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por Luiz Carlos Azenha, com Garganta Profunda*
Na manhã de segunda-feira, 3 de setembro, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) participou de entrevista coletiva de repúdio à violência aplicada pela Polícia Militar do governo Alckmin contra protesto anti-Temer que já se dispersava, na noite anterior, no Largo da Batata, zona Oeste de São Paulo.
Teixeira deu detalhes sobre a atuação do delegado Fabiano Fonseca Barbeiro, da primeira Delegacia de Investigações Gerais (DEIC) de São Paulo, que pretendia enquadrar e manter presos 27 militantes por associação criminosa e corrupção de menores — com pena de até 5 anos de prisão.
Eles haviam sido detidos “para averiguação” pela PM em dois grupos distintos, nas proximidades do Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo, horas antes da manifestação na avenida Paulista.
O deputado estranhou a insistência do delegado Fabiano na tentativa de indiciamento, já que o policial não conseguia responder a uma pergunta: qual foi o crime?
Segundo Teixeira, o delegado afirmou que vinha estudando o assunto há mais de um ano e que poderia enquadrar os manifestantes por “crime de mera conduta”, o que é bastante subjetivo e permite a uma autoridade do Estado exercer a presunção de culpa, colocando de cabeça para baixo o Direito.
Não há melhor descrição para um Estado policial.
O deputado, que havia conversado com os jovens presos, disse que eram todos contrários à violência, que não se conheciam e que não eram adeptos da tática black bloc.
Lembrou que uma das jovens carregava material de primeiros socorros para eventualmente socorrer algum manifestante e que um dos presos, que não carregava mochila, tinha sido acusado de portar uma barra de ferro — o militante, no entanto, denunciou que o objeto tinha sidoplantado no pé dele por um PM.
Parentes e amigos negaram que os jovens pretendessem cometer violências no protesto. Um deles, o estudante de jornalismo Felipe Ribeiro, 27 anos, nem pretendia ir à manifestação, segundo a mãe dele. “Meu filho não é uma pessoa interagida com política, não sabe de nada. Nunca foi a uma passeata”, disse Maria Aparecida, 65 anos. Ela conta que Felipe foi ao CCSP fazer uma pesquisa na biblioteca para um trabalho escolar. “Ele foi preso apenas porque estava passando por ali”, disse.
A ESTRANHA CONDUÇÃO ATÉ O DEIC
Responsável pela prisão dos militantes, o soldado Marcelo Adriano Nowacki, da segunda Companhia do sétimo Batalhão da PM, disse que tinha ordens do comando para levar os jovens até o DEIC.
É um procedimento incomum, segundo afirmou o deputado Teixeira em sua entrevista. O Departamento Estadual de Investigações Criminais em geral lida com o crime organizado. Pelos jovens, lá, estava esperando o delegado que, de acordo com o parlamentar petista, “estudava o assunto” há mais de um ano.
O DEIC teve papel destacado na ditadura militar. Foi onde atuou o delegado-torturador Sergio Paranhos Fleury. Fleury, um dos criadores do Esquadrão da Morte em São Paulo, transmitiu aos militares todo o know how da tortura desenvolvido no combate ao crime comum, antes que o Exército importasse a “tortura científica” desenvolvida por franceses e norte-americanos nas guerras da Argélia e do Vietnã.
O delegado organizou uma caixinha para combater a “subversão”, através da qual enriqueceu extorquindo importantes empresários brasileiros. Fleury foi condecorado pelo governo paulista, pelo Exército e pela Marinha. Morreu em circunstâncias estranhas em maio de 1979.
O DEIC trocou de nome depois do fim da ditadura. Tornou-se o Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri). No governo Alckmin, retomou o antigo nome.
O diretor do DEIC, ao qual é subordinado o delegado Francisco, é Emygdio Machado Neto, empresário do ramo de postos de gasolina. Ele é homem de confiança do delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Youssef Abou Chaim, que atua no ramo da blindagem de veículos e tem negócios com um delator da Operação Lava Jato, conforme noticiou aqui o Viomundo.
Abou Chaim, por sua vez, é homem de confiança do ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, hoje ministro da Justiça do governo Temer.
Em sua entrevista, o deputado Teixeira afirmou ver nexo entre os acontecimentos em São Paulo e a política mais geral do governo Temer na área de segurança pública.
Alexandre de Moraes e o general Sérgio Etchegoyen, ministro-chefe do gabinete de Segurança Institucional, são tidos hoje como os organizadores da repressão aos movimentos sociais.
Teixeira, referindo-se ao DEIC, disse que a polícia civil paulista tinha mais o que fazer do que enquadrar manifestantes: ela esclarece apenas 5% dos homicídios que investiga.
De acordo com o petista, o aparato policial estava se prestando a cercear a liberdade de expressão e de manifestação e adotando o combate ao “inimigo interno” — a Lei de Segurança Nacional, que deu sustentação à ditadura militar, se baseava na doutrina do enfrentamento ao “inimigo interno” e colocou as polícias políticas e a PM a serviço dele.
No dia seguinte, em audiência de custódia, o juiz Rodrigo de Aguirre Tellini Camargo mandou soltar todos os detidos. “Esse tempo, felizmente, já passou”, escreveu na sentença o magistrado, referindo-se às “prisões para averiguação” da ditadura militar. Segundo ele, não havia nexo entre os detidos que permitisse enquadrá-los por “associação criminosa”, como pretendia fazer o delegado Francisco — aquele, que estudava o assunto “há mais de um ano”, segundo o deputado Teixeira.
BALTA, O INFILTRADO
Em sua entrevista, o deputado petista denunciou a suspeita da existência de um infiltrado no grupo de presos em São Paulo, já que um dos detidos havia desaparecido do grupo.
De acordo com a Ponte, trata-se do capitão de inteligência do Exército Willian Pina Botelho, que se apresentou na rede social Tinder como Baltazar Nunes, o Balta, e tinha o objetivo de se infiltrar em grupos de esquerda.
Ele formou-se em Ciências Militares na Academia Militar das Agulhas Negras. Serviu em Araguari, Minas Gerais, fez mestrado no Rio de Janeiro e atuava agora no II Exército em São Paulo.
Na Justiça, o capitão já acionou duas vezes o Banco do Brasil e uma vez a Telefonica — nos três casos por danos morais.
O processo contra a companhia telefônica nasceu do fato de que, ao tentar alugar um apartamento em São Paulo, Willian Pina Botelho estava com o nome sujo no Serasa. Na ação, ele apresenta como seus endereços a avenida Brigadeiro Luis Antonio, 3249 e a rua Turiassu, 1863, ambos em São Paulo.
Nas últimas horas, Balta se tornou motivo de piada nas redes sociais por posar de agente secreto mostrando a própria foto no Tinder.
No entanto, a participação dele no imbroglio com a PM paulista demonstra o nexo entre os governos Alckmin e Temer que havia sido denunciado já na segunda-feira pelo deputado Paulo Teixeira.
Um capitão do Exército aciona a PM, que aciona o DEIC: não, não foi coincidência, nem por acaso…
Nos Estados Unidos, muitas ações antiterroristas tem sido denunciadas pela infiltração de agentes do FBI, que não apenas participam de grupos como estimulam e organizam ações, montando verdadeiras armadilhas para militantes com o objetivo de enredá-los com leis draconianas,conforme denunciou aqui a repórter Heloisa Villela.
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