Como deveria se sentir um senhor de 72 anos cuja perseguição levou à perda de sua companheira de toda uma vida? Qual o estado de espírito previsível de um homem que teve sua vida vasculhada de ponta a cabeça, sua casa invadida, seu quarto revirado?
Político mais admirado, premiado e respeitado do planeta, além de amado por boa parte do povo brasileiro, como entender ser vítima de uma caçada comandada pelo próprio sistema de justiça do país, tão beneficiado por suas ações de governo voltadas para possibilitar mais eficiência no combate à corrupção e aos malfeitos ?
Depois de ter deixado o governo com 87% de aprovação, mercê da aplicação de políticas que tiraram 40 milhões de pessoas da miséria e da pobreza absolutas, aumentaram como nunca os salários dos trabalhadores, geraram mais de 20 milhões de empregos, bateram recordes na criação de escolas técnicas e universidades, levaram os pobres ao ensino superior e aos aeroportos e trouxeram protagonismo ao Brasil na cena internacional, como reagir diante dos que não medem esforços para destruir sua imagem e reputação?
Pois bem, as respostas para essas indagações por parte de nove entre dez seres humanos variariam entre a expressão de sentimentos de revolta e ódio, além de manifestações naturais de descontrole e exasperação. Não é o caso de Lula. Sua entrevista à jornalista Mônica Bergamo, publicada no jornal Folha de São Paulo desta quinta-feira, 1º de março, mostra mais uma vez um homem indignado, mas absolutamente seguro de sua inocência; ferido pelos ataques sofridos, mas firme para seguir lutando; magoado com as injustiças, mas mantendo a alma a salvo de envenenamentos.
Por isso, ele é Lula. Por isso, seu lugar no panteão dos gigantes da história está assegurado, lado a lado de gente da estirpe de um Martin Luther King, de um Nelson Mandela ou de um Mahatma Gandhi. Já seus verdugos que se preparem para chafurdar no lixo da história.
Contudo, o que mais chama atenção na entrevista é a serenidade inabalável do ex-presidente. Quando enfatiza que não vai se matar nem fugir do Brasil e que vai lutar até o fim, ele exibe não só a consciência tranquila exclusiva dos inocentes, mas a convicção de seu papel perene como estadista, líder popular e de massa. Em nome do zelo por sua biografia impecável, não teme a prisão e o martírio.
Tudo isso, sem perder seu inigualável faro político. Na entrevista, é preciso ao defender a demissão, a bem do serviço público, de Moro e dos desembargadores do TRF-4, cobrar um pedido de desculpas da mídia a ele e denunciar com insistência a ligação de Moro e da Lava Jato com o Departamento de Justiça dos EUA. Sem falar na merecida crítica às declarações recentes de Ciro Gomes.
O establishment golpista pode estar cometendo um grave erro estratégico ao menosprezar as reações populares a uma eventual prisão de Lula. Na seara jurídica, ainda estão rolando os dados. Dentre os recursos aos tribunais superiores, a esperança da defesa se concentra mais no STF, seja pelo julgamento do habeas corpus preventivo ou pela revisão da decisão de permitir prisões em segunda instância. No entanto, os que desdenham da ira do povo se Lula for preso que se preparem para uma desagradável surpresa.
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