quinta-feira, 1 de março de 2018

O Brasil está morto, longa vida ao Brasil!

O Brasil está morto, longa vida ao Brasil!
por Fábio de Oliveira Ribeiro
https://jornalggn.com.br/
Luis Nassif iniciou sua última sobre o golpe com a seguinte frase:
A estratégia dos golpistas foi destruir o tabuleiro de xadrez retirando de cena a soberania popular como fundamento do poder político. O impedimento mediante fraude, porém, não impossibilita a realização de eleições presidenciais.
Para completar a tarefa, o golpe teria dois caminhos: cancelar as eleições ou garantir um resultado eleitoral a qualquer custo. Lula não é apenas um candidato, ele é o símbolo da soberania popular que os golpistas precisam desesperadamente manter fora do jogo, pois não me parece provável que eles consigam apoio militar para cancelar as eleições.

O espaço para o consenso das elites foi destruído porque o golpe não conseguiu destruir o PT. Mesmo que Lula seja impedido de disputar a eleição o resultado dela é incerto. Esse pequeno detalhe é o que mais desespera os golpistas e analistas e avalistas políticos do golpe.
O general Etchegoyen obedece o usurpador, mas ele não é obedecido pelos outros generais. Há militares que fazem de conta que obedecem Michel Temer. Alguns demonstram claramente sua insubordinação. O dispositivo militar de Michel Temer é tão ou mais frágil do que o de João Goulart. O espaço para um consenso militar também não existe. 
À deriva, o golpe vê seu tempo se esgotar sem que um candidato viável entre em cena. Aguilhoado pelo medo de responder pelos crimes antigos e recentes, Michel Temer colocou seus cabos eleitorais fardados nas ruas. Mas políticos influentes que apoiaram o golpe já começaram a se afastar do usurpador. Isso ficou evidente durante o enterro da reforma previdenciária. As chances eleitorais do usurpador são quase nulas e serão definitivamente anuladas se Eduardo Cunha cumprir sua promessa de implodir a república.
O golpe de 1964 produziu unidade. O golpe de 2016 apenas acirrou as divisões que haviam entre os golpistas. Os interesses deles são conflitantes demais para serem coordenados de maneira a estabilizar o novo regime. O vácuo deixado pelo golpe poderia ser preenchido por Jair Bolsonaro, mas ele ainda não foi capaz de demonstrar competência suficiente para ampliar sua base eleitoral. Além disso, Bolsonaro encontrará forte resistência nos meios militares.
Há pouco mais de um ano disse aqui mesmo no GGN que a patifaria de 2016 tinha tudo para destruir a ideologia do direito ao golpe de estado. O sucesso na Alemanha do documentário que foi feito sobre o golpe e a criação de disciplinas universitárias sobre o que ocorreu indicam que minha análise estava correta.
Ao fim do seu texto, Nassif demonstrou preocupação
“Esse momento exigirá bons estrategistas do lado do governo: como reagir, sem alimentar a tese do contragolpe. E exigirá também um material escasso no jogo político-midiático atual: moderadores, mediadores, na mídia, no Judiciário, no Congresso e no Executivo, que impeçam que se jogue mais gasolina na fogueira.”
Creio que o retorno da democracia é mais provável do que a eleição de Bolsonaro. Mas concordo com Luis Nassif. Agora só uma “novidade explosiva” conseguiria abalar o país e colocá-lo num curso diferente daquele que é indesejado pelos golpistas, mas eu não estou me referindo a prisão de Lula. Preso ou solto, candidato ou não, Lula influenciará o resultado das eleições de maneira positiva. A escuridão, porém, espreita.
“As forças políticas que garantiam a coesão do Brasil foram destruídas. A fragmentação territorial será inevitável. Enfraquecido o Exército não conseguirá nem mesmo movimentar tropas para defender nossa unidade. Em algum momento, porém, as empresas de comunicação também começarão a colher o que plantaram. A ganância pelo poder resulta sempre em húbris.”
Há dois dias sonhei que a Embaixada dos EUA foi reduzida a cinzas por uma grande explosão. Portanto, não ficarei surpreso se os desesperados serviçais do usurpador (ou, quem sabe, os inimigos de Michel Temer que querem se livrar tanto do PT quanto desse governo impotente, corrupto e fraco que destruiu a economia do país e sua credibilidade externa) realizarem uma típica false flag operation. No Brasil, porém, nada é tão simples. Nosso pesadelo político é permanente; um fator estruturante da realidade brasileira. Ele impede a realização de alguns sonhos e raramente nos permite ver o que se passa nos bastidores onde todos as esperanças e angústias são cozidas no fogo brando.
O brasileiro não é cordial como disse Sérgio Buarque de Holanda. Ele também não é um adepto ou um fruto da miscigenação como sugeriram Gilberto de Mello Freyre e Darcy Ribeiro. O brasileiro é bunda-mole e essa talvez seja a sua maior virtude. Somos vis, toleramos o intolerável, suportamos o insuportável não porque somos fortes, mas porque sabemos que somos fracos. A pátria é grande, mas a praia ensolarada é maior.  

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