sábado, 17 de março de 2018

O forum da desesperança

Ricardo Stuckert


Assisti ao primeiro Forum Social Mundial em Porto Alegre, no ano de 2001. Era o fórum da esperança. Os movimentos sociais estavam no auge de sua afirmação política. Os testemunhos eram uma manifestação autêntica de compromisso com as casas populares e o interesse público. Lembro-me do testemunho de Lula, corajoso, otimista, relatando toda a sua trajetória de vida e sinalizando com a candidatura presidencial que se revelaria imbatível.

Lembro-me da querida mestra, Maria da Conceição Tavares, com sua peculiar combinação de agressividade e ironia. Das oficinas fervilhando de gente e de vontade de participação. Por ali se via que a sociedade civil brasileira estava viva, disposta a usar os recursos da democracia para defender seus interesses. Sentia-se que estávamos vivendo um momento especial na nossa vida política. Estávamos na iminência de ganhar.

Não pude ir ao Forum de Salvador. Contudo, é difícil classificá-lo como outra coisa senão o fórum da desesperança. Muita coisa do que foi construído ao logo dos últimos anos até 2015 foi destruída nos três seguintes. A candidatura de Lula, imbatível em outras circunstâncias, está dependente de uns tantos burocratas togados que não tem nem nunca tiveram necessidade de prestar contas ao povo e responder ao voto popular.

Não quero infundir desânimo nas pessoas, mas despertá-las para o desafio com que nos defrontamos. A questão não é apenas a disputa presidencial. É a disputa presidencial e a disputa do Congresso. Mais de uma dezena de entidades de direita estão se organizando para o que chamam de renovação do Congresso, mas que, na realidade, é a afirmação do Congresso golpista que tirou, sem base constitucional, o mandato de uma Presidenta legítima.

A realização da esperança de renovação do Congresso com parlamentares progressistas – não necessariamente de esquerda ou de direita, mas simplesmente progressistas – é quase impossível. Entretanto, se quisermos fazer política no Brasil, este é o foco essencial. Quem rompeu com a democracia no caso do impeachment foram mais de dois terços do Congresso atual. A maioria deles tem que ser varrida de lá.

Foi em razão disso que, com um grupo de cidadãos, criamos o site Frente pela Soberania (frentepelasoberania.com.br), com o objetivo central de promover uma mudança radical na representação popular brasileira. Lá estão listados todos os parlamentares que deram seus votos regressivos aos projetos e emendas constitucionais de Temer. Isso poderá ajudar a identificar quem está do lado do povo e quem está contra.

Vou dar dois exemplos: a reforma trabalhista e a emenda de congelamento dos orçamentos públicos por vinte anos. Da reforma trabalhista não é preciso falar muito pois a sociedade já está sentindo suas consequências: já temos mais trabalhadores informais no Brasil do que formais. Quando ao congelamento dos orçamentos, estamos vendo a resistência do governo, por causa dele, a transferir recursos federais para o Rio e outros Estados conflagrados.

O site da Frente pela Soberania é também um fórum de discussão de economia, política e geopolítica, temas que tem interesse crucial no momento eleitoral. Lá estão escrevendo, entre outros, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, o cientista político Luís Fiori, o senador Roberto Requião, o especialista em energia Roberto d´Araújo, dentre outros. Ajudem com sua leitura e sua discussão. É um dos caminhos que temos para restaurar a esperança.

Jose Carlos de Assis

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