quarta-feira, 13 de abril de 2016

O cerco do tempo aos moleques de Brasília. Por Luís Costa Pinto

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Sem uma linha de comentários, do jornalista Luiz Costa Pinto, em seu facebook:
Houve um tempo em Brasília que se reverenciava a Constituição. Senhores da cidade, os parlamentares mereciam respeito por serem os únicos investidos do poder de mexer em seus dispositivos – para aperfeiçoá-la, para adaptá-la ao tempo que não pára. Não, o tempo não pára.
Houve um tempo, em Brasília, que ostentar o broche designativo do mandato parlamentar era uma honra – deferência dada a poucos, àqueles que haviam conquistado esse poder nas urnas combatendo o bom combate: a disputa do voto popular.

Houve um tempo, e ele se passou em Brasília, em que se conspirava à noite a favor da mãe de todas as teses populares: o voto, seu significado, seu peso. E quando raiava o dia deputados e senadores, servos respeitáveis da Constituição que haviam ajudado a escrever, assumindo suas imperfeições e orgulhando-se de seus avanços, eram capazes de virar leões nos plenários e nos corredores do Congresso a fim de velar pelo exercício do poder em nome do povo. Como deve ser.
Já não há mais tempo, em Brasília, para lançar um olhar nostálgico sobre o passado não tão remoto. A conspiração, que se faz à noite e de dia também, é para cassar do povo o poder do voto. É para golpear a Constituição brincando de impedir o prosseguimento de um mandato popular – imperfeito, eivado de erros, permeado de equívocos; mas egresso da vontade popular, saído das urnas com a legitimidade divina – urdindo teses mal costuradas para fazer reinar um grupo sem compromisso popular. Sem legitimidade. Sem voto.
Houve um Abril, em Brasília, em que o Brasil inteiro se uniu para gritar a favor da restauração do poder do voto, para enxotar a ditadura militar e devolver ao povo o direito de eleger presidente. Houve esse Abril, e o tempo que não parou não o deixou tão distante assim que aqueles gritos já não possam mais ser ouvidos.
Agora se vê parlamentar, deputados sobretudo, rasgando a Constituição e golpeando o ar com bonecos de borracha. Soprando apitos nos corredores do Parlamento, travestidos de bandeira brasileira e envergando faixas verdes-e-amarelas sobre os paletós mal cortados, inebriados por um sopro de poder que parece ter contaminado a todos. É o sopro do golpe do impeachment. É só um vento que sopra a partir das catacumbas de uma Brasília que já viu passar muitos outros ventos como esse. Mas a cidade sabe que o tempo é implacável com quem trai a urna para tentar pegar um atalho para a História.
Agora é tempo de ver parlamentar achando que pode tudo porque ergueu uma catedral de papel com os cacos de um governo que não conseguiu defender seu legado de avanços em meio a um bombardeio caótico de fatos e de versões disseminadas com o objetivo de miná-lo. É tempo de assistir a turbas de deputados, qual moleques, fazendo apostas em bolões de votos. Eles vendem seus votos. Agora, brincam de rifar placares. Voto não é mercadoria nem tem preço, moleques. Voto é resultado de um ato solene. E tem consequências.
O tempo não pára. E voltará o tempo em que deputado que organizar bolão de voto será cassado por quebra de decoro. Sim, há deputados e senadores que ainda zelam pelo decoro. Hoje, amanhã, domingo, parecem minoria. Daqui a um tempo talvez se tornem, de novo, maioria. O tempo, que não pára, corre em círculos. Em breve esses moleques que não respeitam nem mandatos, nem votos, cairão um a um no meio do círculo porque o cerco terá se fechado. Em breve, com o tempo, porque ele não vai parar.

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