domingo, 14 de maio de 2017

Lula, ladrón que te quiero ladrón, por Rui Daher



Não estranhem. Da forma como está sendo conduzido o processo, isso seria o justo. Sim, parodio o espanhol Federico Garcia Lorca (1898-1936) em seu “Romance Sonâmbulo”. Vai-se o verde do primeiro verso do poema como vão os verdes de nossas esperanças.

A reação das folhas e telas cotidianas, possessas e possessórias da corrupção concessionada, diante da defesa que Lula fez de delações premiadas que viram convicções inabaláveis sem qualquer prova material, o único desejo fervoroso que me restou, esperança vã talvez, é de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha, realmente, roubado muito.

Que o tríplex nas medíocres praias do Guarujá, os pedalinhos no sítio em Atibaia, maior concentração de chácaras bregas paulistas, sejam dele mesmo, apenas disfarce para os bilhões de dólares de propinas que esconde incólumes nos locais mais improváveis do planeta, tanto roubou e tão esperto é.

Fica-se aqui nesse lenga-lenga de “Dom Severino, eu fiz xixi na batina do padre José, mas se eu disser que foi o Carlinhos quem fez cocô no altar, o senhor diminui pela metade a minha penitência”? Ou condenar em base a delação premiada é diferente disso? 

Juiz Sérgio Moro, por que ainda não mandou uma equipe do Ministério Público e da Polícia Federal investigar em Cuba? Quem sabe milhões em “twenty dollar bills” não estariam enterrados sob o túmulo do Comandante? Se o governo e o povo de lá permitiriam a repatriação é outra história, mas seria uma prova.

Família Marinho, Ali Kamel, William, Renatinha, Sandrinha, Merval, por que não mandam seus correspondentes escrutinarem as posições da Al Kaeda no Afeganistão? Podem haver bilhões lá roubados do Brasil por Lula. Seriam provas mais válidas do que convicções patéticas mostradas em PowerPoint.

Dinheiro menor, mas também ilícito, pode estar sob o assento do fusca do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica. Esteve aqui recentemente e o MBL, Malta de Burrice Liberada, poderia ter perguntado.

Vai também que sua Marisa, quando em vida, superou os 3 mil pares de sapatos da filipina Imelda Marcos. Onde estão? Alguma ilha do arquipélago?

Em seu depoimento ao Juízo de Primeira Instância, o senhor pediu provas. Percebendo que não tinham, deitou, rolou, extrapolou e denunciou a mídia com nome e sobrenome, justamente quem mais caga de medo de vê-lo eleito em 2018. Pode não se ter lembrado do que fizeram com Leonel Brizola e meteu o dedo no Câncer Brasil.

Não espere reação diferente. Como peitaram Brizola, peitarão o senhor até liquidá-lo, não importa a forma. As armas de hoje são mais poderosas e modernas do que na época de Brizola e Darcy.

Torço, pois, ex-presidente Lula, que o senhor tenha roubado muito. Mais do que se imagina. Mais do que fizeram Paulo Maluf, o esquema Banestado, Eduardo Cunha, Cabral, Geddel, Jucá, Serra, Geraldo, e tantos outros da Federação de Corporações, como a escória marqueteira e iletrada.

Mais ainda do que heróis da corrupção fora do Brasil. Trujillo, Batista, xeiques árabes, ditadores africanos, Reza Pahlavi, Fujimori, Gadaffi.

Justificaria a perseguição e não seria mais do que a paga pelos oito anos a comandar um projeto nacional de inserção social. Fez a economia crescer, encher o rabo dos ricos de grana, e escorrer franjas de bem-estar aos mais pobres. Manteve a soberania do País e o fez respeitado internacionalmente.

O produto de seus roubos seriam pouca paga pelo estadista que é. Se não o fez, mas por isso é acusado sem provas, foi bobo. 

Comecei com Lorca, termino com ele e a verdade que merecemos.

“Sobre a face da cisterna/balançava-se a gitana/verde carne, tranças verdes/
com olhos de fria prata/ponta gelada de lua/sustenta-a por cima da água. A noite se fez tão íntima/como uma pequena praça. Lá fora, à porta, golpeando/guardas-civis na cachaça. Verde que te quero verde/verde vento. Verdes ramas/o barco vai sobre o mar/e o cavalo na montanha”.

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