A mídia chapa-branca, alimentada pelas fortunas em publicidade oficial, pelos pacotes de assinaturas e por outras regalias inconfessáveis, sempre blindou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) - o que ajuda a explicar a sua hegemonia de quase duas décadas em São Paulo, confirmada novamente nas eleições municipais deste ano. Até os escândalos mais vergonhosos viram motivo de fofocas servis nos jornalões, revistonas e emissoras de rádio e tevê. Neste sábado (5), a coluna Radar, da decadente revista Veja, postou mais uma notinha carinhosa - e minúscula - sobre os hábitos aristocráticos do grão-tucano, que transformou a sede do governo paulista em um "palácio da princesa":
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"Sede do governo estadual de São Paulo, o Palácio dos Bandeirantes vem tendo sua rotina burocrática quebrada por ensaios de moda. Filha mais velha do governador Geraldo Alckmin, com 36 anos, Sophia Alckmin, utiliza o local para realizar suas produções.
Formada em Direito, ela não exerce a carreira, mas faz bastante sucesso como blogueira de moda. Aos seus 400 mil seguidores do Instagram, exibe uma profusão de fotos em que ostenta sapatos, bolsas, joias e roupas de grife.
Como cada ensaio desses exige trabalho exaustivo, os funcionários do Palácio ficam ali de prontidão, como forma de garantir que nada falte à princesa".
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A matéria até tem um tom irônico, mas não se atreve a explicitar qualquer crítica ao governador - que coloca funcionários e a estrutura do Palácio dos Bandeirantes para alavancar a carreira da filhinha. O caso também não teve destaque na revistona, que adora promover a escandalização da política contra os adversários da golpista famiglia Civita. Não é a primeira vez que Sophia Alckmin é notícia, mas sempre de forma subserviente e pueril. Em setembro do ano passado, uma foto dela em Nova York até rendeu algumas notinhas nos jornais, mas rapidamente desapareceu do noticiário. Na ocasião, o jornalista Lino Bocchini publicou uma matéria indignada na revista CartaCapital. Vale conferir:
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Foto de Sophia Alckmin em NY evidencia parcialidade da mídia
Por Lino Bocchini - 15/09/2015
Filha do governador Geraldo Alckmin estava na semana de moda de Nova York e a mídia tratou o fato como uma futilidade. Imagine o Lulinha na mesma situação
Viralizou na internet nesta terça-feira, 15, uma fotografia de Sophia Alckmin, filha do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que apareceu involuntariamente ao lado de duas celebridades americanas, na semana de moda de Nova York. Vários sites de celebridades e amenidades noticiaram o caso como algo pitoresco, divertido.
Agora pare um minuto, olhe novamente para a imagem e pense: e se ao invés de Sophia Alckmin fosse o Lulinha, filho do ex-presidente Lula, sentado no banco nesta foto?
Os sites e os jornais colocariam a imagem na parte de celebridades e amenidades ou nas páginas de política?
A filha do governador de São Paulo pode viajar para onde bem entender e fazer o que quiser que ninguém questiona nem ela nem ao pai. Nem um único jornalista liga para o Palácio dos Bandeirantes para saber quem pagou sua viagem, suas roupas, sapatos e bolsas de marca, a fatura do seu cartão de crédito internacional.
Ninguém faz plantão na porta de seu hotel para questionar se ela foi de classe executiva ou econômica, se o seu blog de moda tem algum financiamento ou saber quanto custou a garrafa de vinho que ela tomou com as amigas na noite anterior – era Romanée-Conti?
Não sabemos nada sobre os gastos da filha jet-setter do governador. E ninguém se interessa em perguntar. Fica tudo por isso mesmo. Afinal, Sophia está em seu “habitat natural”, no entender dos editores e diretores dos meios de comunicação. Já o Lulinha... esse, como se sabe, é dono da Friboi, da Ambev, do Uber, do Facebook e da lua, e já deveria estar preso com o pai há muito tempo.
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As viagens de Lu Alckmin
De fato, o eleitor paulista, que elege e reelege Geraldo Alckmin - num tipico caso de masoquismo -, não conhece nada sobre a sua família e, muito menos, sobre as inúmeras denúncias de corrupção que pesam contra o seu longo reinado. E olha que não faltam escândalos: trensalão tucano, que a mídia batizou marotamente de "cartel dos trens"; máfia da merenda escolar, que a Assembleia Legislativa de São Paulo faz de tudo para abafar; desvios bilionários da Sabesp; e muitos outros casos. Quanto à "recatada" família, há também muito que se falar - mas a mídia evita incomodar a privacidade do querido governador. Afinal, ele é tão generoso com a publicidade oficial e com outras benesses!
Em janeiro passado, a Folha até publicou uma matéria sobre as extravagâncias da esposa do tucano, "dona" Lu Alckmin. Segundo a reportagem, entre 2011 e 2015, ela fez 132 deslocamentos em jatos e helicópteros do Estado - quase o dobro das viagens realizadas pelos secretários do governador. As aeronaves oficiais ainda foram disponibilizadas para políticos que não atuam na esfera estadual, como o cambaleante Aécio Neves, o ex-premiê britânico Tony Blair e o famoso Delcídio Amaral. Na ocasião, Geraldo Alckmin justificou as regalias na maior caradura. "Dona Lu desenvolve um amplo trabalho voluntário, com agenda transparente". A resposta foi considerada satisfatória pela mídia chapa-branca, que nunca mais tratou do assunto constrangedor. E segue a carruagem!
Em tempo: Ainda sobre Sophia Alckmin, a "princesa do Palácio dos Bandeirantes", reproduzo uma matéria postada neste blog em outubro de 2006. Como se observa, a moça é famosa há muito tempo:
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A filha de Alckmin e o contrabando na Daslu
Por Altamiro Borges
Talvez por sua formação puritana no Opus Dei, o candidato Geraldo Alckmin gosta de se fingir de casto e imaculado. No debate da TV Bandeirantes, ele fez questão de se mostrar "indignado" com a corrupção e criticou o fato de o presidente Lula repetir que "não sabia" dos desvios de conduta no seu governo. "É só perguntar aos seus amigos de 30 anos", alfinetou o falso moralista num momento de cólera bem ensaiado.
Mas, para ser consequente e manter as aparências, Alckmin deveria ter se desculpado em público por ter cortado a fita de inauguração da Daslu, templo de consumo dos ricaços, hoje processada por contrabando, sonegação fiscal e outras crimes. "Eu não sabia", deveria ter tido. Também poderia pedir desculpas por sua filha, Sophia Alckmin, ter sido gerente de compras nesta loja de contrabandistas. "Eu não sabia". E ainda deveria explicar porque os diretores da Daslu, sempre acompanhados de sua filha, reuniram-se com o secretário da Fazenda do seu governo, Eduardo Guardia. "Eu não sabia". Entre uma pregação do Opus Dei e sua agenda de governador, talvez não tenha tido tempo para acompanhar os negócios de sua filha!
Alckmin chegou de helicóptero
A nova loja da Daslu, um prédio de quatro andares e 20 mil metros quadrados, situada num bairro nobre da capital, foi inaugurada em junho de 2005. A colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, descreveu a festança dos ricaços com ares de ironia. "E soam os violinos da Daslu Orchestra, formada por 50 músicos. São 12 horas de sábado. Alckmin, que chegou ao prédio de helicóptero, desfaz a fita. 'A Daslu é o traço de união entre o bom gosto e muitas oportunidades de trabalho', diz. Só para a família Alckmin são duas: trabalham lá a filha [diretora de novos negócios da butique] e a cunhada dele, Vera".
Ainda segundo a picante crônica de Mônica Bergamo, "Sophia puxa o pai pelo braço: começa o tour pela Daslu. Primeiro piso, importados femininos. Alckmin entra na Chanel, onde um smoking de veludo preto é vendido a R$ 22.600, uma sandália de cetim, gurgurão e pérolas sai por R$ 2.900 e uma bolsa multipocket, por R$ 14.000. As vendedoras informam que há mais de 50 pessoas na fila em São Paulo para comprar o mimo, até baratinho se comparado à bolsa Dior de couro de crocodilo, de R$ 39.980, e à mais cara Louis Vuitton, com pele de mink: R$ 23 mil".
"Vou colocar um jeans"
"Sophia leva o pai até o segundo pavimento. Mostra um helicóptero pendurado no teto. 'Que lindas as motos, Sô', diz Lu Alckmin à filha ao ver, encostada perto da escada, uma moto Harley Davidson (R$ 195 mil). Alckmin entra na Ermenegildo Zegna, passa pela Ralph Lauren, onde uma camiseta pode custar R$ 2.460. 'É tudo muito colorido aqui', observa. Os carros chamam a atenção do governador. Estão em exibição um Volvo de R$ 365 mil, lanchas de R$ 7 milhões, TVs de plasma de R$ 300 mil".
"O governador começa a fazer o caminho de volta. Os repórteres perguntam a Lu Alckmin: A senhora está de bolsa Chanel. E a blusa? 'É Burberry', responde Lu. 'Gosto de peças clássicas'. O governador, que diz comprar só 'umas camisas' na Daslu, aperta o passo. Ainda vai a Carapicuíba. E Lu tem que correr para o Palácio dos Bandeirantes. Precisa se trocar, 'colocar um jeans', para outro compromisso: um evento na Água Branca em que caminhões de vários bairros entregarão agasalhos doados para as crianças pobres da cidade enfrentarem o inverno que se avizinha", conclui, sarcástica, Mônica Bergamo.
"Uma organização criminosa"
Poucos meses depois do ex-governador cortar a fita inaugural da Daslu, um antigo processo judicial contra os donos da butique de luxo finalmente ganhou agilidade. No final de dezembro, a juíza Maria Isabel do Prado, da 2a Vara de Justiça Federal de Guarulhos (SP), recebeu os livros contábeis e fiscais da loja. Para ter acesso a estes documentos, a juíza chegou a ameaçar de prisão a dona da butique, Eliana Tranchesi, o seu irmão Antonio Carlos Piva e os responsáveis pela contabilidade do estabelecimento.
Tais papéis comprovaram a denúncia do Ministério Público Federal de que a Daslu atua em conluio com importadoras para substituir notas fiscais fornecidas por grifes estrangeiras por notas falsas subfaturadas. Com base nos livros fiscais e contábeis, Eliana e seu irmão foram acusados de formação de quadrilha, importação irregular e falsidade ideológica. No caso da influente proprietária, a soma de penas por estes crimes chega a 21 anos de prisão. Segundo Jefferson Dias, procurador da República, a Daslu agia como uma quadrilha. "Trata-se de uma organização criminosa pela hierarquia e a divisão de tarefas que existia".
Devido aos seus estreitos vínculos com figurões da elite e autoridades do governo estadual, a trambiqueira de luxo sequer tomou os cuidados que outros sonegadores costumam adotar. "A sensação de impunidade fez com que eles se descuidassem e a situação ficou descontrolada", argumenta Matheus Magnani, outro procurador envolvido na apuração. Eliana Tranchesi participava diretamente do esquema ilícito, chegando a enviar aos fornecedores estrangeiros pedido em inglês para que eles não remetessem faturas verdadeiras dos produtos. A proprietária ainda foi acusada de crime contra a ordem tributária e evasão de divisa.
ACM chorou e Bornhausen esbravejou
Diante destas graves acusações e da tentativa de ocultar provas, em 13 de junho de 2006, a Polícia Federal acionou a Operação Narciso e ocupou a Daslu com 250 agentes e 80 auditores fiscais. A inédita operação foi elogiada pela sociedade, mas os ricaços, a mídia e vários políticos da elite fizeram um baita escândalo. A asquerosa revista Veja chegou a afirmar que a ação da PF era uma jogada do governo Lula para abafar a crise política. O senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL, criticou o "revanchismo". Já o coronel Antônio Carlos Magalhães, assíduo frequentador da loja, chorou ao falar ao telefone com a contraventora detida por algumas horas. E a poderosa Federação da Indústria de São Paulo convocou um ato de repúdio.
O líder do PSDB, deputado Alberto Goldman, foi quem explicitou a forma de agir da burguesia. Para ele, "essa prisão pode gerar uma crise econômica. O empresário vai dizer: para que vou investir no Brasil se posso ser preso?". Ou seja: na concepção tucana, só quem pode ser preso no país é o ladrão de galinha! O empresário que sonega imposto, remete ilegalmente dinheiro ao exterior ou comete outros crimes não pode ser tocado e ainda conta com a ajuda de certos políticos - que depois serão recompensados nas suas campanhas. O escândalo da Daslu explicitou que a corrupção é regra no mundo dos negócios capitalistas.
Reuniões na Secretaria da Fazenda
A Operação Narciso também levantou fortes suspeitas sobre a atuação do governador Geraldo Alckmin, que havia inaugurado o mega-loja de luxo na capital paulista. Na ocasião, a mídia destacou o fato da sua filha, Sophia Alckmin, ser uma prestigiada "dasluzete", responsável pelo setor de novos negócios da loja. No rastro da ação da PF, surgiram denúncias de que esta influente funcionária já havia se reunido com o secretário da Fazenda de São Paulo, Eduardo Guardia. O governo negou e a mídia preferiu o silêncio!
Mas, convocado para depor na Assembleia Legislativa, Guardia admitiu que a filha de Alckmin estivera na sede da secretaria junto com outros chefões da Daslu em, pelo menos, duas vezes no primeiro semestre de 2005. As visitas ocorreram exatamente no período em que loja solicitou autorização da Fazenda para instalar um sistema de vendas com caixa único, algo pouco usado no país e mais vulnerável à sonegação. O secretário negou qualquer "concessão de privilégios", mas gaguejou ao explicar a visita da "ilustre" filha do governador. Uma auditoria especial do Tribunal de Contas foi solicitada para averiguar o caso.
Para Renato Simões, deputado estadual do PT, não resta dúvida sobre os vínculos do ex-governador com a Daslu. "Os líderes da bancada governista primeiro negaram a presença da filha do Alckmin na Fazenda. O secretário, por sua vez, confirmou a ida. Isso significa que houve uma tentativa de usar o nome da filha do governador para agilizar a tramitação do processo do caixa único". A tucanagem paulista, que hoje tenta posar de vestal da ética e adora ostentar o luxo desta butique das trambicagens, deve uma explicação à sociedade. A mídia venal, que evita tratar do assunto com o destaque que ele merece, também! Já o presidenciável Geraldo Alckmin, caso seja acuado, poderá dizer: "Eu não sabia".
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