domingo, 24 de julho de 2016

O GLOBO pede fim do ensino superior gratuito

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Em editorial publicado neste domingo (24), O Globo pede o fim do ensino superior gratuito no Brasil. Embora não seja surpresa que tal instituição defenda a privatização das universidades públicas, uma vez que ela já demonstrou, em diversas oportunidades, estar sempre na contramão do interesse público, do acesso democrático às instituições e da democracia, em si, como já tivemos oportunidade de escrever neste blog (O Globo saúda Golpe Militar; Globofilmes destrói cinema nacional; Globo manipula dados na cobertura das eleições venezuelanas), o destaque é a maneira cruel e covarde como ela argumenta pela extinção do ensino superior gratuito.
Segundo o texto, o que justificaria o fim do ensino superior gratuito é a sua “injustiça” e o gatilho que está dando oportunidade ao governo golpista de Michel “Fora” Temer privatizá-lo é a crise, como indica o título do editorial. O argumento principal do editorialista é que a maior parte das vagas das universidades públicas é, atualmente, ocupada pelos alunos de renda mais alta, enquanto aos pobres restam apenas pagar pelas universidades privadas. A crueldade e a covardia do editorial está justamente no fato de O Globo usar uma injustiça cometida contra as camadas mais pobres da sociedade, alijadas desde sempre do ensino superior brasileiro, não para reparar a injustiça, mas para mantê-la e fazer retroceder as recentes conquistas que pobres, pretos e índios tiveram dentro do espaço universitário, antes restrito apenas a um grupo social (com raríssimas exceções).

O argumento, evidentemente, não é novo. Frequentemente o vejo na boca da classe média para justificar a privatização e, com isso, o fim das cotas sociais e raciais. Mais e pior que isso, o tenho visto cotidianamente em minha vida institucional universitária dentro da Universidade de São Paulo (que caminha a largos passos para a privatização daquele espaço público de excelência) e, também, na imprensa paulista, sobretudo na Folha de S. Paulo, que dia sim, outro também, publica uma notícia enviesada no intuito de justificar a privatização das universidades públicas.

Não raro, Folha de S. Paulo, Globo, Band e outros veículos de mídia, juntamente com o poder estadual (que há mais de 20 anos tenta encampar a privatização), criaram a imagem de uma universidade pública sucateada que não serve para mais nada além de gastar dinheiro público. Evidentemente, trata-se de uma grande mentira. A verdade é que, apesar dos constantes ataques da mídia e do Estado, que tem, sim, buscado sucatear a universidade pública, justamente para se livrar dela e dos hospitais universitários, tais instituições tem mantido seu padrão de excelência graças aos esforços sobre-humanos de muitos de seus funcionários, professores e alunos. Se hoje, universidades como USP, Unicamp, Unesp, UFF, UFMG, UFOP, UFRGS, UnB e tantas outras conseguem se manter como referências mundiais, nacionais e regionais em diferentes áreas do conhecimento, é por conta dessas pessoas.

Em suma, o que O Globo reproduz aqui é justamente o que temos visto em São Paulo há muitos anos. Se no princípio usa a crise como justificativa para agora se realizar o antigo projeto de privatizar o ensino superior, logo abaixo afirma que, mesmo se a economia vier a se recuperar, seria necessário “reformar o Estado” para não recorrer a aumento de impostos (não deixa de ser cômico, se não fosse trágico, a grande sonegadora Globo falando de não querer mais pagar impostos). E é assim, pateticamente reclamando contra o pagamento dos impostos que ela costuma não pagar, que as Organizações Globo introduz seu argumento sem nenhum pudor: “[…] para combater uma crise nunca vista (?) necessita-se de ideias nunca aplicadas. Nesse sentido, porque não aproveitar para acabar com o ensino superior gratuito”.

A discussão não passa pelo acesso das camadas populares ao ensino de qualidade (seja o superior ou o fundamental e médio, que é justamente onde está o problema), e sim pela questão fiscal. Assim, a injustiça social é mera desculpa, à qual a Globo recorre em seu editorial a fim de pretensamente se colocar em defesa dos interesses da população, quando na verdade encampa uma luta contra o uso dos impostos para bancar o acesso das camadas populares à universidade superior de qualidade. Estes, se quiserem, que vão pedir bolsas nas universidades privadas, pois segundo O Globo, este é um sistema que funciona bem ao redor do mundo.

Abaixo reproduzimos a postagem que nos chamou atenção a mais esse ataque ao ensino e ao povo brasileiro, perpetrado pelos plutocratas, defensores do oligopólio e da manutenção da profunda desigualdade social que cliva o Brasil desde seu nascimento.
EDITORIAL DO GLOBO PEDE FIM DO ENSINO SUPERIOR GRATUITO NO BRASIL
publicado originalmente na Revista Forum em 24 de julho de 2016
jornal-o-globo
Por Redação (da Revista Fórum)
Em editorial publicado neste domingo (24), o jornal O Globo defende o fim do ensino superior gratuito no Brasil como uma forma de equilibrar as contas públicas.
“Por que não aproveitar para acabar com o ensino superior gratuito, também um mecanismo de injustiça social? Pagará quem puder, receberá bolsa quem não tiver condições para tal. Funciona assim, e bem, no ensino privado. E em países avançados, com muito mais centros de excelência universitária que o Brasil”, diz o texto.
“O momento é oportuno para se debater a sério o ensino superior público pago. Até porque é entre os mecanismos do Estado concentradores de renda que está a universidade pública gratuita. Pois ela favorece apenas os ricos, de melhor formação educacional, donos das primeiras colocações nos vestibulares”, continua.
“Já o pobre, com formação educacional mais frágil, precisa pagar a faculdade privada, onde o ensino, salvo exceções, é de mais baixa qualidade. Assim, completa-se uma gritante injustiça social, nunca denunciada por sindicatos de servidores e centros acadêmicos”, conclui.
Para ler o editorial na íntegra, clique aqui.

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