Petista parece usar energia de quem o deseja derrotado
Políticos que bajularam Lava Jato morrerão imolados por ela
Valter Campanato/Agência Brasil
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)Valter Campanato/Agência Brasil
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O PARADOXO LULA PODE SALVAR A POLÍTICA
Já há uma certeza acerca da nova lista de inquéritos contra parlamentares, governadores, ministros e políticos em geral que o Ministério Público Federal fechou e se prepara para divulgar pondo Brasília e o Brasil numa ansiosa contagem regressiva pré-hecatombe: a razoabilidade naufragou em terra firme e hoje orbita a lua. Será necessário identificar uma biografia heroica e investi-la de poder para resgatar a razão antes da rendição final do país a heterodoxias ruins e esquisitas.
Faz-se necessário certo desprendimento a fim de reconhecer flertes e omissões que trouxeram a nação a essa encruzilhada paradigmática capaz de pôr em dúvida as virtudes da democracia e de ameaçar costumes republicanos.
Recalque e preconceito sempre estiveram presentes na forma como o velho status quo nacional tentava aprender a conviver com o poder emergente daqueles que venceram legitimamente as eleições presidenciais de 2002 e começaram a criar uma nova agenda de prioridades focada no resgate de desigualdades bissextas.
Arrogância e arrivismo social, por sua vez, contaminaram decisivamente algumas das lideranças instaladas na Esplanada em 2003 e que tinham origem na luta sindical e na conquista de direitos fundamentais a partir de processos lentos e dolorosos de convencimento de base.
Em 2005 a velhacaria do status quo tentou ir à forra contra aqueles que consideravam emergentes e alimentaram a fogueira do Mensalão. Mataram soldados, destruíram brigadas e obrigaram o comandando a recuos –mas não derrotaram o marechal, afinal havia exército popular nas ruas e o poder se renovou em 2006.
A bem sucedida receita que nos tirou da rota da crise financeira mundial de 2008, permitindo que o Brasil se unisse à China no bloco dos escassos países que ficaram de pé quando o mundo desmoronou junto com o escândalo das hipotecas e a explosão da bolha imobiliária norte-americana, conduziu-nos ao fausto nacional. Ali foram emitidos falsos sinais de capitulação do carcomido udenismo tupiniquim.
Em 2010 uma neófita na política foi eleita presidente. Radicalizou a arrogância e desbastou parte do arrivismo social da companheirada, entretanto cercou-se de áulicos incapazes de apontar-lhe erros e descaminhos. Surfou nas marolas que a bonança de 2009 e 2010 ainda produziam até o primeiro semestre de 2012, mas depois disso as más ideias foram catalisadas por uma forma tóxica de operação política com o baixo clero do Congresso Nacional.
Em 2014 a política brasileira e o poder federal, em Brasília, já padeciam de septicemia. Entretanto, houve a recondução da neófita à presidência, legitimada pelo voto popular, depois de uma campanha camicase da oposição: o candidato do outro lado havia quebrado todos os tratados de honra e de convivência política responsáveis por nos fazer navegar até esse momento contemporâneo. Derrotado, o oposicionista renegou a origem mineira e jurou impedir a administração de antibióticos que permitiriam o organismo tomado pelas bactérias da septicemia chegar a 2018 respirando por aparelhos, contudo mantendo sinais vitais.
Agora, todos parecem contaminados e circulam pela Praça dos Três Poderes, pelo Congresso, pelos ministérios e pelos lobbies dos hotéis brasilienses como zumbis. Estão jurados para morrer. Chegaram à antevéspera da divulgação da tal “Lista de Janot 2.0” sem moral, sem energia, sem liderança e sem capacidade de reação. Estão obrigados a se render a uma lógica maniqueísta alimentada por eles mesmos nos tempos em que parecia haver um só inimigo a vencer: o PT e o petismo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Abriram largos buracos nas muralhas do PT, derrotaram o petismo, afinal são escassos os que ainda defendem aquilo conhecido no passado como valores da militância petista (quando se fala em “valores” e “petismo” numa sala já se imagina coisa bem diversa de “boa ideia” e “vanguarda”), mas não mataram Lula. Ele está vivo, parece alimentar-se da energia de quem deseja derrota-lo e projeta um lulismo ainda mais poderoso do que outrora. O status quo descobriu que para cortar a cabeça da jararaca, como o ex-presidente se autodefiniu, e salgar os caminhos por onde passa sua caravana arregimentando mais e mais adeptos, será necessário imolar-se no xale incendiário em que a “República de Curitiba” pretende envolver todos os políticos.
Eis aí o paradoxo do mundo político reunido na antessala do inferno à espera da Lista de Janot: para matar Lula, inviabilizando-o politicamente em 2018, morrerá junto uma centena deles mesmos – aí incluídos os próceres do udenismo nefasto. Para sobreviver, desmoralizando a República de Curitiba que tanto alimentaram e que tão bem lhes serviu ao traçar o roteiro que nos trouxe até aqui, precisarão admitir que Lula e seu lulismo não infringiram as regras que valiam para todos e que legitimavam a ação política.
Luís Costa Pinto, 48, é jornalista. Graduou-se na UFPE em 1990. Começou no jornalismo em 1988 no Jornal do Commercio do Recife. Trabalhou em redações de “Veja" (1990-96), "O Globo" (1997-98), "Folha de S.Paulo" (1997-98), “Época" (1998-2001) e "Correio Braziliense" (2001-02). Atuou como repórter especial, editor, chefe de sucursal no Recife e em Brasília e editor-executivo. Em 1992 recebeu os prêmios Líbero Badaró e Esso de Jornalismo por reportagens como “Tentáculos de PC”, “Pedro Collor Conta Tudo” e a cobertura do “Caso PC”. Em 1993 recebeu, junto com o jornalista Luciano Suassuna, o prêmio Jabuti de melhor livro-reportagem por “Os Fantasmas da Casa da Dinda” (Ed. Contexto). Desde agosto de 2002 é sócio da consultoria Idéias, Fatos e Texto, empresa especializada em consultoria de comunicação, análise de cenários e marketing político. De 2013 a 2016 foi também vice-presidente do Grupo PPG (holding de agências de publicidade e live marketing)."
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