segunda-feira, 7 de maio de 2018

Falta humildade para Ciro unir-se aos petistas



O namoro quase platônico de Ciro Gomes com o PT acabou antes mesmo de um possível primeiro encontro. O ex-ministro, que seria o herdeiro natural dos votos de Lula caso o ex-presidente seja mesmo impedido de concorrer às eleições presidenciais deste ano, lançou fora a sua melhor chance de chegar ao Palácio do Planalto por ser um contumaz falastrão: fez declarações inoportunas que feriram os petistas. Além de não se solidarizar com o líder petista, como fizeram os candidatos de esquerda, ainda considerou normal a velocidade do julgamento do seu processo pelo Tribunal Regional Federal da 4ª. região e, também, justa a sua prisão. Quando cresceram as críticas por sua falta de solidariedade a Lula ele disse que não era "puxadinho do Partido dos Trabalhadores", afirmando também que "não cumpria a agenda do PT" quando lhe cobraram uma visita ao ex-presidente na prisão. Apesar da sua reconhecida experiência política, faltou a ele uma das maiores virtudes do ser humano: humildade. Ao contrário, mostrou-se presunçoso ao dizer que receberia de graça o apoio do PT no segundo turno.

Ciro, sem dúvida, é o mais preparado dos candidatos já conhecidos mas falta-lhe, além de humildade, equilíbrio emocional e, também, uma das qualidades indispensáveis para quem faz política: a capacidade de engolir sapos. Ele reagiu mal às críticas de petistas por sua posição ambígua: ao mesmo tempo em que hostilizava o partido acenava com a possibilidade de casamento. Em nenhum momento ele disse uma palavra de apoio ao ex-presidente, apenas que estava "triste" com a sua prisão. Na verdade ele sabe, como de resto todo mundo, que sua grande chance de chegar à Presidência da República está na ausência de Lula da corrida sucessória e, talvez por isso, demonstrou certa satisfação pela perspectiva de afastamento do ex-presidente. E passou a falar o que não devia, chegando a dizer em dado momento que a candidatura de Lula era "um desserviço ao Brasil". Apesar da torcida aberta do jornalista Paulo Henrique Amorim e dos ex-ministros Bresser Pereira e Janine Ribeiro, entre outros, para que se consorciasse com o PT, Ciro se distanciava mais dos petistas com declarações que azedaram mais ainda as suas relações.

Em política não existe a palavra "impossível", o que significa que sempre existe a possibilidade de reconciliação – até porque a palavra final para um namoro e casamento do PT deve ser de Lula, reconhecido estrategista político e conciliador – mas se pretende mesmo chegar ao Planalto Ciro terá de segurar a língua, controlar seu temperamento explosivo, engolir sapos e cortejar o PT, que definirá o próximo Presidente. De outro modo ele estará desperdiçando a sua grande oportunidade de ser Presidente, pois embora seja correto o seu raciocínio de que terá de graça o apoio do PT no segundo turno, primeiro ele terá de chegar ao segundo turno, o que não parece fácil sem os votos dos petistas. E precisará apressar-se na busca dos votos do PT, que está mais ligado a Boulos e Manuela, companheiros de Lula em todos os momentos, embora também candidatos à Presidência. Ele precisará, porém, conquistar a confiança dos petistas, uma tarefa muito difícil depois de tudo o que disse, o que criou um clima de desconfiança que levou a presidenta do partido, senadora Gleisi Hoffman, a dizer que ele "não passa no PT nem com reza brava".

Algumas personalidades e analistas, por conta dessa relação conflituosa entre Ciro e o PT, já acusam os petistas de provocar uma divisão na esquerda que pode levá-los à derrota. Para eles, que defendem a candidatura do ex-ministro, os petistas é que deveriam correr atrás de Ciro para montar uma chapa capaz de vencer as eleições presidenciais deste ano. Sem dúvida a aliança entre o ex-governador cearense e o PT de Lula seria ideal, mas a iniciativa para o casamento deve partir de Ciro, sobretudo depois das suas agressões públicas gratuitas, que revelaram surpreendente imaturidade para um político experiente como ele. Mesmo mudando de atitude, porém, dispondo-se a uma reaproximação com os petistas, Ciro precisará de muita habilidade para eliminar as suspeitas de que, eleito, dará um pontapé na bunda de Lula, a exemplo dos ministros do Supremo por ele nomeados. Afinal, até hoje não se sabe exatamente de que lado ele está, pois em nenhum momento mostrou-se pelo menos solidário ao ex-presidente.

Não se sabe ainda quando Lula indicará o nome que terá a responsabilidade de substitui-lo na corrida sucessória, caso não concorra. Na verdade, apesar das pressões para que decida de imediato, considerando o tempo que nos separa do pleito, o ex-presidente só deverá tomar a decisão no último minuto do prazo legal, por três motivos: primeiro, porque os petistas ainda alimentam a esperança de que algum imprevisto possa reverter a situação e garanta a sua candidatura; segundo, porque indicar um substituto agora seria admitir a sua inelegibilidade antes de esgotados todos os recursos jurídicos e políticos; e, terceiro, o nome indicado agora passaria a sofrer um massacre da mídia, à frente a Globo, para inviabilizá-lo. Melhor, portanto, esperar até o último dia do prazo legal para o registro de candidaturas, dando tempo aos acontecimentos e, também, para consolidar a sua liderança na sucessão, liderança que cresce com o passar dos seus dias na prisão. Ao contrário do que imaginaram os seus perseguidores, a prisão fortaleceu mais ainda o ex-presidente, que se tornou imbatível dentro ou fora do cárcere. Hoje ninguém mais tem dúvidas de que Lula vencerá o pleito ou quem for ungido por ele.

Ribamar Fonseca

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