Nonato Menezes - Nunca desejei ser sueco, francês,
inglês ou oriental. Jamais desejei ser carioca ou gaúcho, se nasci no Piauí.
Também, em nenhum momento me julguei inferior a quem nasceu na capital, já que
nasci no interior. E saí da cidade e Estado onde nasci e cresci, foi por
circunstâncias contrárias à minha vontade, embora contando que em certo momento
da nossa vida são muito mais fortes certos desejos do que a razão.
Sou o que sou, porque nasci onde
nasci. Porque tive os pais que tive, os irmãos e irmãs que tenho e o meio
social que fui envolvido. E sou o que sou porque tive a infância que tive. E
que Infância!
Nasci, cresci e vivo no meu País,
do meu País e para o meu País. Neste espaço que se chama Brasil é que devo
minha existência e minha vida. Por natureza, sou tão diverso quanto um nepalês,
um angolano e um suíço. E tão igual a estes e a todos os seres humanos que
habitam esta Terra no que há de essencial e universal na existência: nascer,
crescer e perecer. Ou alguém se sente fora dessa regra tão factível e
compreensível até pelos mais distraídos?
O uso da primeira pessoa é para
expressar meus sentimentos diante de pesquisas e comentários feitos sobre o
“sentimento de vergonha do povo brasileiro” motivado pelas condições, sobretudo
políticas, as quais o País está submetido.
Comentários de gente conhecida,
de boa escrita e ideias arrumadas que enchem páginas inteiras de blogs e sites.
Até pesquisa foi feita para “medir o sentimento de vergonha” que o povo está
tendo de ser brasileiro por causa do momento que vivemos.
Quem tem o mínimo de
sensibilidade não deve conseguir esconder o mal-estar por ter que aturar um
grupo que assaltou o poder nas condições conhecidas e se diz governar por meios
que, para a maioria do povo são absolutamente constrangedores.
Não tem sido fácil mesmo ter que suportar
uma quadrilha “governando” o nosso País. Ter um idiota que diz nos representar
e onde quer que chegue ouve ser chamado de presidente. Se sentir impotente
diante do saque à riqueza da Nação e da deterioração das instituições e ainda
ter que aguentar manifestações de apoio, ainda que envergonhadas, de pessoas,
empresas e instituições ao banditismo que se instalou no poder.
Agora, a distância entre ter que
suportar – sem aceitar, claro – um momento de tamanha violação de princípios e
de direitos e sentir “vergonha de ser brasileiro” é enorme. Além do histórico, das circunstâncias, dos
valores, interesses etc. serem completamente diferentes.
Ser brasileiro está explícito na
condição de ter nascido aqui em nosso País. Viver ou morrer em outro espaço
depende das circunstâncias, o que não implica em deixar de ser brasileiro,
jamais.
O que leva, então, a esse
sentimento de “vergonha de ser brasileiro”?
Se verdadeiro, que sentimento
mais circunstancial, mais fragilizado e até inocente, eu pergunto?
Não seria este apenas mais um
motivo explorado por gente esclarecida, da mídia, das nossas elites tão burras
para incutir na consciência da população de que o Brasil não presta, de que
aqui não vale a pena se viver? Um sentimento, aliás, tão difundido por nossos
letrados e detentores do poder?
Para efeito de comparação, que
povo teria mais motivo para se envergonhar?
Nós brasileiros que temos uma
quadrilha no poder, mas que logo terá que sair, sujeito, inclusive, de alguns
de seus membros serem presos?
Ou os austríacos que construíram
suas riquezas saqueando o Congo, onde sem nenhum pudor ou “sentimento de
vergonha” mutilaram, violentaram e mataram quase 10 milhões de congoleses?
Ou alemães que só de judeus foram
6 milhões assassinados?
E o que diríamos da vergonha de
ser Inglês e sua História de saques, pirataria, Guerra do Ópio e tantas outras
atrocidades?
E os norte-americanos, tão longe
dos pudores e das vergonhas, que matam, violam, saqueiam, invadem e ainda se
dizem defensores da liberdade e espelhos do mundo?
Mas tudo isso não faz vergonha,
ao contrário, são exemplos de sociedades civilizadas, inclusive para milhares
de brasileiros.
Então, brasileiros e brasileiras
envergonhados com a quadrilha que ocupa o poder; parem com isso!
Acreditar e defender nosso País,
nosso povo, nossos interesses não é o mesmo que defender a quadrilha que roubou
o poder.
Só de acreditar ajuda na
construção do envolvimento, seja na família, no trabalho no lazer e aonde quer
que estejamos.
Não se faz sem antes,
envolver-se, sonhar. Ou como diria Rubem Alves: Sonho, logo existo.
Por fim, a ideia explorada de “se
envergonhar de ser brasileiro”, “o brasileiro é vira-lata”, “somos o povo do
jeitinho” são denominações pejorativas que só interessam aos bandidos que
roubaram o poder e as elites que os sustentam.
São denominações que,
implicitamente, nos jogam para a condição de incapazes, inferiores e de
sentimentos pueris, tudo que nossas elites sempre defenderam, até para nos
tirar o direito ao voto.
Criticar, sim. Indignar-se, sim.
Lutar para melhorar, sim. Envergonhar-se, jamais. Deixemos este sentimento para
os que acham que austríacos, franceses, ingleses, norte-americanos são melhores
que nós.
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