No final de agosto, um dos delatores da Lava-Jato, o agiota Zwi Skornicki, garantiu à Polícia Federal que o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, abandonou R$ 39 milhões de propina em contas na Suíça. Pouco antes, em junho, a imprensa noticiou que a Odebrecht mantinha neste mesmo país um sofisticado sistema de informática para pagar subornos. Dois famosos correntistas suíços já foram denunciados: o ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, que deu à largada ao processo de impeachment de Dilma, e o ex-ministro Henrique Alves, que foi enxotado do covil de Michel Temer. Será que outros golpistas também têm contas secretas na Suíça - o que explicaria a pressa para dar o "golpe dos corruptos" e para "estancar a sangria" das investigações da Lava-Jato?
Segundo a delação de Zwi Skornicki, que representa no Brasil uma empresa de Cingapura, a Keppel Fels, a propina de Renato Duque resultou da compra de uma plataforma para exploração de petróleo na bacia de Campos (RJ). O suborno foi pago em 2008, quando a Petrobras contratou a Keppel e a Technip, até 2011, quando a plataforma - no valor de R$ 5 bilhões - foi entregue. A fortuna, porém, ficou retida no banco suíço em função de problemas legais. O ex-diretor da Petrobras está preso desde março e foi condenado a 41 anos de prisão em duas ações penais. Os R$ 39 milhões que ficaram parados no banco deverão voltar aos cofres da Petrobras, conforme decisão da Lava-Jato.
O sistema informatizado da Odebrecht
Já a história do sistema informatizado da Odebrecht só veio à tona graças às informações prestadas por Camilo Gornati, responsável por gerar logins e senhas para os executivos da empreiteira. "Os servidores para o controle de pagamento de propinas da Odebrecht, descoberto durante a Operação Lava Jato, ficavam hospedados na Suíça, e estavam na ativa até o mês passado", relatou a jornalista Estelita Hass Carazzai, da Folha. "O administrador chegou a ir à sede da empreiteira, em Salvador, para orientar duas funcionárias da empresa a usar o programa. Almoçou com funcionários e conheceu Hilberto Silva, executivo da Odebrecht – que foi preso na Lava Jato".
"Segundo ele, cada usuário do sistema, chamado de Drousys, tinha acesso a uma conta de e-mail que circulava apenas internamente. Era por ali que os funcionários da Odebrecht trocavam informações sobre os repasses de propinas, segundo as investigações. Os datacenters do sistema estavam na Suíça principalmente por 'questão de segurança', segundo Gornati. 'Seria um dos melhores datacenters do mundo', afirmou... Gornati era contratado da empresa JR Graco, investigada por operar pagamentos ilícitos para a Odebrecht no exterior, de acordo com a força-tarefa da Lava Jato. A empreiteira era uma das clientes da empresa". Parte da grana da propina teria sido depositada em contas na Suíça.
Os correntistas Cunha e Cláudia Cruz
As investigações já revelaram que Eduardo Cunha foi um dos beneficiários destas transações ilegais - mas ele segue livre e solto, com o apoio nada discreto do Judas Michel Temer. No final de junho, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, confirmou que o ex-presidente da Câmara Federal "era dono da conta, do patrimônio e dos valores" encontrados em bancos da Suíça. Ele ainda acrescentou que "há documentos que comprovam a utilização de cartão de crédito para pagamento de contas milionárias em restaurantes, hotéis, lojas de luxo, realizadas por quem? Pelo acusado Eduardo Cunha, esse que nega a titularidades das contas, mas cujo dinheiro irriga suas despesas".
Segundo levantamento parcial, Eduardo Cunha, líder do "golpe dos corruptos", teria recebido mais de R$ 52 milhões em propina, que custearam despesas luxuosas da família no exterior. Ainda de acordo com a PGR, "esses valores de origem ilícita e depositados de forma secreta representavam valores em dinheiro, ações e investimentos de curto prazo que não foram declarados às autoridades do Banco Central e da Receita. Sobre todas as movimentações há documentos incontestáveis". As contas na Suíça foram abertas com documentos de Cunha, como passaporte, tinham a assinatura do deputado, e a contrassenha usada em consultas ao banco suíço Julius Bär estava em nome de sua mãe.
Cláudia Cruz, ex-apresentadora da TV Globo e esposa de Eduardo Cunha, fez a festa com esta grana. A investigação comprovou gastos luxuosos em viagens aos EUA, França, Itália, Portugal, Suíça, Rússia, Espanha e Emirados Árabes. "Segundo a Procuradoria, entre agosto de 2014 e fevereiro de 2015, as despesas de cartões de crédito de Cunha, sua mulher, e sua filha, Danielle Dytz, somaram US$ 156,2 mil (R$ 626 mil). Os valores indicariam uma movimentação financeira completamente incompatível com os rendimentos lícitos declarados do denunciado e seus familiares".
Henrique Alves, o ministro defenestrado
Outro beneficiário deste esquema ilegal teria sido o peemedebista potiguar Henrique Eduardo Alves. A descoberta da mutreta inclusive foi a causa principal da sua queda como ministro do Turismo de Michel Temer. Ele não durou muito tempo no posto e logo foi exonerado. Em 14 de junho passado, a imprensa informou que a Operação Lava-Jato havia encontrado uma conta na Suíça em nome do líder golpista. Dois dias após, ele "entregou o cargo" e jurou inocência. Segundo a denúncia, a conta serviu para o recebimento de propina do esquema de corrupção na Petrobras.
"Investigadores disseram que o caso do peemedebista é semelhante ao do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, que também mantinha uma conta em uma instituição bancária suíça. A Folha apurou que o agora ex-ministro comunicou ao Palácio do Planalto ter recebido informações de que a Lava Jato havia identificado o extrato de sua conta, não declarada. Por isso decidiu sair do ministério e, consequentemente, dos holofotes da imprensa. Na ocasião, ele foi aconselhado por aliados a entregar o posto e se concentrar na própria defesa, dado o risco de que a informação viesse a público e constrangesse Temer", descreveu o jornal paulista.
Em sua delação premiada, o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, já havia dito que repassou a Henrique Alves cerca de R$ 1,5 milhão em propina entre 2008 e 2014. Em sua carta de despedida do covil golpista, o ex-ministro afirmou que "estou seguro de que todas as ilações envolvendo meu nome serão esclarecidas" e agradeceu a Michel Temer pela "lealdade, amizade e compromisso de uma longa vida política e partidária". Esta "lealdade e amizade" talvez até ajude a esconder outros correntistas suíços que participaram do "golpe dos corruptos" que depôs Dilma Rousseff.
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