Após adiamento, partida entre Atlético-PR e Coritiba é confirmado com transmissão via Facebook e Youtube
Wallace Oliveira
Brasil de Fato | https://www.brasildefato.com.br/
Times entram em campo, mas decidem não realizar partida / Reprodução vídeo
O último clássico entre Atlético-PR e Coritiba, no dia 19 de fevereiro, não aconteceu. Tudo começou quando os dois clubes não assinaram contrato de cessão dos direitos de transmissão à Globo, por discordarem dos valores oferecidos pela empresa. Como alternativa, eles organizaram uma transmissão gratuita e independente, com equipe própria, através de seus canais oficiais no Youtube e Facebook.
Porém, às 17h, com jogadores em campo e o estádio repleto de torcedores, a Federação Paranaense de Futebol (FPF) tentou impedir que os clubes transmitissem a partida. O presidente da FPF, Hélio Cury, alegou que a equipe de transmissão não estava credenciada, mas o quarto árbitro, Rafael Traci, disse à beira do gramado: “O pessoal não pode transmitir porque não é detentor do campeonato”. Em outras palavras, o “pessoal” não pertencia à Globo. Em nota publicada na Sportv, o Grupo Globo disse que não tem nenhuma ligação com o episódio.
Por sua vez, Atlético-PR e Coritiba não abriram mão da transmissão e o jogo foi cancelado. Os atletas entraram em campo de mãos dadas e fizeram um protesto no círculo central, sendo apoiados pela torcida, ao som de “Fora, Rede Globo” e “Federação, vai se f… O Atletiba é maior do que você!”.
“Nós vamos quebrar essa barreira de intransigência da federação. Não podemos ficar reféns de ideias estreitas como está acontecendo agora. Isso é uma vergonha mundial”, disse o presidente do Atlético-PR, Luiz Sallim Emed.
No dia 20, a FPF recuou e ofereceu o dia 1º de março, esta Quarta-feira de Cinzas, para a realização do maior clássico do futebol paranaense, às 20h (de Brasília), na Arena da Baixada, e com transmissão inédita via Facebook e Youtube.
O mais importante, porém, são as lições que o episódio traz sobre a relação entre mídia e futebol.
Quem manda é a TV
“A CBF cuida apenas da seleção. Quem cuida do futebol brasileiro é a Globo”, declarou, em 2013, o ex-jogador Alex de Souza, ídolo de Cruzeiro, Palmeiras, Coritiba e Fenerbahçe.
Para o craque, federações e CBF atuam como meros intermediários nos acordos com a empresa que controla a difusão do esporte e determina unilateralmente onde, quando e como se joga futebol no país, sem a participação de jogadores e representantes das torcidas.
Hoje, a principal fonte de receita dos clubes vem do repasse dos grandes meios de comunicação. Como ensinou, há décadas, o escritor Eduardo Galeano, esses meios transformaram os estádios em imensos estúdios, fazendo o futebol chegar não apenas aos milhares que cabem nas arquibancadas, mas aos bilhões que podem consumir qualquer coisa que os manipuladores de imagens queiram vender.
“Os clubes foram ficando dependentes demais das cotas de TV. Cada vez mais, passaram a planejar o próximo ano conforme o dinheiro da cota. E a Globo começou a adiantar a cota, inclusive”, aponta o jornalista Thiago Cassis, coordenador do Coletivo Futebol, Mídia e Democracia.
Edição: Joana Tavares
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