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Em editorial publicado neste domingo (24), O Globo pede o fim do ensino superior gratuito no Brasil. Embora não seja surpresa que tal instituição defenda a privatização das universidades públicas, uma vez que ela já demonstrou, em diversas oportunidades, estar sempre na contramão do interesse público, do acesso democrático às instituições e da democracia, em si, como já tivemos oportunidade de escrever neste blog (O Globo saúda Golpe Militar; Globofilmes destrói cinema nacional; Globo manipula dados na cobertura das eleições venezuelanas), o destaque é a maneira cruel e covarde como ela argumenta pela extinção do ensino superior gratuito.
Segundo o texto, o que justificaria o fim do ensino superior gratuito é a sua “injustiça” e o gatilho que está dando oportunidade ao governo golpista de Michel “Fora” Temer privatizá-lo é a crise, como indica o título do editorial. O argumento principal do editorialista é que a maior parte das vagas das universidades públicas é, atualmente, ocupada pelos alunos de renda mais alta, enquanto aos pobres restam apenas pagar pelas universidades privadas. A crueldade e a covardia do editorial está justamente no fato de O Globo usar uma injustiça cometida contra as camadas mais pobres da sociedade, alijadas desde sempre do ensino superior brasileiro, não para reparar a injustiça, mas para mantê-la e fazer retroceder as recentes conquistas que pobres, pretos e índios tiveram dentro do espaço universitário, antes restrito apenas a um grupo social (com raríssimas exceções).
O argumento, evidentemente, não é novo. Frequentemente o vejo na boca da classe média para justificar a privatização e, com isso, o fim das cotas sociais e raciais. Mais e pior que isso, o tenho visto cotidianamente em minha vida institucional universitária dentro da Universidade de São Paulo (que caminha a largos passos para a privatização daquele espaço público de excelência) e, também, na imprensa paulista, sobretudo na Folha de S. Paulo, que dia sim, outro também, publica uma notícia enviesada no intuito de justificar a privatização das universidades públicas.
Não raro, Folha de S. Paulo, Globo, Band e outros veículos de mídia, juntamente com o poder estadual (que há mais de 20 anos tenta encampar a privatização), criaram a imagem de uma universidade pública sucateada que não serve para mais nada além de gastar dinheiro público. Evidentemente, trata-se de uma grande mentira. A verdade é que, apesar dos constantes ataques da mídia e do Estado, que tem, sim, buscado sucatear a universidade pública, justamente para se livrar dela e dos hospitais universitários, tais instituições tem mantido seu padrão de excelência graças aos esforços sobre-humanos de muitos de seus funcionários, professores e alunos. Se hoje, universidades como USP, Unicamp, Unesp, UFF, UFMG, UFOP, UFRGS, UnB e tantas outras conseguem se manter como referências mundiais, nacionais e regionais em diferentes áreas do conhecimento, é por conta dessas pessoas.
Em suma, o que O Globo reproduz aqui é justamente o que temos visto em São Paulo há muitos anos. Se no princípio usa a crise como justificativa para agora se realizar o antigo projeto de privatizar o ensino superior, logo abaixo afirma que, mesmo se a economia vier a se recuperar, seria necessário “reformar o Estado” para não recorrer a aumento de impostos (não deixa de ser cômico, se não fosse trágico, a grande sonegadora Globo falando de não querer mais pagar impostos). E é assim, pateticamente reclamando contra o pagamento dos impostos que ela costuma não pagar, que as Organizações Globo introduz seu argumento sem nenhum pudor: “[…] para combater uma crise nunca vista (?) necessita-se de ideias nunca aplicadas. Nesse sentido, porque não aproveitar para acabar com o ensino superior gratuito”.
A discussão não passa pelo acesso das camadas populares ao ensino de qualidade (seja o superior ou o fundamental e médio, que é justamente onde está o problema), e sim pela questão fiscal. Assim, a injustiça social é mera desculpa, à qual a Globo recorre em seu editorial a fim de pretensamente se colocar em defesa dos interesses da população, quando na verdade encampa uma luta contra o uso dos impostos para bancar o acesso das camadas populares à universidade superior de qualidade. Estes, se quiserem, que vão pedir bolsas nas universidades privadas, pois segundo O Globo, este é um sistema que funciona bem ao redor do mundo.
Abaixo reproduzimos a postagem que nos chamou atenção a mais esse ataque ao ensino e ao povo brasileiro, perpetrado pelos plutocratas, defensores do oligopólio e da manutenção da profunda desigualdade social que cliva o Brasil desde seu nascimento.
EDITORIAL DO GLOBO PEDE FIM DO ENSINO SUPERIOR GRATUITO NO BRASIL
publicado originalmente na Revista Forum em 24 de julho de 2016
publicado originalmente na Revista Forum em 24 de julho de 2016

Por Redação (da Revista Fórum)
Em editorial publicado neste domingo (24), o jornal O Globo defende o fim do ensino superior gratuito no Brasil como uma forma de equilibrar as contas públicas.
“Por que não aproveitar para acabar com o ensino superior gratuito, também um mecanismo de injustiça social? Pagará quem puder, receberá bolsa quem não tiver condições para tal. Funciona assim, e bem, no ensino privado. E em países avançados, com muito mais centros de excelência universitária que o Brasil”, diz o texto.
“O momento é oportuno para se debater a sério o ensino superior público pago. Até porque é entre os mecanismos do Estado concentradores de renda que está a universidade pública gratuita. Pois ela favorece apenas os ricos, de melhor formação educacional, donos das primeiras colocações nos vestibulares”, continua.
“Já o pobre, com formação educacional mais frágil, precisa pagar a faculdade privada, onde o ensino, salvo exceções, é de mais baixa qualidade. Assim, completa-se uma gritante injustiça social, nunca denunciada por sindicatos de servidores e centros acadêmicos”, conclui.
Para ler o editorial na íntegra, clique aqui.
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