XAVIER FONTDEGLÒRIA / Pekín
Militares chineses, na base de Zhurihe, em junho de 2017 REUTERS
Pequim considera que Washington deve liderar os esforços para avançar rumo à desnuclearização
A China está de novo no alvo da Administração de Donald Trump. Semanas após o relatório de segurança nacional norte-americano ter catalogado o país asiático e a Rússiacomo “poderes revisionistas”, Pequim foi apontado – ao lado de Moscou – como pretexto para modernizar a capacidade nuclear de Washington. As autoridades chinesas negam o rearmamento, dizem que os Estados Unidos interpretam equivocadamente o desenvolvimento militar de seu país e atribuem esse erro a “uma mentalidade própria da Guerra Fria” por parte do atual ocupante da Casa Branca.
O Ministério da Defesa do país asiático rejeitou neste domingo, de forma contundente, as acusações feitas por Washington. “Esperamos que os EUA abandonem sua mentalidade própria da Guerra Fria (...) e vejam de maneira objetiva a defesa nacional chinesa e seu desenvolvimento militar”, afirmou a pasta, em nota, alegando que seu arsenal atômico tem um objetivo dissuasivo e que seu compromisso é não ser o primeiro a utilizar o arsenal em caso de conflito.
Além de seu desenvolvimento econômico, a China dedica cada vez mais recursos ao seu Exército (cerca de 547 bilhões de reais, segundo o último orçamento), transformando-se no segundo país do mundo com maiores gastos militares, atrás dos EUA. As forças armadas estão imersas num processo de modernização baseado sobretudo na melhoria de sua Marinha e sua Força Aérea, com ênfase especial na atualização de sua capacidade cibernética e na tecnologia de mísseis balísticos.
Devido à intenção da Administração Trump de revisar sua política nuclear, nesta semana o jornal oficial do Exército Popular de Libertação pediu que seja seguido esse mesmo caminho para que a China não fique para trás ante os avanços dos EUA e da Rússia. Até agora, nenhum alto funcionário político ou militar confirmou planos nesse sentido.
Embora a China tenha aumentado consideravelmente seu poder bélico, em número de armas atômicas continua bem atrás dos EUA e da Rússia. Segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo (Sipri), em 2017 Pequim armazenava 270 ogivas nucleares, contra 7.000 e 6.800 de Moscou e Washington, respectivamente.
“A paz e o desenvolvimento são tendências globais irreversíveis. Os EUA deveriam tomar a iniciativa e seguir essa via em vez de ir contra ela”, afirmou o Ministério da Defesa chinês, lembrando que manterá seu arsenal nuclear “nos patamares mínimos”. O relatório que o Pentágono apresentou na sexta-feira, contudo, explica que Pequim “está expandindo sua considerável força nuclear de forma pouco transparente”. O texto, que defende a criação de ogivas nucleares de menor rendimento que as atuais – embora igualmente devastadoras –, ressalta a preocupação de Washington sobre a Coreia do Norte, a China e o Irã, mas o enfoque recai sobretudo na Rússia.
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