quarta-feira, 10 de maio de 2017

O que a grande mídia escondeu do depoimento de Bumlai sobre Marisa Letícia


   Fotos: Instituto Lula

Jornal GGN - Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula, que faleceu em fevereiro passado em decorrência de um AVC, foi destaque na home de três grandes jornais, nesta terça (9), por ter sido citada no depoimento de José Carlos Bumlai ao juiz Sergio Moro. Estadão, Folha e O Globo salientaram que a ex-primeira-dama pediu "ajuda" a Bumlai para adquirir a primeira sede do Instituto Lula e esconderam a principal frase do pecuarista sobre o episódio: "Não era sobre dinheiro [o pedido de ajuda], era sobre como fazer o Instituto à cópia do Instituto Fernando Henrique Cardoso."

"Ela não queria que ele [Lula] soubesse. Em algum momento eu até fiquei meio chateado, porque até hoje nunca fui ao Instituto Lula, não fui convidado para inauguração, nunca contribui com um real para o Instituto Lula. Deve ter havido um mal estar que não consigo localizar", disse Bumlai, após dizer a Moro que não participou da compra do terreno porque não tinha "condições financeiras" de fazer isso.

Embora a grande mídia tenha inserido o pedido de Marisa em um contexto de pagamento de propina da Odebrecht, sem as devidas ressalvas, o depoimento de Bumlai foi em sentido oposto. Ele explicou, diante de Moro, que a ex-primeira-dama queria saber como chegar a empresários que pudessem fazer por Lula o que dizeram por FHC quando o tucano deixou a presidência, em 2002.


A ideia era criar um instituto com contornos de museu, onde Lula pudesse expôr os itens de seu acervo presidencial. "O Instituto Lula surgiu de uma conversa com dona Marisa. Eu não sabia como funcionava isso aí, a não ser o que havia sido feito com o Instituto Fernando Henrique Cardoso. Então, constituiu uma ideia de que 10 empresários participassem do processo e levantassem o Instituto Lula, onde guardariam os presentes, as coisas. [Era] Um museu, praticamente, que eles queriam montar. Essa é minha participação [no assunto, junto à Marisa]", disse Bumlai.

Em outro passagem, Bumlai explicou o papel de Roberto Teixeira, advogado de Lula, na construção do Instituto. "Acredito que dona Marisa, quando apesentou a ideia, queria colocar mais uma pessoa. Na época era Jacó Bittar, mas ele ficou doente e sem possibilidade de ajudar em nada. E doutor Teixeira é amigo e advogado da familia de Lula há muito anos. Acredito que foi por aí."

Bumlai contrariou a denúncia do Ministério Público Federal em pelo menos dois momentos: primeiro, afirmando que não buscou Marcelo Odebrecht para pedir, ao lado do advogado Roberto Teixeira, que o empresário comprasse um terreno para o Instituto Lula em São Paulo - objeto da ação penal que tramita na Vara de Moro. O trecho foi igualmente ignorado pela grande mídia.

"Não, eu tratei da implementação do Instituto, dos 10 empresários. [Marcelo] Era o único empresário que eu tinha liberdade maior para conversar [porque ambos fizeram parte de um conselho de desenvolvimento no governo Lula]. Eu expus a ideia e ele disse que enviaria uma pessoa para me procurar. Era o doutor Paulo Melo, com quem só falei por telefone. Nunca estive com ele", relatou Bumlai.

Depois, Bumlai disse que Teixeira não foi responsável pela escolha do Instituto Lula que viria a ser adquirida pela Odebrecht, mas sim uma corretora. O que o advogado fez foi cuidar de burocracia que impedia a venda do terreno porque a empresa detentora do espaço possuia dívidas de IPTU, entre outros problemas.

A grande mídia tampouco deu espaço para a declaração de Bumlai sobre Glaucos da Costamarques, que é para a Lava Jato um primo do pecuarista que comprou um apartamento vizinho ao de Lula, em São Bernardo do Campo, com recursos da Odebrecht. Bumlai explicou que, além do parentesco muito distante ("O pai do meu bisavô era irmão do avô do Glauco"), Glauco é um investidor do ramo imobiliário há anos. E vendeu, por R$ 12 milhões, alguns imóveis em Campo Grande antes de chegar em São Paulo e adquirir outras unidades com ajuda do escritório de Teixeira.

"Glaucos da Costamarques vendeu loteamento em Campo Grande para uma firma mexicana, por um valor muito significativo, algo em torno de 12 milhões, e queria entrar para o ramo de importação e exportação [quando veio para São Paulo]. Não conseguiu, e continuou no ramo imobiliário." 

Para a defesa de Roberto Teixeira, o depoimento de José Carlos Bumlai, assim como o de Mateus Claudio Baldassari e Marcelo Carvalho Ferraz, todos colhidos hoje pelo Juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba "deixam patente que prestei tão somente assessoria jurídica no processo de aquisição do imóvel [para o IL]. No contexto de minha expertise no Direito, atuei para solucionar intrincados problemas jurídicos que envolviam o citado imóvel e dificultavam sua venda."

"Assessorei inicialmente Glaucos da Costamarques e, posteriormente, solucionadas as intrincadas pendências jurídicas, novamente o assessorei na revenda do referido imóvel para a DAG Construtora Ltda", disse o advogado, em nota à imprensa.

À Lava Jato, para conseguir fechar o acordo de delação, Marcelo Odebrecht disse que a Odebrecht aceitou realizar a compra do terreno do Instituto, no valor de R$ 10 milhões, e descontou o valor de uma conta virtual que tinha com o PT. A DAG, construtora de um amigo de Odebrecht, teria sido usada para mascarar a participação da empreiteira no negócio.

O imóvel nunca foi usado por Lula.

"Os depoimentos colhidos hoje pelo Juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba mostram que a idéia de construção de um memorial para abrigar o acervo presidencial do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não guarda qualquer relação com os 8 contratos firmados entre a Odebrecht e a Petrobras, como diz a acusação do Ministério Público Federal", disse a defesa do ex-presidente.

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