Não é preciso revelar dias, horas e locais das reuniões em que o pacto para salvar Eduardo Cunha da cassação foi urdido. Até Michelzinho sabe que ele está em curso.
O principal artífice do pacto é o pai do Michelzinho, o deputado Michel Temer.
Chamá-lo de presidente, mesmo interino, é uma ofensa a todos os presidentes da República brasileiros, vivos ou mortos.
Ele sempre foi, é e sempre será deputado. E jamais um deputado milionário de votos, como Tiririca ou Paulo Maluf; é um deputado de não mais de 100 mil votos.
Ao comandar o pacto para salvar seu amigo Cunha ele transgride a constituição, que garante que todos são iguais perante a lei.
Não é a primeira vez. Um governo que nasce transgredindo a constituição, continua transgredindo a constituição e acaba transgredindo a constituição.
Governo que nasceu de um golpe, vive de golpes e acaba por um golpe.
Geralmente dos que estão mais próximos dele, como foi o caso de Getúlio Vargas, golpeado pelos generais os quais pensava que comandava.
Para viabilizar o pacto, Temer tem o apoio de outros dois políticos tão oblíquos quanto ele: o presidente da Câmara e o presidente do PSDB.
Rodrigo Maia tem a consistência de um boneco de vento. Fará tudo o que seu Temer mandar, como naquela brincadeira infantil do “Boca do forno”.
Sua missão é afastar da pauta das votações a cassação do Cunha, por mais que os chatos do PSOL tentem insistir. (São eles, curiosamente, os algozes do Cunha e não os petistas, que deveriam ser os primeiros interessados em mandá-lo para o inferno.)
Nessa tarefa golpista, sibilina e imoral, que aviltaria qualquer biografia, menos a sua, pois ele não a tem e nunca terá, ele conta com a inestimável colaboração de Aécio Neves, que não herdou nenhuma das qualidades de seu avô.
Arrogante, pretensioso, opaco, tão sem discurso quanto o José do seu conterrâneo poeta, ele tem o mesmo pesadelo de seu cúmplice, o deputado Temer: Cunha perde o mandato, Moro o prende e ele, para não ficar enjaulado, conta tudo o que sabe a respeito deles dois e de mais de uma centena de colegas, cujas fichas coleciona desde os tempos de Collor.
Além de ter memória de elefante, deve ter anotado tudo por escrito e guardado as anotações num cofre-forte do mesmo banco suíço que guarda suas economias.
Há quem duvide desse script, baseando-se na falta de isenção e no compromisso com os golpistas do juiz de primeira instância, mas nunca se sabe. Hoje a República brasileira repousa sobre quatro Poderes: o Executivo, o Judiciário, o Legislativo e Sérgio Moro.
Vai que ele queira dar uma demonstração de que a Lava Jato não tem partido, nem alvos pré-determinados – por mais que não tenha sido assim até agora – e não resista à tentação de fazer justiça. Nunca se sabe.
Basta recordar dois episódios para concluir que Moro também não dá tratamento igual, já não digo a todos, mas a todos os parlamentares.
Por transgressões muito menos graves que as de Cunha, que é, disparado, o campeão nacional da delinquência política, ele prendeu dois petistas a jato, o deputado André Vargas, já condenado e o senador Delcídio do Amaral, solto somente depois de botar a boca no trombone e disparar a metralhadora giratória contra o passado do PSDB e o presente do PT. Nenhum deles cometeu um milésimo dos crimes de Cunha.
Isso sem contar a prisão inexplicável do marqueteiro João Santana, cujo “crime” foi reeleger Dilma.
Indigno da biografia do avô, prova explícita de que neto de peixe peixinho não é, a tarefa de Aécio é manter a tropa tucana alinhada com os golpes de Temer até que um golpe os separe.
Em troca do que espera receber, a curto prazo, a recompensa dos votos do PMDB no embaçado Imbassahy para sentar no trono de Rodrigo Maia daqui a seis meses e em si próprio, em 2018.
O abominável senador Neves ainda não percebeu que ele e Temer vão pagar o pacto.
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