sábado, 3 de junho de 2017

Dos partidos aos corações partidos


Mônica Nóbrega

Sempre admirei partidos, mas nunca me filiei a um. Sempre admirei movimentos, mas nunca a eles aderi. Sempre gostei de relacionamentos, mas nunca os perpetuei. A nossa geração é avessa à coletividade.

A coletividade é linda, enquanto teoria, mas a convivência diária com suas contradições inerentes não nos é palatável.
Em tempos de crises e golpes, passei a refletir mais sobre o meu papel enquanto pessoa inserida numa sociedade e percebi que nunca participei de fato de espaços coletivos. Em entrevista ao Vestido Latino, Eric Nepomuceno fala que é de uma geração do “nós”, de utopias coletivas, enquanto que atualmente se vê uma geração do “eu”.

A partir dessa fala, comecei a refletir mais sobre mim. De fato, sempre tive uma dificuldade muito grande para construções grupais por não me sentir inteiramente representada. Em algum momento surgiu uma diferença que me fez deixar aquele grupo. Em algum momento surgiu alguma desarmonia que me fez deixar aquele relacionamento. Mas isso não é algo meu, é algo que caracteriza toda minha geração.

O nosso “eu” é tão supervalorizado que, qualquer entrave com ele, nos desestimula e nos faz abandonar qualquer tentativa. Nós precisamos tanto de uma afirmação da nossa subjetividade individual, que nossa preocupação maior é com nosso perfil pessoal do que com os rumos da nossa sociedade.

O problema é que nos crescemos e chegou a hora de traçarmos as políticas públicas que vão ditar toda nossa sociedade. Mas como fazer isso se execramos a política e os partidos? Toda coletividade é por nós deslegitimada.

Crescer é um processo muito doloroso e perceber que a vida não vai nos dar exatamente o que queremos é uma das maiores castrações que sofremos nessa transição. É chegada a hora de encarar o mundo real e perceber que o outro faz parte dele, e que só o “nós” é capaz de fazer qualquer mudança.


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