domingo, 5 de fevereiro de 2017

O Brasil dos cidadãos de bem quer interditar Lula por não ficar calado no velório de sua mulher. Por Kiko Nogueira

                  por : Kiko Nogueira
                  http://www.diariodocentrodomundo.com.br/
Não pode

Então ficamos combinados que Lula deveria ter permanecido calado no velório de Marisa Letícia. Assim declaram os fiscais do luto.

O Brasil dos cidadãos de bem está denunciando o “uso político” que ele fez do ato ecumênico no enterro de sua mulher em São Bernardo do Campo.

Num discurso de cerca de 20 minutos, interrompido algumas vezes pelo choro, com momentos tocantes e outros divertidos, Lula contou que “Marisa morreu triste”.
Foi vítima da “canalhice, da leviandade e da maldade”.

Prosseguiu: “Acho que ainda vou viver muito, porque quero provar para os facínoras… que eles tenham um dia a humildade de pedir desculpas a essa mulher.”

“Esse homem que está enterrando sua mulher hoje não tem medo de ser preso. Descanse em paz, Marisa. O seu ‘Lulinha Paz e Amor’ vai ficar aqui para brigar por você.”

Vera Magalhães, colunista do Estadão cujo marido, Otávio Cabral, fez assessoria para Aécio na campanha de 2014 e é autor de uma biografia de José Dirceu com erros em quantidade industrial, sugeriu nas redes: “Case com alguém que não vá fazer um comício no seu velório quando chegar a hora”.

No funeral de Teori Zavascki em Porto Alegre, o juiz Sérgio Moro, um dos primeiros a chegar, foi de cara para um espaço reservado para a imprensa.

“Acredito que pela qualidade, relevância e importância desses serviços que ele prestava e pela situação difícil desses processos, ele foi um grande herói”, falou Moro. Nesse caso, é homenagem.

Quando Eduardo Campos morreu, a candidatura de seu filho foi lançada no mesmo dia.

Esses são apenas exemplos recentes. Mas eles podem.

Marisa passou os últimos meses sob tensão absoluta. Indiciada em inquérito da Lava Jato, vivia, segundo informa Mônica Bergamo, em “agonia permanente depois da busca e apreensão na casa dela, dos filhos e da condução coercitiva de Lula”.

Passou a fumar mais nos dois anos sob a mira da mídia e da Polícia Federal.

A obrigação de Lula era calar a boca, jogar a pá de terra em cima da defunta e voltar para casam em silêncio obsequioso. Defendê-la é demagogia barata. Olha o cara aí, insuflando o ódio!

Uma das maiores passagens da literatura é a elegia fúnebre de Marco Antônio a Júlio César na obra de Shakespeare. César fora assassinado a facadas por membros do Senado liderados por seu filho adotivo, Brutus.

Em seu pronunciamento, Marco Antônio fala o seguinte:

“O nobre Brutus disse a vocês que Cezar era ambicioso. E se é verdade que era, a falta era muito grave, e Cezar pagou por ela com a vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. Pois Brutus é um homem honrado, e assim são todos eles, todos homens honrados.

(…)

Bons amigos, queridos amigos, não quero estimular a revolta de vocês. Aqueles que praticaram este ato são honrados. Quais queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que fizeram, não sei. Mas são sábios e honrados e tenho certeza que apresentarão a vocês as suas razões.

Eu não vim para roubar seus corações. Eu não sou um bom orador como Brutus. Sou um homem simples e direto, que amo os meus amigos.”

São honrados todos eles — inclusive os que estão, até agora, xingando Marisa Letícia. Dignos e honestos.

Lula? Esse é um falastrão corrupto que não respeita a morte da mulher.

Moro fala à imprensa no funeral de Teori Zavascki

Sobre o AutorDiretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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