sábado, 17 de março de 2018

Delegado que investiga corrupção do PSDB é alvo de campanha difamatória em Minas

    Jornal ataca delegado


Ao mesmo tempo em que, no Rio de Janeiro, as forças conservadoras se movimentam para difamar a vereadora Marielle Franco, executada com quatro tiros, juntamente com seu motorista, em Minas Gerais uma onda difamatória atinge o delegado de polícia Rodrigo Bossi de Pinho, que investiga o esquema de corrupção e de fraude processual que beneficiou o grupo político do senador Aécio Neves.

Hoje, a campanha de difamação chegou às páginas do principal jornal de Minas, o Estado, chamado lá também de Estadão, publicação dos Diários Associados. O jornal destacou em manchete “Delegado na mira de associações” e, sem lhe dar direito de resposta, publicou uma fotografia em que aparece ao lado de Nílton Monteiro, delator do Mensalão de Minas e da Lista de Furnas.

A esposa do delegado divulgou nota em defesa do marido:

Hoje o assunto é sério! Não gosto de expor minha vida pessoal, nem de me misturar com o trabalho do meu marido, mas diante do artigo publicado hoje no Estado de Minas, não posso me calar. Depois da morte chocante em que tentaram calar a Marielle Franco, hoje a bala foi disparada para calar meu marido, Rodrigo Bossi de Pinho, delegado chefe do Departamento de Fraudes da Polícia Civil de MG. Investigando fraudes cometidas nos processos que invalidaram a famosa “Lista de Furnas”, Rodrigo vem sendo perseguido por muitos, inclusive por membros e representantes da própria Polícia Civil, que direta ou indiretamente poderão ser afetados pelas suas investigações. Em casa, já estamos acostumados com boatos e informações inverídicas que correm nos bastidores da Polícia. Entretanto, o que me choca ainda mais, é ver o jornal Estado de Minas, se prestar a este tipo de perseguição baixa, sem fundamento, ouvindo um delegado que presidiu o inquérito no passado e que, provavelmente, está se sentindo ameaçado. E a reportagem vem bem no momento em que Marcos Valério assina a sua delação com o Dep. de Fraudes, garantindo ter provas que comprovam fatos da investigação. É chocante como parte da nossa imprensa ainda se presta ao papel infame de garantir o poder dos poderosos a qualquer custo e de desprezar a sua função primordial de informar a população. A foto foi tirada por um policial da Fraudes, que ao ser flagrado pelo próprio Rodrigo foi questionado, em tom de brincadeira, se ele iria vender a foto ao Márcio Nabak. E provavelmente foi o que aconteceu …. mas Rodrigo não se importou em requisitar a foto, pois não tem relação pessoal nenhuma com o delatante da foto e nada tem a esconder. Mas a grande ironia da reportagem ficou para a sua última linha … em que menciona que o delegado Rodrigo não se pronunciou … A VERDADE É que ele nunca foi procurado pelo Estado de Minas para se defender. Se o Estado de Minas fosse um jornal sério, teria trocado esta última informação por INFORME PUBLICITÁRIO.

Amigos, não nos calemos por medo e se querem um país melhor, COMPARTILHEM!!!

Rodrigo Bossi é chefe do Departamento de Investigação sobre Fraudes e abriu inquérito depois que começou a apurar a denúncia da prisão do dono do site Novo Jornal, Marco Aurélio Carone, em 2014, que ele considera ter sido um preso político.

“Conseguiram calá-lo durante a campanha de 2014, colocando-o na cadeia por 9 meses, pela atuação fraudulenta de um delegado de polícia corrupto, a mando de Aécio, Andrea Neves e Danilo de Castro”, disse Rodrigo a amigos na manhã deste sábado, conforme registro num grupo privado de rede social a que eu tive acesso.

O jornal de Carone era o único de Minas Gerais que divulgava notícias sobre corrupção e desmandos no governo de Aécio Neves/Antônio Anastasia.

Segundo o delegado Rodrigo Bossi, a investigação é que levou a Nílton Monteiro e Marcos Valério, quando foram revelados esquemas dos quais os dois tinham conhecimento.

Na época da prisão de Carone e de Monteiro, reportagens publicadas por veículos locais, e também outros de alcance nacional, como a revista Veja, desqualificaram as denúncias contra Aécio e o PSDB.

O Estado de Minas foi um dos jornais que publicavam essas versões — a maior parte tinha como fonte o delegado Márcio Nabak, policial de confiança do grupo de Aécio Neves.

As reportagens davam conta de que as listas com os nomes de autoridades que receberam propina eram falsas.

Essas versões ruíram depois que a perícia da Polícia Federal considerou autêntica pelo menos uma dessas listas, a de Furnas.

Mas, quando a perícia veio à tona, a campanha difamatória já tinha ganhado espaço e Nílton se encontrava preso, acusado de ser o maior estelionatário do Brasil.

Carone também foi para a cadeia, sob a acusação de que noticiava as supostas fraudes com o objetivo de extorquir dinheiro das autoridades.

Nunca houve prova de tentativa de extorsão, mas, com Aécio candidato a presidente e com chances de vencer, a prisão de ambos foi mantida.

Os dois só saíram da cadeia depois da campanha eleitoral.

“Eu não investigo delegado de Polícia. Eu investigo o maior esquema de fraude processual do Brasil, que envolve políticos, empresários, membros do Judiciário e do MP, peritos, servidores e delegados”, relatou o delegado, no grupo de WhatsApp.

“As provas contra esse determinado delegado foram entregues na Corregedoria já faz algum tempo. Trata-se do original de um inquérito policial desaparecido (como tantos outros inquéritos e processos) há quatro anos, encontrado no escritório de um pseudo-advogado (sim, entrou pra faculdade com diploma falso) conluiado com esse delegado. Não sei se a nossa Egrégia Casa Corregedora fará alguma coisa a respeito”, afirmou.

Por fim, ele desabafou: “Eu dou um conselho a quem tiver ouvidos: NÃO CUTUQUEM A ONÇA!”

A investigação que nasceu com a apuração da prisão de Carone já está bastante avançada, com 14 horas de depoimento de Marcos Valério e a investigação de outras listas, todas ligadas ao grupo político do PSDB, que mandou no Estado entre 1995 e 1999 e depois, entre 2003 e 2015.

Ainda há tentáculos desse poder em instituições do Estado e em sindicatos de policiais. No mês passado, as entidades sindicais ameaçaram entrar na Justiça contra um aumento de salário da categoria — seria o primeiro caso da história do sindicalismo em que uma entidade atuaria contra o interesse de seus representados.

Tudo porque se tentava vincular o reajuste e as promoções ao trabalho do delegado — o argumento é que a investigação que detona o PSDB teria agradado ao governo de Fernando Pimentel, que é do PT.

Rodrigo foi ao sindicato, fez a defesa das promoções, e a entidade recuou.

Agora os delegados mais antigos, citados na investigação, voltaram a atacar, desta vez pelas páginas de O Estado de Minas.
Márcio Nabak, delegado investigado, e Rodrigo Bossi, delegado investigador

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