sobre crimes de monta claudicam nas delegacias de crimes
financeiros da Polícia Federal, em todo o Pais. Quem são os acusados? Qual o
valor das fraudes? Qual o exato tamanho do roubo? Ninguém sabe. Certamente
fraudes imensas que correm em sigilo sem cobertura da imprensa, sem que se
saiba quantas intimações deixaram de ser atendidas e ou se foram ou não
conduzidos coercitivamente.
Quantos
processos fiscais aguardam indefinidamente decisão para serem convertidos em
processo ou não ninguém sabe. Fraudes bravas e impunes que mofam nos escaninhos
da Receita Federal sujeitas a recursos e mais recursos.
Não. Depois de
hoje, mais que nunca ficou claro. Não há combate à corrupção e sim guerra ao
PT. Vejo o estado aparelhado ao contrário, enquanto as instituições envolvidas
na Operação Lava Jato estão perdendo a oportunidade de fazer uma efetiva
limpeza no País. Certamente entrará para história. Não como uma operação que
livrou o pais da corrupção, mas de haver atuado como força auxiliar de um golpe
de estado ensaiado desde o fechamento das urnas nas últimas eleições
presidenciais.
A Operação
Lava Jato, com seu pau-de-arara invisível, caçam Lula como não caçam Chicos,
Cunhas, Marinhos, HSBC, envolvidos na Operação Zelotes e outros. Hoje,
exatamente hoje, ficou bem claro que a roupa preta do juiz Sérgio Moro desbotou
de vez e já exibe, descaradamente, os seus 45 tons de cinza.
Armando
Rodrigues Coelho Neto - Delegado de Polícia Federal aposentado e jornalista, ex-representante
da Interpol em São Paulo
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