terça-feira, 2 de maio de 2017

Brasil, o melhor País para se viver


Por padre Carlos Antonio Conceição

O Brasil está dividido? A formação do povo brasileiro, a partir da chegada dos portugueses, é marcada por profundas contradições sociais e étnicas: o povo nativo, o índio, que vivia aqui há séculos;o português invasor que aqui chegou e se instalou e o povo negro trazido à força da África como peça de comércio, escravizado. O gênesis da formação do povo brasileiro se dá de forma penosa numa relação entre dominador (portugueses) e dominado (índios). Senhor (portugueses) e escravo (negros africanos). Assim, o inconsciente coletivo do povo brasileiro é marcado, pela lógica, opressor e oprimido, dominador e dominado; o Brasil nunca esteve unido.

Como pode estar dividido esse que é o melhor País do mundo para se viver? O ódio hoje institucionalizado e propagado vinte e quatro horas pela mídia burguesa tem nome: ódio de classe. O ódio a que assistimos é uma situação real de desagregação social, história que agora mostra a sua cara de forma desvelada. O Brasil, País formado por cidadãos adestrados e submissos, os quais lavavam e beijavam os pés do patrão que o oprimia, só podia ser considerado o melhor do mundo pra se viver. Um povo sem voz e sem vez, entregue aos encantos da passividade e da subserviência, com baixa auto-estima, sem conhecimento dos seus direitos, sentia-se mais do que devedor do patrão pelas migalhas que recebia da mesa dele.

Por vários séculos, grande porção da população viveu mergulhada em situação de absoluta pobreza, quase miséria, mesmo depois da abolição da escravatura nos idos de 1888. Cidadãos subalimentados, subestimados, subjulgados, enfim, sem cidadania. Assim, a Casa Grande não se interpelava diante de tanta fartura em detrimento da miséria que impunha à Senzala, a qual devia ser grata pela migalha que lhe cabia.

Mas a Senzala parece, ainda, encontrar-se meio sonolenta. Foi dito ao pobre no Brasil: “Pobre é diabo, você fraco”. E o povo pobre repete: “Somos fracos, pobre é diabo”. Do ponto de vista cristão, como pode o diabo ser pobre, se Jesus Cristo, o filho de Deus, sendo o Senhor do universo, se fez pobre desde o lugar do seu nascimento: uma simples manjedoura?

A meu ver – desde o meu lugar social, pois nasci na pobreza – um dos principais entraves à união do povo brasileiro é a confusão que o faz do seu real lugar social. Os pobres assimilam as artimanhas sociais dos ricos. É lastimável perceber trabalhador contra trabalhador; pobre pensando e agindo como se fosse elite; pobre votando em pessoas que possuem muito dinheiro; o ódio institucionalizado e propagado, envenenando as relações entre as classes sociais do Brasil, dividindo, principalmente, os pobres e trabalhadores, sem que eles percebam que se autodestroem se estão divididos.

Por outro lado, a elite burguesa sempre leva vantagem, pois é detentora dos meios de comunicação que criam e alimentam o ódio entre as classes sociais menos favorecidas. A burguesia também é detentora dos meios de produção. Como entender que um trabalhador, sobretudo, o proletário, tem atitude odiosa contra a organização de determinada categoria quando se une para reivindicar melhores condições de trabalhos e salários? Esse é o Brasil. Quase tudo a que estamos assistindo nos últimos anos, em termos de propagação da divisão social, já acontecia no Brasil, só que de forma velada: o preconceito, o racismo, a corrupção generalizada, o desrespeito às leis, o ódio de classe, a divisão, a desunião das classes menos favorecidas. Mesmo assim, tem-se a ilusão de que o Brasil é o melhor País para se viver. Como assim melhor País para se viver?

Claro, o brasileiro da classe pobre é fraco. Se é fraco, é passivo, ou seja, aceita e “engole” tudo o que vem da Casa Grande sem questionar, sem se mobilizar, sem se organizar, porque fraco não consegue sair do lugar; é coitadinho, não pensa e nem age, precisa sempre de um messias que faça por ele, mesmo tendo capacidade.

Entretanto, ser pobre é muito diferente de ser fraco. Pobres se reconhecem desde o seu lugar social, se unem, se dão as mãos, caminham, pensam e sonham juntos, planejam e corrematrás dos seus projetos sociais juntos; fazem acontecer a mudança de forma ordeira e pacifica, pois o forte “não espera acontecer, faz a hora”, diz não à violência, esforça-se para não nutrir ódio no seu coração.

Ódio é sinônimo de medo, de fraqueza, de pobreza de espírito, de individualismo, de egocentrismo, de ganância, de ambição desmedida, de orgulho diabólico. Percebe-se o ódio disseminado pela elite brasileira envenenando mentes e corações de pobres e ricos. “Vomita-se” vinte e quatro horas na grande mídia burguesa; escancarou-se a institucionalização do ódio.

Por que tanto ódio? Primeiro, porque a classe pobre no Brasil passou a ter um mínimo de dignidade e de autoestima, conquistou espaço de poder. As políticas de afirmações sociais, conquistadas ao longo de um penoso processo histórico, têm possibilitado aos pobres deste País um rosto re-humanizado, o apoderou. Segundo, porque um cidadão oriundo da classe pobre, sem graduação e nem título de doutor, fez o melhor mandato de presidente da República da história deste País, “engordando”, inclusive ainda mais, os cofres dos ricos que ficaram mais ricos durante o seu governo, porémpossibilitou que o povo empobrecido tivesse o mínimo de dignidade, integridade e empoderamento. Terceiro, porque a elite burguesa tem medo de perder o domínio total que tem sobre as instituições políticas, civis e jurídicas do País, que sempre monopolizaram e dominaram. Eis os reais motivos da insônia da Casa Grande: a Senzala passou a ter o mínimo de dignidade e empoderamento.
"Pergunta-se então: para quem é o melhor País do mundo para se viver? Um dos países mais injustos do mundo, com uma dívida social aberrante que não suporta mais adiamento é o melhor para se viver?  Quem ganha e quem perde com tudo isso? Quem ganha com a opção política de Estado mínimo? Quem ganha com a política neoliberalque se presta a gerar ricos cada vez mais ricos?" 
  
Assim, dividir é a melhor forma de dominar e fazer opovo massa de manobra, para que essa massa encefálica não se torne povo pensante. Então é preciso dividir a classe pobre e trabalhadora, disseminando o ódio ao colocar operários contra operários, pobre contra pobre; congelar o orçamento da educação, da saúde e dos demais segmentos sociais, enfim colocar em estado de coma as políticas de afirmações sociais (PEC 55). Políticas estas pautadas ao longo de um penoso e doloroso processo histórico, oriundas dos movimentos sociais e das organizações de base, conquistadas com muitas lutas e de forma democrática, tudo em nome do equilíbrio fiscal. Equilibrar as contas públicas para continuar engordando os juros da dívida externa, penalizando a pobreza e maximizando a riqueza numa opção escancarada pelo capitalismo neoliberal de Estado mínimo para os pobres e Estado máximo para a elite dominante. Pergunta-se então: para quem é o melhor País do mundo para se viver? Um dos países mais injustos do mundo, com uma dívida social aberrante que não suporta mais adiamento é o melhor para se viver?  Quem ganha e quem perde com tudo isso? Quem ganha com a opção política de Estado mínimo? Quem ganha com a política neoliberalque se presta a gerar ricos cada vez mais ricos? 
O ódio da elite dominante do Brasil é insano e entreguista. Age de forma insana em ralação à administração das riquezas naturais do Brasil. Sem escrúpulo, ela dá de presente para empresas multinacionais as riquezas que são de todo o povo brasileiro. Basta olharmos o fatiamento da produção do pré-sal que fez esse governo golpista para percebermos o absurdo que se comete com a riqueza do Brasil. Mas foi diferente com os ciclos do ouro e daborracha? Basta um pouco de conhecimento da história do Brasil pra se perceber como a elite “ama” esse País. A elite entreguista joga fora a oportunidade de saudar a enorme dívida social que ela mesma gerou no Brasil. Até quando vai durar esse ódio social classista?  
É um ódio que subestima a capacidade do cidadão brasileiro, entrega a riqueza do Brasil nas mãos de leões estranguladores. Entretanto, com toda essa insanidade, a elite dominante quer continuar dormindo eternamente em berço esplêndido, como se tudo ocorresse na perfeita normalidade, sem “anomalia”? E, ainda, propagam que esse é o melhor País do mundo para se viver. A insônia da elite dominante é ocasionada pelo fato de saber que o Gigante adormecido está tentando acordar. Quem sabe o Brasil virá ser o melhor País do mundo para se viver? 

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