sábado, 14 de abril de 2018

Procuradores a serviço da indigência intelectual, por Luis Felipe Miguel

   Ilustração Outras Palavras

Procuradores a serviço da indigência intelectual

por Luis Felipe Miguel

A ofensiva contra os cursos universitários que discutem o golpe de 2016 foi sustada diante da forte reação do mundo acadêmico - Mendonça Filho desistiu de mobilizar o MEC para censurar a UnB, as tentativas feitas localmente na Bahia, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul não prosperaram. Mas agora eles estão voltando à carga, com as atitudes inacreditáveis de procuradores de Goiás e, agora, do Ceará.

Li a representação do procurador-chefe da Procuradoria da República em Goiás, que na verdade é um gaúcho com trajetória de militância na extrema-direita. O texto devia ser estudado em cursos de lógica. É um monumento à imbecilidade argumentativa. Ele parte do pressuposto que caracterizar a derrubada da presidente Dilma Rousseff como "golpe" é assumir uma posição político-partidária, vedada ao funcionário público no exercício de suas funções. Quem assim entende a ruptura da ordem constitucional ocorrida em 2016 é, diz o procurador, "fiel seguidor da seita do condenado por corrupção e lavagem de dinheiro", cujos alunos são "lobotomizados" nas "mais perdulárias e ineficientes máquinas universitárias do mundo".

Mas ele próprio se lança a tal diarreia verbal, além de defender com unhas e dentes o chamado "impeachment" como se fosse legítimo, sem que lhe passe pela cabeça que, com isso, a pecha de partidista poderia se voltar contra ele. Se assumir posição diante dos fatos políticos é ser "militante partidário", por que só vale para o lado dos adversários do procurador?

Depois disso, o texto lança uma saraivada de adjetivos e definições pejorativas contra os cursos ("falsificações", "fraudulentos", "embusteiros", "simulacros" etc.). Parabéns, Benedito, você tem um dicionário de sinônimos! Mas vinte xingamentos não produzem um argumento. E não há, no despacho da procuradoria goiana, sequer um esboço de argumento que sustente legalmente a violação da autonomia universitária ali proposta.

Sempre julguei que o melhor era ter adversários burros. Afinal, sendo burros eles seriam mais facilmente vencidos. Hoje penso diferente. Alguém que não padecesse de indigência intelectual completa certamente se sentiria vexado de expor ao mundo texto tão precário, tão inane.

Estamos entrando numa situação em que vigora o poder da força bruta, na sua nudez. A burrice deixa de ser uma debilidade. Talvez se converta até em uma vantagem. Temos que lidar com isso, mas sem abdicar de nossa inteligência.

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