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Por Flávio Aguiar.
5 de outubro de 2016: o governo anuncia que quer tirar o Brasil do vermelho.
Não é bem assim. Porque este governo está transformando o Brasil num cheque sem fundo para os brasileiros, mas especial e sem limite para as multinacionais, as petroleiras, as financeiras.
Na verdade o que o governo quer é expulsar o vermelho do Brasil.
Não vai dar certo.
Pra começo de conversa, o governo teria de aprovar uma PEC reformando o arco-íris.
Ou proibindo de vez que o arco-íris apareça no Brasil. Mas aí ele teria de proibir também o nascente e o poente. E o planeta Marte.
O vermelho está em toda parte.
Está na camiseta do Internacional, do América, do Bangu, do Flamengo, do Remo, do São Paulo e de muitos outros times brasileiros. Não que os outros times não tenham direito a outras cores. Claro que têm. Porque o Brasil ainda é, apesar do novo governo, o Brasil de todas as cores. O Brasil do arco-íris, até do ultra-violeta e do infra-vermelho, do branco e do negro, tudo misturado.
O vermelho está em doze das bandeiras dos estados brasileiros. Até na do estado de São Paulo! E a do Espírito Santo tem uma faixa cor-de-rosa.
E ele está também nas bandeiras de inúmeros países: Portugal, França, Itália, Albânia, Croácia, Montenegro, Dinamarca, Noruega, Equador, Bolívia, México, Japão, Egito, Angola, África do Sul, Nova Zelândia… apenas para citar alguns. Até na bandeira dos Estados Unidos o vermelho aparece!
O vermelho está no rabanete e no tomate, e portanto está no molho bolonhesa e na pizza. Está em algumas das pimentas. Na fruta do café, na maçã, na romã, no morango, na framboesa, na rosa e no cravo, no hibisco e no gerânio, etc., etc., etc…
O vermelho está na alma do churrasco…
O Brasil é vermelho. Querer tirar o vermelho do Brasil é querer tirar o Brasil do Brasil. Porque a palavra Brasil tem a mesma raiz de brasa, braseiro, brasear, esbraseado… Querer tirar o vermelho do Brasil é querer reduzir o Brasil a cinzas.
O vermelho está nas meias e nos paramentos dos cardeais. E também subiu à cabeça dos cardeais – os pássaros. E está na crista dos galos e das galinhas.
O vermelho é a cor exclusiva das esquerdas? Ora, ora, nos Estados Unidos os republicanos, que são normalmente mais reacionários do que os democratas, se identificam pela cor vermelha, e os democratas, que normalmente são menos reacionários do que os republicanos, pela cor azul.
O vermelho une a humanidade. Porque é a cor do sangue dos africanos, dos europeus, dos americanos, dos asiáticos, dos oceânicos, dos moradores do Ártico e dos visitantes da Antártida e também dos que moram na linha do Equador. É a cor do sangue de homens e mulheres, de crianças e idosos, de LGBTs e heterossexuais… Como se vê, o vermelho não tem preconceitos.
Se os glóbulos vermelhos parassem de se reproduzir, os seres humanos morreriam sufocados.
Acho que o governo se empolgou com sua foto, a inaugural. Aquele bando de homens de terno preto mas de alma apenas branca.
E agora está querendo tapar o Brasil arco-íris com a sua peneira.
Porque não dá para proibir apenas o vermelho.
Tem que destruir o arco-íris.
Por isto, defendamos o arco-íris. O nosso Brasil arco-íris e de tudo quanto é cor. E fica declarado que daqui por diante o 5 de outubro será o dia do arco-íris.
***
Flávio Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947, e reside atualmente na Alemanha, onde atua como correspondente para publicações brasileiras. Pesquisador e professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, tem mais de trinta livros de crítica literária, ficção e poesia publicados. Ganhou por três vezes o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, sendo um deles com o romance Anita (1999), publicado pela Boitempo Editorial. Também pela Boitempo, publicou a coletânea de textos que tematizam a escola e o aprendizado, A escola e a letra (2009), finalista do Prêmio Jabuti, Crônicas do mundo ao revés (2011) e o recente lançamento A Bíblia segundo Beliel (2012). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.
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