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De tanto que esses argumentos são repetidos, você acaba se convencendo que esta é a realidade e pronto.
Você não pode mudar o mundo.
Então, esqueça.
Vá ao cinema, de preferência para ver um daqueles filmes produzidos com grande qualidade técnica em Hollywood (Sugestão: o Inferno, de Ron Howard, com Tom Hanks); leia um livro do Paulo Coelho e comente com os amigos como ele escreve bem; assista uma novela da Globo e independentemente da história, enalteça o padrão de qualidade das imagens; enfim, divirta-se no FACEBOOK com seus amigos (e alguns inimigos) virtuais.
Fazendo isso, você está ajudando a consolidar esse mundo globalizado, no qual, 1% dos ricos, detém 50% da renda, sobrando os outros 50% para serem divididos em 99% dos pobres, onde, sem qualquer dúvida, nós - você e eu - estamos incluídos.
Quem dá estes números é Thomaz Piketty, no seu livro O Capital no século XXI.
Depois, podemos falar um pouco mais do livro, mas vamos voltar agora ao FACEBOOK.
Quando Marx escreveu O Capital, a versão original, não poderia imaginar que o capitalismo chegaria a esse grau de evolução. A sua tese central, de que o capitalismo cresce através do lucro originário da mais valia, o trabalho não pago aos operários, continua verdadeira, mas ficou muito mais difícil de ser explicada.
O trabalhador, o operário da fábrica , aquele revolucionário que Marx, Engels e depois Lenin, viam no final do século XIX e no início do século XX, existe hoje, apenas nas grandes unidades de produção que o tal capitalismo globalizado espalhou pela Ásia principalmente. São os chamados países de mão de obra barata, eufemismo para trabalho escravo.
O que vemos hoje, são trabalhadores, que não acreditam nas lutas de classe; que não se consideram mais operários, porque vivem dispersos por pequenas unidades operacionais, alguns mesmo produzindo sem sair de casa, sem quaisquer vínculos com os demais trabalhadores, e - o que é mais perturbador - são trabalhadores com uma nova ideologia, a da classe dominante.
Se consideram integrantes de uma porosa classe média e introjetaram em si os valores que os poderosos (aquele 1% , citado antes) dizem ser universais: democracia, meritocracia, etc e tal) e jamais - e isso é fundamental - não se julgam vítimas da exploração social do sistema capitalista.
Pelo contrário, falam que são anticomunistas e esperam, com sinceridade, pelo seu esforço, inteligência e dedicação, chegarem, senão naqueles um por cento dos infinitamente ricos, pelo menos bem perto.
Segundo Piketty, este é um sonho cada vez mais improvável, porque passado aqueles chamados "30 anos gloriosos" de 1960 a 1975, quando o capitalismo cresceu extraordinariamente e suas migalhas caíram da mesa e iludiram os que ainda hoje sonham com o chamado "estado do bem estar social", o milagre terminou.
Há muito, ainda de acordo com Piketty, o chamado sistema democrático, meritocrático e igualitário, acabou.
Mas, vamos voltar mais uma vez ao FACEBOOK para dar um pequeno exemplo de como o sistema capitalista funciona hoje na sua área mais moderna, quase futurista, a da internet.
FACEBOOK, a maior rede social do mundo, carreou para a empresa de Mark Zuckerberg, só nos primeiros 9 meses de 2016, 6 bilhões de dólares em anúncios. Ao nos associarmos ao FACEBOOK, revelamos uma série de informações sobre nossa vida pessoal (são 1 bilhão e 800 milhões de usuários ativos no mundo inteiro) que vão formar um imenso banco de dados, vendidos para anunciantes. O irônico é que ao se registrar como participante da rede você é informado que o FACEBOOK é gratuito e sempre será, quando é você que cede gratuitamente para a rede a mercadoria mais valiosa hoje, seus dados pessoais.
Assim não se surpreenda mais e fique se perguntando como é que eles sabem que estou pensando em viajar para Moscou e ficam oferecendo pacotes turísticos com as maravilhas da Rússia.
Eles sabem tudo a seu respeito, mais até que você imagina.
Como isso vai acabar?
Para Piketty, a solução seria um rearranjo do capitalismo, com um imposto progressivo, quase um confisco das maiores riquezas.
Como ele não é um pensador da esquerda, ele mesmo criticando o modelo capitalista, não vê outra alternativa, embora reconheça que seja uma solução muito difícil de ser viabilizada.
Seria aquela velha alternativa de dar os anéis para preservar os dedos e essência do capitalismo é querer cada vez mais, mesmo que isso possa trazer a sua destruição.
Para István Meszáros, as alternativas são outras nesse século XXI
Socialismo ou barbárie.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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