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Fala ocorreu em acerto de uma das maiores porcentagens de propinas já pagas pela Odebrecht a partidos e políticos, que resultou em US$ 40 milhões para as campanhas do PMDB em 2010

Jornal GGN - Quando Michel Temer, então candidato a vice de Dilma Rousseff pela primeira vez, em 2010, pediu 40 milhões de dólares de propina para campanhas do PMDB, em uma das maiores porcentagens já pagas pela Odebrecht a políticos por contratos da Petrobras (5%), o peemedebista sinalizou que teria a petista em seu colo, com a ajuda dos então deputados Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, em caso de dificuldades para atender a interesses do PMDB.
A descrição de impacto ocorre aos 17 minutos da delação em detalhes do ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial, Márcio Faria, à Procuradoria Geral da República, liberada à público nesta semana. O delator trouxe aos procuradores a descrição acurada de episódios em que o PMDB, por meio da Diretoria Internacional da Petrobras, obteve altas porcentagens de propinas em contratos fechados pela Odebrecht.
O primeiro relatado naquela audiência foi de outubro de 2010, quando a Odebrecht assinou um contrato de 825 milhões de dólares para o projeto do PAC SMS, que abarcava nove países. "Este contrato, desde o início, foi dirigido para nós [Odebrecht], a verdade foi essa. Meses antes disso, o Rogério [Santos de Araújo, um de seus funcionários] foi procurado por um gerente da Internacional da Petrobras, de nome Aluísio Telles, que procurou, perguntou o nosso interesse, que estava disposto a ajudar, evidentemente em troca de propina".
"Foi específico?", questionou o investigador. "Falou, falou em 3% sobre o valor do contrato", completando que dias depois se reuniu com o gerente da estatal em sua sala, no Rio de Janeiro, para acertar a negociata de repasses ao PMDB. Não sem, antes, enfrentar resistência dos nomes do PT dentro da Petrobras.
Márcio Faria contou que houve grande atraso para o início dos trabalhos da Odebrecht, porque o diretores indicados pelo PT não concordavam com o benefício que iria favorecer a bancada peemedebista. Mesmo após vencer a licitação, por meio de favorecimento antecipado da Diretoria Internacional, a Odebrecht teve que esperar para iniciar oficialmente a atuação.
"[Jorge] Zelada, que era o diretor da área Internacional, falou: 'está tudo pronto, mas a gente nota uma resistência, principalmente, pelos diretores indicados pelo PT'. Porque a Diretoria Internacional era sabidamente uma indicação da bancada do PMDB, mais especificamente do PMDB de Minas. O pessoal [indicados do PT] não tinha muito interesse, e foram protelando. E demorou muito", explicou.
Após este episódio, o ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial narrou o principal repasse de propina recebido pelo PMDB naquele ano eleitoral. Michel Temer comandou uma reunião para angariar 40 milhões de dólares de propina ao PMDB, em 2010, pela Odebrecht. O dinheiro foi o cálculo de 5% sobre o valor total do contrato, algo considerado superior nos padrões de repasses de propinas.
"Foi a solicitação mais vultosa", descreveu o delator.
"Tinha um intermediário, ou lobista, o nome que você queira dar, o interlocutor entre a Diretoria Internacional da Petrobras, que era nomeada pelo PMDB, o senhor João Augusto Henriques. Ele procurou o Rogério [seu funcionário], e falou: 'esse projeto é da Diretoria Internacional e para que ele caminhe, seja assinado e vá dentro dos trâmites normais, o partido precisa de uma contribuição expressiva nesse contrato'", disse. "5%, valor muito alto", completou.
"Isso corresponderia a...", questionou o procurador. "Por volta de 40 milhões de dólares".
Faria relata que "para um contrato dessa magnitude", seria preciso que ele próprio "abençoasse" o fechamento da negociata junto ao PMDB. "Num belo dia recebo um email do Rogério, me convocando para uma reunião que ele chamou de 'cúpula do PMDB'. Eu não tinha a menor ideia", disse.
Contou que a reunião ocorreu no dia 15 de julho de 2010, em um escritório político, e que o correio eletrônico foi enviado um ou dois dias antes. A cópia desse e-mail foi anexada aos autos do processo. "Chegando lá é que eu soube que se tratava do escritório político do senhor Michel Temer, à época candidato a vice-presidente da República na chapa com a Dilma".
"Chegamos, nos anunciamos, nos colocaram em uma sala, cumprimentei o ex-deputado Eduardo Cunha. Entramos em uma sala maior, e nessa sala estava presente o Michel Temer, que se sentou na cabeceira, eu sentei, do meu lado o Rogério, do lado de lá o Eduardo Cunha, o deputado Henrique Eduardo Alves e o João Augusto mais atrás", detalhou.
Em seguida, o ex-diretor da Odebrecht conta que, antes de tratar do tema da propina em si, foram feitas as "apresentações, muitas amenidades, e falamos de política":
Eu que não conhecia até perguntei:
- Senhor, como é ser vice-presidente da Dilma? Eu não conheço a Dilma. Dizem que é uma pessoa muito complicada.
Aí o pessoal riu, aquela coisa toda e, para a minha surpresa, até com intimidade, para quem nunca o tinha visto, ele [Michel Temer] disse:
- Não, se acontecer qualquer coisa, esses rapazes aqui - ele apontou para os dois deputados, Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha e falou - pode deixar que ela vem, e fica aqui [apontando para o seu colo]. Esses jovens, esses rapazes resolvem para mim, eu não estou preocupado; falou Temer.
Após a narração, o procurador quis esclarecer o que se tratava a manifestação do atual presidente da República, à época, candidato a vice de Dilma. "'Fica aqui', ele [Temer] sinalizando para o colo dele?", perguntou o investigador. "Exatamente", respondeu Márcio. "Como se, dando a entender que os dois rapazes...", questionou de novo o procurador. "Iam resolver os assuntos necessários de interesse do PMDB", completou o delator.
Assista a partir dos 17:00:
Após esse episódio, caracterizado pelo delator como "amenidades", Márcio Faria afirmou que Eduardo Cunha quem tomou a palavra para introduzir na negociação da propina de 5%. "Eu fui lá para 'abençoar' esse compromisso", disse. "Eu falei que estávamos de acordo, nós vamos contribuir com o que o deputado falou".
"Não se falou em valores, mas entre eles estava João Augusto [o lobista responsável pela negociação prévia] e eu simplesmente falei que honraria os compromissos", completou.
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