Duas graves denúncias graves de ameaças à liberdade de imprensa colocam o governo argentino em cheque no quesito respeito à liberdade de imprensa.
Com informações do Diario Registrado, da Argentina // www.cartamaior.com.br
Nas últimas semanas, duas acusações de extrema gravidade se tornaram notícia na Argentina, devido a que se configuram como ameaças importantes à liberdade de imprensa no país.
A primeira delas veio à tona há duas semanas, quando se soube do caso de tortura contra jovens de 15 e 18, pertencentes ao coletivo Garganta Poderosa, responsável pela revista do mesmo nome. Os garotos foram vítimas de tortura por parte de policiais, dentro de uma comissaria, na Grande Buenos Aires. O caso foi denunciado à Justiça argentina e a organismos nacionais e internacionais de direitos humanos.
Na quinta-feira (6/10), o Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS) questionou o atuar da ministra de Segurança, Patricia Bullrich por sua omissão ao reagir ao caso. Além da denúncia a respeito das torturas, as quais continham fotos das marcas deixadas nos adolescentes, a organização também mostrou depoimentos de moradores da Villa 21 – onde ocorreu o caso – que falam em simulacro de fuzilamento dos jovens em tom jocos, por parte dos policiais.
Após apresentar a denúncia, um dos jovens torturados, Iván Navarro, recebeu ameaças de morte por telefone, e também foi intimidado pessoalmente quando regressou à favela Villa 21, na quarta-feira passada (5/10), durante a gravação de um vídeo onde detalhava o acontecido.
O pedido de explicações enviado pelo CELS se dá devido ao completo silêncio do Ministério de Segurança a respeito do caso nas últimas duas semanas, especialmente da ministra Patricia Bullrich, aliada histórica de Mauricio Macri. “Já faz mais de duas semanas que o caso aconteceu e a falta de reação por parte do Ministério é inexplicável”, declarou a conta de twitter da organização não governamental.
Gastón Chillier, diretor executivo do CELS, recordou outro caso, onde a reação da ministra foi completamente diferente: quando a polícia usou balas de borracha para reprimir um carnaval de rua organizado por menores de idade na Villa 1-11-14, a ministra Bullrich apareceu poucas horas depois, e se posicionou a favor do atual da força pública. Na ocasião, ela tentou justificar a ação alegando um suposto ataque dos jovens contra os policiais, o que jamais foi comprovado – pelo contrário, as investigações determinaram, depois, que os efetivos que a ministra apresentou como feridos não foram vitimados no episódio da Villa 1-11-14, e sim em outro incidente.
No documento entregue ao Ministério de Segurança, o CELS faz somente duas demandas: o afastamento das autoridades policiais envolvidas no caso da tortura aos jovens do coletivo Garganta Poderosa e a instalação de uma investigação interna, em operativo que envolva também as garantias de segurança dos garotos torturados.
Espionagem à jornalistas
Outra grave denúncia que coloca em cheque a liberdade de imprensa e os direitos humanos tem a ver com o uso de serviços de inteligência do Estado contra jornalistas, por parte do governo de Mauricio Macri.
A denúncia nesse sentido partiu do Grupo Indalo, que é responsável, entre outros, pelo canal de notícias C5N. Um comunicado da empresa, baseado em informações de fontes não reveladas, afirma que dois importantes jornalistas do canal C5N estão sendo espionados pela Agência Federal de Inteligência (AFI).
As missões de inteligência teriam sido realizadas através da interceptação de correios eletrônicos pertencentes aos jornalistas Mauro Federico, Gustavo Sylvestre e Fabricio Cardelli.
A primeira informação a respeito da denúncia surgiu no portal Adelanto 24, e logo foi confirmada pelo Grupo Indalo, através de fontes próximas à AFI, que teriam confirmado que havia trabalhos de monitoramento a profissionais do grupo.
A fonte informou que “é lógico que o governo tenta se antecipar às investigações jornalísticas que envolvem pessoas ligadas a ele. Mas claro que ninguém vai confirmar oficialmente esta informação, e vão tentar desmenti-la”. Também afirmou que há consultoras de inteligência privada também envolvidas, trabalhando junto com o serviço estatal. As privadas seriam encarregadas de fazer o “trabalho sujo”.
Segundo a informação publicada pelo portal Adelanto 24, haveria dois memorandos que falam sobre as tarefas de espionagem aos jornalistas, um deles com data de abril de 2016, cujo assunto é “produção de informe”, e descreve como foi realizada a interceptação dos correios eletrônico dos jornalistas Mauro Federico, Gustavo Sylvestre e Fabricio Cardelli. No segundo, o alvo é o subdiretor do diário Ámbito Financiero, também pertencente ao Grupo Indalo. Neste segundo memorando, se ressalta que operação “monitora vários profissionais que trabalham no jornalismo de investigação do canal C5N, como Ignacio Ramírez, que também é funcionário do Grupo Indalo”.
A informação aponta o técnico informático Emiliano Deza como “o braço executor destas violações à privacidade”. Deza teria trabalhado anteriormente com Fernando Pocino, diretor da antiga SIDE (Secretaria de Inteligência do Estado, antigo organismo de inteligência, que depois foi reformado por Cristina Kirchner) e com o ex-chefe militar César Milani, envolvido em denúncias de espionagem de opositores e em violações aos direitos humanos durante a última ditadura argentina.
Tradução: Victor Farinelli
Créditos da foto: Beto Barata / PR
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