Perfil do jornal 'Le Monde' apresenta o ministro como o financista querido do mercado.
Leneide Duarte-Plon, de Paris // www.cartamaior.com.br
Fleugmático e seguro. Assim a correspondente do « Le Monde » apresenta no jornal datado de terça-feira, 13 de setembro, o brasileiro que « ocupa o posto mais delicado e exposto do momento ».
No perfil de página inteira no suplemento de economia, ela o chama de «pai da austeridade brasileira e o financista querido do mercado». Austeridade é um eufemismo que jornalistas e economistas usam para designar o arrocho generalizado das políticas neoliberais.
Claire Gatinois continua a descrever Henrique Meirelles, um personagem de quem o leitor provavelmente nunca ouviu falar: « Seu país está afogado numa recessão histórica com grandes dificuldades de orçamento, devastado por um desemprego em massa e sacudido por manifestações quase cotidianas que acusam o novo governo, do qual ele faz parte, de ter feito um golpe de Estado parlamentar para afastar do poder o Partido dos Trabalhadores (PT, de esquerda) ».
A texto revela que a prioridade da agenda de Meirelles são as reformas « julgadas tão urgentes quanto impopulares : austeridade orçamentária, avanço da idade da aposentadoria, flexibilização do mercado de trabalho ».
Meirelles diz que nada disso é impossível : « A recuperação será progressiva ».
A ira do povo na rua não impressiona Meireles. « Conheço o PT, é um partido militante, vocal », diz. Ele julga que as manifestações são « sãs e legítimas e as vaias fazem parte da democracia ».
O leitor francês deve ficar perplexo ao ler que esse homem vindo das finanças internacionais, ex-presidente do Banco de Boston, foi presidente do Banco Central no governo Lula « apesar de pertencer à oposição, o PSDB », que a jornalista define como de centro-direita.
Na França, presidentes eleitos governam com pessoas diretamente comprometidas com suas ideias e seus programas. Mas o Brasil é um país muito peculiar e isso explica a colaboração de Meirelles com Lula.
« Lula serviu-se de Meirelles figura conhecida de Wall Street para tranquilizar os meios financeiros assustados com um ex-líder sindical que eles julgavam um revolucionário ».
O ministro da Economia é sincero: “Com Lula eu não compartilhava as mesmas ideias mas havia um respeito mútuo. Tive bastante autonomia », assegura o ministro.
Mais adiante, o leitor fica conhecendo detalhes da passagem pelo governo híbrido de Lula desse « neoliberal que tem medo de crescimento », frase atribuída ao ministro da Economia da época, Guido Mantega.
Definido no « Le Monde » por André Nassif (professor de Economia da UFF) como alguém que tem uma visão restrita da economia focalizada na estabilidade financeira e monetária, Meirelles é comparado a Fernando Henrique Cardoso, que como ministro das finanças entre 1993 e 1994 construiu sua imagem de presidenciável ao « ter controlado a hiperinflação graças ao Plano Real ».
A jornalista lança a pergunta :
« Numa paisagem política brasileira devastada por escândalos de corrupção, Monsieur Meirelles pode ser o homem providencial » ?
Para Carlos Langoni, outro ex-diretor do Banco Central, além de ser o darling do mercado, « Meireles é competente ».
Sua visão está em sintonia com a primeira medida que vai ser votada no Congresso para limitar por vinte anos a progressão das despesas do Estado ao ritmo da inflação.
A desconstrução de progressos sociais e o voo de galinha
O perfil de Meirelles adquire cores menos brilhantes na visão de João Cayres, membro da direção nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), definida como um sindicato próximo do PT. Para ele, Meirelles é apenas o executor das políticas impopulares a serviço das elites. Cayres vê na famosa « flexibilização » do mercado de trabalho a desconstrução dos progressos sociais já adquiridos.
Por outro lado, entre economistas a jornalista assinala dúvidas de que o recuo da idade da aposentadoria possa estimular o crescimento e severas críticas ao sistema fiscal brasileiro, considerado injusto. Se otimizado com a redução da injustiça fiscal, o Tesouro se encheria de recursos dos ricos contribuintes que por malabarismos fiscais não pagam impostos.
André Nassif vê nas medidas anunciadas uma política capaz de provocar apenas um “voo de galinha”.
O perfil do « Le Monde » termina dizendo que o apoio maciço do Congresso é uma chance para o ministro, que se defende da acusação de querer um « Estado mínimo ». Ele diz querer um Estado « viável ».
« Monsieur Meirelles tem dois anos antes da eleição presidencial de 2018 para agir e certos analistas já observaram que o governo atual no poder há cinco meses até agora falou muito mas não fez nada. »
Créditos da foto: Valter Campanato
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