Cíntia Alves // http://jornalggn.com.br/
Jornal GGN - No vídeo em que fornece detalhes sobre o chamado "acordão" para "estancar a sangria" que a Lava Jato representa para a classe política, o delator Sergio Machado mostra que tem condições de citar nomes de parlamentares do PSDB que discutiram a tentativa de obstruir a investigação com o senador Romero Jucá (PMDB). Porém, como se vê na gravação, os investigadores preferiram seguir com o interrogatório sem perguntar quem são os tucanos envolvidos no esquema para frear a Lava Jato.
A partir dos 18 minutos e 50 segundos de vídeo, a força-tarefa se mostra mais interessada em arrancar de Machado uma declaração que serviria, posteriormente, para preencher manchetes de jornais: a de que existiu um "acordão" para "estancar" a Lava Jato envolvendo políticos de várias vertentes. A conversa começa no seguinte ponto:
Lava Jato: O senhor falou em solução política [para barrar as investigações]. Discutiram alguma iniciativa para limitar a Lava Jato?
Sergio Machado: Na conversa com o senador Romero, ele falou que esteve há poucos dias com o PSDB, que estava interessado no assunto. Ele aventou as hipóteses de manter a operação no que estava ou aguardar uma constituinte, que poderia acontecer em 2018, onde seria limitado o poder do Ministério Público.
Lava Jato: Então o senador conversou com parlamentares do PSDB para costurar um acordo…
Sergio Machado: Isso estava acontecendo com vários politicos interessados no assunto. Tinha muita gente peocupada com isso em Brasília.
Lava Jato: E a solução seria o que? Estancar...
Sergio Machado: Uma das soluções seria estancar, a outra seria a constituinte.
Nesse momento, o delator é interrompido pelos membros da força-tarefa que pendem "um minutinho” para registrar as falas sobre estancar a Lava Jato. Um deles dita o que está indo para o papel: “Jucá confidenciou tratativas com o PSDB para limitar a Lava Jato, mas não se limitava ao PSDB." Machado concorda e tenta retomar desse ponto, mas os investigadores não perguntam dos tucanos.
Machado segue o depoimento dizendo que, depois de conversas com Jucá e os senadores Renan Calheiros e José Sarney, todos do PMDB, ele ficou sabendo que estava em discussão um plano para "limitar" os efeitos da Lava Jato.
Eles apontaram três caminhos: editar uma lei para proibir delações de pessoas presas, fazer uma constituinte em 2018 para tirar poder do Ministério Público e pressionar o Supremo Tribunal Federal a enterrar a possibilidade de que sentenças em segunda instância já sejam suficientes para determinar o cumprimento da pena em regime fechado.
Machado também disse que, desde dezembro de 2015, quando sua residência foi alvo de busca e apreensão na Lava Jato, ele se preocupava com a possibilidade de cair em uma delação e buscava políticos para discutir alternativas. Para ter uma moeda de troca, decidiu gravar conversas com esses políticos para entregar à Lava Jato, caso fosse detido.
Numa das gravações, Jucá aparece dizendo que para estancar a Lava Jato, seria necessário mudar o governo Dilma Rousseff, colocando Michel Temer em seu lugar.
Em outra, ele diz que, em Brasília, está "todo mundo na bandeja para ser comido."
Ex-tucano, Machado tentou flagrar Jucá falando de um esquema de distribuição de propina para eleger Aécio Neves (PSDB) presidente da Câmara em 2001.
O delator disse que, se o PSDB caísse na Lava Jato, "o primeiro a ser comido vai ser o Aécio", e acrescentou: "O Aécio não tem condição, a gente sabe disso, porra. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...". Jucá respondeu: "É, a gente viveu tudo."
Não é a primeira vez que a equipe da Lava Jato é flagrada não avançando sobre informações cedidas por delatores que envolvem o PSDB.
O GGN revelou, em setembro, que Eike Batista procurou a força-tarefa para entregar o que sabia a respeito de pagamentos da campanha do PT ao marqueteiro João Santana. Para demonstrar boa vontade, ele levou uma lista de doações oficiais e "privadas" - sugerindo pagamentos em contas estrangeiras - que ele teria feito nos últimos anos, e destacou que havia nomes do PSDB no papel. A reação da Lava Jato foi devolver o documento para os advogados de Eike.
Ao solicitar a prisão de Jucá, Renan e Sarney, a Procuradoria Geral da República indicou que o acordão foi executado, em parte, quando Michel Temer assumiu a presidência e nomeou, para ministérios, Jucá e Sarney Filho, entre outros nomes indicados pelo PSDB. Os tucanos emplacaram o ministro da Justiça Alexandre de Moraes, que se envolveu recentemente em polêmicas que colocam em xeque a independência da Lava Jato em Curitiba. O Supremo, contudo, rejeitou, o pedido da PGR.
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