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Cronograma da guerra mundial
por Gustavo Gollo
Ontem o presidente americano anunciou sua proposta de aumento histórico de 9%, ou 54 bilhões de dólares, no orçamento bélico de seu país. Hoje o anúncio recebeu chamada em todos os jornais, onde foi tratado como questão meramente econômica. A realocação de 54 bilhões de dólares despertou enorme atenção, tornando-se manchete em todos eles. O destaque ubíquo, no entanto, enfatiza apenas o gigantesco montante monetário em questão, como se a relevância do fato fosse de ordem econômica. Vivemos em um estranho mundo econômico no qual a quantia imensa desperta o mesmo enorme interesse que causaria qualquer outra movimentação de tão vultosa soma.
Mas, por que alguém se preocuparia em aumentar em 54 bilhões de dólares o maior orçamento bélico do planeta, correspondente a quase metade de toda a verba militar investida no mundo? Não é necessário ser um gênio para deduzir que um aumento tão brutal pressupõe o propósito de iniciar uma grande guerra. O comentário do louco de que “precisamos voltar a ganhar guerras” só confirma a dedução óbvia. Para os jornais, no entanto, o destaque do fato é meramente econômico, não desperta a curiosidade de nenhum deles o eloquente propósito de inversão da verba espantosa em mais armamentos. Vivemos em um mundo bastante peculiar.
Hoje o presidente americano fará um importante discurso no congresso: “Será um acontecimento importante, uma mensagem para o mundo nestes tempos perigosos, sobre a força e a determinação da América". O discurso ameaçador deixará clara ao resto do mundo a complementação subentendida em seu mote: A América primeiro – e o resto que exploda – cuja interpretação deve ser literal.
A esquadra do porta-aviões Carl Vinson já se encontra no Mar da China executando as provocações FONOPS. O discurso de hoje deve alertar para a seriedade desse fato. A frota poderosíssima se dirigiu à região para estabelecer quem manda. Resta saber se os chineses se submeterão a tais abusos. A completa falta de comedimento, e o total desprezo explicitado pelo maníaco no episódio da humilhação aos mexicanos através da cobrança pela construção do muro, sugere tanto a falta de decoro, quanto a de limites, do personagem bizarro que ameaça o mundo. O acontecido faz supor que nenhuma submissão, exceto a absoluta, será suficiente para satisfazer a sede ultrajante do insano. Os chineses parecem dispostos a, finalmente, impor um limite a tais humilhações. Fumaças de guerra.
A guerra
O objetivo central dos ataques americanos seriam China e Rússia. O poderio chinês crescente sugere fortemente que, caso os americanos planejem uma guerra, devem executá-la o mais rápido possível, a espera só fortificará ainda mais o inimigo. O poderio bélico americano ainda é superior ao dos oponentes juntos, em breve, no entanto, será superado por eles. De qualquer forma, a espera corresponderá a um aumento no poder de retaliação do inimigo. Isso sugere que, a ocorrer, o ataque deve ser executado o mais breve possível, se exequível, ainda essa semana.
Outra constatação igualmente aterrorizante consiste na conclusão de que um ataque abrupto fulminante buscando a aniquilação total do inimigo viria a ser a estratégia mais eficiente. Em contrapartida, a retaliação deve ocorrer na mesma moeda. Assim, as considerações estratégicas sugerem um embate inicial arrasador, não polpando armas que talvez viessem a explodir nas próprias mãos. Péssimos augúrios.
No mundo inteiro, ninguém ficará incólume. A guerra apocalíptica tem que ser evitada.
Aos 70 anos, o presidente americano já realizou todos os seus desejos, restando apenas sonhar em retornar a sua juventude, quando o mundo inteiro encontrava-se destruído pela guerra e os EUA reinavam soberanos sob os escombros que haviam restado. A destruição do resto do mundo tornaria a América grande novamente.
É preciso estarmos atentos ao risco iminente de uma grande guerra; é necessário ter consciência de que o aumento brutal dos gastos militares evidencia, obviamente, o desejo de iniciar uma guerra. Também temos que saber que a cada dia que passar, os temores se reduzirão. Em poucos anos, não mais terá sentido cavar uma guerra que não poderá ser vencida. Tudo isso deve estar claro para que o louco permaneça isolado quanto ao desejo insano de destruição.
A versão contemporânea não tem bigode nem uniforme, mas parece ter ainda mais topete que a anterior.
Parem a guerra.
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