Apesar da campanha brutal movida contra ele, Lula continua
sendo a grande referência política para amplas camadas da população brasileira.
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Face aos rumores a respeito do convite dirigido ao
ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva para integrar o ministério da
presidenta Dilma Roussef, a direção do Fórum 21 reuniu-se em caráter
emergencial no final da semana passada, com presença de membros convidados para
esse fim específico, e discutiu detidamente os prós e contras da eventual
aceitação da proposta, tendo decidido pelo apoio condicional a tal opção.
Ao considerar a referida hipótese, a direção do Fórum 21
partiu do pressuposto de que, assim fazendo, Lula teria assegurada plena
autonomia, não apenas para conduzir os assuntos afeitos à sua pasta, mas para
definir os rumos gerais da política do governo e velar por sua aplicação.
Nesse caso, o argumento corrente de que esta seria uma forma
de proteger-se contra investidas torpes que setores do aparelho de Estado vem
dirigindo contra sua pessoa – representando, pois, um movimento de fuga -- não
tem nenhum cabimento. Ao ingressar no governo como o seu condutor publicamente
reconhecido, Lula estaria assumido um risco redobrado. Além de não afastar,
senão momentaneamente, o risco de uma violência contra si encoberta com verniz
jurídico, ele estaria pondo em jogo o seu imenso patrimônio simbólico, como o
maior líder popular da história brasileira, expressão personificada dos anseios
e das esperanças de milhões de homens e mulheres humildes, espalhados por todo
o Brasil.
O risco é muito grande porque Lula estaria assumindo
responsabilidades de governo em condições muitíssimo adversas. Não apenas pela
gravidade da crise econômica e pela paralisia do sistema decisório que o
golpismo da oposição produziu nesses últimos anos. Mas também porque para a
oposição (o complexo político-empresarial midiático com seus respectivos
entornos) o fracasso desse ensaio será uma questão de vida ou morte. Pois, em caso de sucesso, a entrada em cena
de Lula representará para essas forças a certeza de uma fileira de futuras
derrotas amargas.
No momento, elas estão acenando com a miragem da solução
parlamentarista para a crise política. Agora, parlamentarismo com Lula na
condição de primeiro-ministro bem sucedido seria sinônimo de presidencialismo
forte na primeira esquina. Seria algo como a experiência Itamar-FHC, com a
diferença que no início dela FHC era um político bissexto carente de voto, e
Lula é o gigante que conhecemos. Se vitorioso nessa quadra dramática de nossa
história, chegaria a 2018 como um verdadeiro santo.
Condições tremendamente adversas, pois. Mas isso apenas
torna mais elevada a aposta; nada nos
diz sobre se ela deve ser feita ou não.
Ao considerar os dados do problema, os participantes da
reunião destacaram dois elementos contrapostos.
1) A situação quase terminal do governo Dilma, e a
catástrofe política e social que representaria -- para o país e para os trabalhadores -- a
implementação do programa que anima a frente direitista -- com outra pessoa na
Presidência, ou com Dilma inteiramente rendida.
2) Os compromissos que Lula teria necessariamente que fazer
para romper o cerco imposto ao governo e viabilizar as suas políticas.
Mais do que o fracasso da experiência, o grande risco
envolvido na hipótese reside precisamente nesses compromissos.
Como se disse antes, apesar da campanha brutal movida contra
ele, Lula continua sendo a grande referência política para amplas camadas da
população brasileira. O vigor dos laços que ele mantém com os setores populares
foi evidenciado há dias nas reações provocadas pela violência de sua
detenção. Elas desencadearam um
movimento de solidariedade e resistência ao golpe em curso, que está ainda em
seus primeiros estágios, no País e fora dele.
Sabemos que governar é negociar, levando em conta relações
de força e condições objetivas. Sabemos também que, sem o respaldo do voto, e
no quadro adverso acima aludido, Lula precisará negociar muito para garantir
efetividade às ações do governo – o que implica recobrar o poder de comando
sobre os órgãos da administração pública, aí incluída a Polícia Federal.
Mas não temos elementos para avaliar se os compromissos
necessários para tanto serão compatíveis com o imperativo de preservar o legado
associado a seu nome.
Na medida que o sejam, apoiamos a entrada de Lula no governo,
e nos preparamos desde já para os próximos embates.
Créditos da foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
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