sábado, 3 de setembro de 2016

Mídia brasileira construiu narrativa novelizada do impeachment

Mídia brasileira construiu narrativa novelizada do impeachment
Foi o que vimos desde o editorial de 1º de janeiro de 2015 de O Globo, que dava um ultimato a então presidenta Dilma Rousseff, eleita por 54 milhões de votos
Por Ivana Bentez
Do The Intercept // http://www.carosamigos.com.br/

Eis que a profecia autorrealizável se cumpriu. “PT deixa o governo após 13 anos” é a frase-slogan de triunfo de um grupo político 4 vezes derrotado nas eleições e estampado neste 31 de agosto de 2016 no site da Globo, deixando claro o que estava em jogo no impeachment da presidenta Dilma Rousseff. 

A operação jurídico-midiática que viabilizou o impeachment também explicitou um fato sabido: o negócio da mídia brasileira não é jornalismo e nem notícias, é construção de crise, instabilidade e “normalidade”. É o que podemos chamar também de novelização das notícias e uma tentativa exaustiva de “direção de realidade”. 
Foi o que vimos desde o editorial de 1º de janeiro de 2015 de O Globo, que dava um ultimato a então presidenta Dilma Rousseff, eleita por 54 milhões de votos: “Margem de erro para Dilma ficou estreita”, e mais tarde nos editoriais da Folha de S.Paulo e do Estadão que pediam sem rodeios o impeachment e destituição da presidenta. Os jornais e mídias em uníssono falando de uma economia “em coma”desempregoinsatisfação da FIESP, dos empresários, dos ricos e da classe média em revolta
Neste período, vivenciamos um apocalipse-Brasil diário com os vazamentos da Lava Jato, prisões coercitivas, delações premiadas em série e pautas-bombas lançadas em operações casadas entre o judiciário, a polícia e seu braço comunicacional, a mídia. Uma narrativa histérica, novelizada e em transe, produzindo tempestades emocionais que anunciavam o “Juizo Final”, expressão retomada pelo Estadão no editorial de 31 de agosto  celebrando a “profecia” anunciada da destituição da presidenta do Brasil.
A tempestade midiática foi calibrada e modulada, sua velocidade e intensidade foi gerida.
A tempestade midiática foi calibrada e modulada, sua velocidade e intensidade foi gerida, sendo desacelerada a partir do dia 13 de maio de 2016, com Dilma já afastada pelo rito doimpeachment. No dia da posse de Michel Temer como interino, a narrativa midiática em um passe de mágica se transformou, e já o editorial de O Globo profetiza em suas páginas o retorno a uma súbita normalidade: “Otimismo com o novo tom do Planalto”.
As pautas bombas desaparecem ou diminuem, a histeria e o alarmismo dá lugar a uma mídia de “pacificação” simbólica, como nas operações “pacificadoras” nas favelas cariocas. Produção de um discurso de segurança artificial e que “acalma” eleitores, empresários, “acalma o mercado” e diz que “agora” tudo está sob controle com a chegada de um “operador político” confiável.
Todas as ações de desmonte do interino Michel Temer foram saudadas peloGlobo nos cadernos de Opinião, Economia, Editoriais, como pautas positivas, a serem celebradas: “A acertada suspensão do Ciência sem Fronteira”, “Conheça os absurdos que ainda sobrevivem na CLT”, “Crise força o fim injusto do ensino superior gratuito” foram algumas manchetes da lavagem midiática do desmonte e mudança abrupta do programa chancelado em 2014 pelas urnas.
Em contínuos “atos falhos” e depois de chamar Temer de “presidente eleito”,O Globo se adianta ao julgamento no senado e chama Dilma de “ex-presidente”, antes mesmo do Senado tê-la julgado.

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