sábado, 17 de setembro de 2016

CBF pode ser multada pela Fifa por gritos homofóbicos

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Jornal GGN - A Federação Internacional de Futebol (Fifa) poderá multar a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em razão de gritos homofóbicos de seus torcedores. No dia 6 de setembro, durante o jogo entre Brasil em Colômbia pelas eliminatórias da Copa da Rússia, muitos espectadores na Arena da Amazônia, em Manaus, gritavam "bicha" quando goleiro colombiano cobrava os tiras de meta. 

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a Fifa confirmou que irá abrir um processo disciplinar, baseado em informações de seus observadores, sobre o comportamento dos torcedores durante a partida. O Comitê Disciplinar da Fifa irá analisar os dados e depois vai decidir se punirá a CBF.
Os gritos homofóbicos tem provocado diversas multas da Fifa contra federações desde o começo desde ano. Argentina, Peru, Chile e Uruguai já foram multados e advertidos, e o México também foi punido por esta razão.

Para o professor da USP Flavio de Campos, além das multas, o ideal seria a Fifa promover uma campanha contra a homofobia no futebol. "Uma campanha educativa mais profunda, mostrando que se trata de uma violação de um direito básico do ser humano", afirma. 

Da Folha


Pela primeira vez, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pode ser multada pela Fifa devido a atitudes homofóbicas de seus torcedores. Na partida entre Brasil e Colômbia, em 6 de setembro, pelas eliminatórias da Copa de 2018, boa parte das pessoas presentes na Arena da Amazônia, em Manaus, gritaram "bicha" enquanto o goleiro adversário David Ospina cobrava os tiros de meta.

A Fifa confirmou à Folha que, a partir de informações recebidas de seus observadores presentes na Arena da Amazônia, foi decidida a abertura de um "processo disciplinar" para avaliar os atos dos torcedores durante o jogo. A análise do material será feita pelo Comitê Disciplinar da entidade, que então decidirá se a CBF será punida. O grupo tem reunião agendada nas próximas duas semanas, mas ainda não está definido se a discussão do caso da CBF entrará em pauta nesse primeiro encontro.

"Podemos confirmar que um processo disciplinar foi aberto contra a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pelos incidentes durante a partida do dia 6 de setembro entre Brasil e Colômbia pelas eliminatórias da Copa do Mundo da Fifa. No momento, não é possível especular sobre qualquer decisão a ser tomada pelo Comitê Disciplinar da Fifa, que irá julgar todos os casos com base nas especificidades de cada um e após uma análise profunda de todas as informações e provas disponíveis. A decisão será publicada após a próxima reunião do Comitê Disciplinar da Fifa e depois de as partes envolvidas terem sido notificadas", disse a Fifa via assessoria de imprensa.


A despeito de a abertura de processo ser inédita no caso da CBF, não se pode dizer que é surpreendente. Desde o início do ano, a Fifa tem multado diversas federações devido a gritos homofóbicos.

Argentina, Chile, Peru e Uruguai já foram multados e advertidos pela entidade pelo grito de "puto" de seus torcedores quando o goleiro rival cobra o tiro de meta. O México, na Concacaf (confederação das Américas do Norte e Central), também já foi punido por essa razão. As multas variaram entre R$ 20 mil (Peru e Chile) a R$ 75 mil (Argentina e México).

Nos países de língua espanhola, "puto" é uma maneira pejorativa de se referir a homossexuais. No México, pelo menos desde 2004, quando o arqueiro do time contrário se prepara para repor a bola em jogo, os torcedores iniciam o canto com um longo "eee" e finalizam com o "puto" quando o tiro de meta é batido.

Nos últimos anos, com clubes do México na Libertadores, os brasileiros passaram a fazer o mesmo, trocando o "puto" por "bicha". Torcedores do Corinthians foram os primeiros a importar a hostilidade, geralmente dirigida ao então goleiro do São Paulo, Rogério Ceni. Durante a Copa do Mundo de 2014, os gritos foram frequentes e desde então foram adotados não somente por membros de torcidas organizadas –durante a Olimpíada deste ano, eles aconteceram em quase todos os jogos de futebol do evento. No final de 2014, a diretoria do Corinthians soltou uma nota em que pedia o fim da manifestação homofóbica.

Procurada, a CBF não quis se manifestar sobre o tema.

EXEMPLOS

Para Flavio de Campos, professor do departamento de História da Universidade de São Paulo e coordenador do Ludens, núcleo de pesquisas sobre esportes, a medida deve ser valorizada.

"Existe um circuito de complacência com a homofobia no espaço do futebol. Vem dos outros torcedores, que acham engraçado o grito de 'bicha'; de narradores de futebol e ex-atletas, que podiam chamar atenção ao problema durante as transmissões e não o fazem; e também das entidades, como clubes e federações, que são coniventes com diversas formas de brutalidade. Não é brincadeirinha: trata-se da aniquilação da possibilidade de torcedores homossexuais nos estádios. Nesse sentido, a iniciativa da Fifa é positiva", analisa.

"Muito da vocalidade e da gestualidade das torcidas organizadas são mimetizadas de outros lugares, como nesse caso, com origem no México. Um clube que seria legal que mimetizassem seria o St. Pauli, de Hamburgo, um clube que tem um posicionamento contra todos os preconceitos: a estrangeiros, a homossexuais. Uma torcida que baniu membros de extrema-direita. Seria bom dar visibilidade a esse tipo de torcida".

Para o professor, ainda que positiva, a medida da Fifa poderia ser mais acertada.

"Oferecer a punição diretamente, sem um histórico de medidas, é hipócrita. No campo do futebol, o ideal seria uma campanha mundial contra a homofobia. Uma campanha educativa mais profunda, mostrando que se trata de uma violação de um direito básico do ser humano. Dar um toque no colega ao lado, fazê-lo entender as consequências da discriminação. Fazer faixas como aquelas contra o racismo. Apenas punir é inócuo, mas pelo menos tira as pessoas da zona de conforto, mobiliza o debate", conclui.

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