por : Pedro Zambarda de Araujo // http://www.diariodocentrodomundo.com.br/
A doação milionária à candidata Geni
O Bolsa Família foi um dos alvos preferenciais da imprensa durante as eleições municipais de 2016. Manchetes alegavam que as doações dos beneficiados pelo programa tinham sinais de fraudes eleitorais.
O ministro do STF Gilmar Mendes afirmou à Globo que laranjas estavam sendo utilizados após o bloqueio de doações privadas para os candidatos a vereador e a prefeito nas cidades brasileiras.
Santa Cruz da Baixa Verde é um município no interior de Pernambuco com 12 mil habitantes a 450 quilômetros de Recife, dentro do sertão nordestino. Fundado no final do século 19, é conhecido como a “capital da rapadura” pela forte produção histórica de cana-de-açúcar.
A cidade foi notícia nacional por conta de uma candidata derrotada nas eleições. A agricultora Maria Geni do Nascimento, do PDT, teria recebido R$ 75.000.844,36 milhões de um beneficiado pelo Bolsa Família chamado Pedro Henrique da Silva Rodrigues.
O valor, no entanto, era mentira.
O correto era R$ 750. A informação errada veio da inclusão de números zeros adicionais feita por um funcionário do TSE. Até que a verdade viesse à tona, UOL, Veja e todos os grandes veículos de imprensa noticiaram o caso como se fosse um verdadeiro escândalo.
Geni não foi eleita vereadora. A mídia depois fez uma errata discreta. O DCM conseguiu entrar em contato com Pedro em Santa Cruz da Baixa Verde.
O jovem universitário queixou-se da irresponsabilidade dos jornalistas no caso, que divulgaram o seu CPF e sua faculdade, além de outros dados privados. Ele diz que recebe o Bolsa Família desde o primeiro mandato de Lula e que a candidata Geni é amiga de sua mãe e sua vizinha.
DCM: Pedro, quem é você e onde você estuda? Qual é a sua idade?
Pedro: Eu não gostaria de divulgar minhas informações detalhadas e nem o local onde estudo. E vou te explicar o motivo.
DCM: Qual é a razão? E como aconteceu a doação que você fez à candidata Maria Geni do Nascimento, do PDT?
Pedro: Fiz uma doação para a candidata de R$ 750, não sei se o senhor ficou sabendo. E o valor saiu com erro de digitação.
DCM: Na verdade o jornal O Globo divulgou que foram R$ 75. Foi R$ 750, na realidade?
Pedro: Sim. Eles só descobriram isso quando foram contabilizar as doações e notaram o erro de digitação, com números a mais.
DCM: Como você se sentiu?
Pedro: Me senti e ainda estou exposto desnecessariamente pelas notícias que falam sobre o caso. Vários sites e veículos da imprensa divulgaram meu nome completo, CPF, a universidade onde eu estudo e o curso, entendeu?
Tudo foi colocado de forma pública sem o meu consentimento e as pessoas não foram sequer me consultar, ouvir o outro lado. Tudo isso gerou um constrangimento que ainda dura.
DCM: Como você fez a doação para a candidata Geni? Você a conhece?
Pedro: Conheço ela sim. É minha vizinha e amiga da família, do meu convívio pessoal.
DCM: O erro no cadastro da sua doação para a candidata Geni foi feito de má-fé ou foi apenas um acidente?
Pedro: Foi um erro de digitação e eu conheço o funcionário que registrou errado a informação. Ele assumiu o que fez para mim e para as pessoas que estavam comigo. O erro foi dele. A gente foi até a Promotoria para prestar esclarecimentos. Está tudo certo. Fui dar meu depoimento nessa semana mesmo.
DCM: E como foi o Bolsa Família para a sua vida? O programa te ajudou?
Pedro: Sou um dos beneficiados pelo programa, mas quem tem o cartão não sou eu e sim minha mãe. Está no nome dela e eu estou no cadastro. As pessoas da minha família estão registradas, mas é uma pessoa só que recebeu o cartão titular.
O Bolsa Família ajuda todo mundo aqui até hoje. A gente recebe desde 2002, quando não tinha esse nome [era o Bolsa Escola na época], há 14 anos.
DCM: Ao receber o benefício, você deixou de estudar?
Pedro: Estudei tudo, só que, quando terminei o Ensino Médio, eu não entrei de cara na faculdade. Fiquei uns dois anos até entrar. Me sinto exposto na internet com esse erro divulgado.
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