Autor do projeto "Escola Livre"
Nonato Menezes
De longe, o lado mais cruel da vida brasileira é a
ignorância política. Ignorância mesmo, demonstrada até nos momentos cruciais da
nossa vida pública.
Por exemplo.
A ignorância por falta de instrução é uma delas,
pois somos um grande País em matéria de burrice funcional. O que, de certa maneira,
contribui enormemente com a ignorância política.
Neste quesito, passam-se anos e anos na Escola, na
Faculdade e até mesmo na Universidade e milhares de pessoas levantam-se desses
bancos sem sequer se expressarem direito, como ouvi uma vez um advogado pedir o
“númuro” do processo para a atendente de balcão no arquivo de um Fórum. Nem achei
graça. Fiquei foi triste.
Nossa Escola é uma tragédia vista, vivida e
testada. E não há nada que aponte para sua melhoria. Não há um debate nacional,
nem regional sobre seus principais problemas. O que há de sobra, quando envolve
a Escola, são notícias sobre roubo oficial de merenda, agressão oficial a
professores e professoras e descaso generalizado por governos estaduais e
municipais com o Ensino Público. Tudo muito bem percebido, vivido e testado.
Nas “Faculidades de ponta de rua”, como diz um
amigo, é tudo monetário. O que conta mesmo é a grana. Pagou, formou! É a lógica
da exploração capitalista mais desonrosa. Nesse campo, Ensino mesmo fica para
quem não sabe ganhar dinheiro. E quem se aventura, quebra! Ou como diz o bom
senso: Educação é prerrogativa do Estado.
Evidente que a maioria que passa pela Escola e
pelas “Faculidades”, ligeiramente descritas acima, não tem como sair politizada.
É fato.
Também, não há como negar que sai dessas instâncias
parte considerável da nossa ignorância política, a mais arrasadora de todas. Não
é a ignorância política no sentido amplo, das ações do cotidiano; afinal nos
sobra ignorância sobre a maioria das coisas, mas a ignorância política que
envolve a participação direta ou indireta na organização do Estado e da vida
Pública. É essa ignorância que assusta. Que muitas vezes faz nossa esperança balançar.
Por exemplo, não há como se classificar o voto em
mais ou menos importante, de maior ou menor valor. O voto censitário, quando
existia, era apenas mais uma prova de uma sociedade verticalizada, cruel e
estúpida.
Em suma, o voto tem que ser universal e pronto.
A universalidade do voto não impede, porém, de se ter certos cuidados na hora de escolher uma autoridade pública para Legislar
ou para Executar tarefas de interesse social.
E é esse cuidado que normalmente não se tem. Na maioria
dos casos, por pura ignorância política.
É inaceitável se votar num indivíduo que terá a incumbência
de “Legislar”, se o mesmo tem uma ficha corrida e “conhecida até pelo mundo
mineral”, como diz Mino Carta.
Não quero crer que as trapaças do atual presidente
da Câmara Federal não eram de conhecimento da maioria da sociedade do Rio de
Janeiro, no momento de sua escolha como Deputado.
Ele já tinha
sido demitido do Serviço Público por roubalheira e respondia processo por outros
crimes, fartamente noticiados na cidade.
Dizer que votou sem saber que ele era um nobre
bandido não justifica, pois se tratava de criatura bastante conhecida e muito
comentada, sobretudo por seus crimes. E votar em quem não conhece ou em quem
que sabidamente é criminoso, é exercitar a “finura” da ignorância politica, por
dois motivos.
Primeiro, neste caso, por desconhecer ou não levar em conta a função
de um “Legislador”.
Segundo, pela desprezível importância que dá ao voto, no
momento de ajudar a escolher uma pessoa para o exercício da função pública.
Isso, somado a outros “descasos”, é pura ignorância
política.
Por fim, me deparo com uma notícia vinda de Alagoas,
onde dezoito Deputados aprovaram um projeto e promulgaram a Lei que proíbe os
professores de opinarem sobre Política, Religião e Ideologia em sala de aula.
Com licença, vou repetir! “Lei que proíbe os
professores de opinarem sobre Política, Religião e Ideologia em sala de aula”.
E eu acreditando que a burrice humana é fantasia!
Impor “neutralidade” aos professores em sala de
aula é um dos objetivos da Lei. Mas impedir os professores de doutrinarem e induzirem estudantes com temas religiosos, políticos e ideológicos, por incrível que possa parecer, ainda não fecham o pacote da estupidez. O título do projeto é “Escola Livre”.
Agora, pare, pense e tente responder a você mesmo.
Se dezoito parlamentares – o autor do projeto é
formado em Medicina Veterinária, em terceiro mandato – são capazes de legislar com
tão elevado grau de burrice; o que diríamos sobre a ignorância política da
maioria de seus eleitores?
Outra pergunta.
Se nossos parlamentares, homens e mulheres,
encarregados de criar nossas Leis, navegam com desenvoltura nesse mar de
ignorância, a quem devemos responsabilizar por serem Legisladores?
Ou como
dizem os eternos acomodados: “é assim mesmo”!
O que não deixa de ser uma das características da
intrigante ignorância política brasileira.
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