POR CESAR CALLEGARI
Em sua videocoluna, Cesar Callegari, membro do Conselho Nacional da Educação, comenta o programa Escola Sem Partido, proposta que impede que os professores discutam temas centrais para o desenvolvimento social de seus alunos.
De todas as agressões à democracia do nosso país, uma das mais perigosas é a que está sendo tramada nesse instante no Congresso Nacional: a proposta da Escola Sem Partido.
Um tema muito complicado porque, em um primeiro momento, muitos de nós concordamos que a escola não pode ser partidarizada.
Mas o que os grupos ultra fundamentalistas que estão no Congresso Nacional – e nos setores ultra conservadores de vários partidos políticos que aderem a esta causa – pretendem fazer é impedir que os professores discutam os chamados temas “sensíveis”.
A política e as questões relacionadas ao poder dizem respeito a todas as condições do desenvolvimento humano, portanto tem a ver com todas as disciplinas. É necessário estudar as questões relacionadas ao poder e à política ao desenvolver os estudos de matemática, língua portuguesa, língua estrangeira, história, geografia, filosofia e sociologia como também de química, física, biologia, artes e educação física.
Ou seja, as questões de poder fazem parte das questões das relações humanas e precisam ser enfrentadas nas escolas.
Esses grupos da Escola Sem Partido que estão no Congresso Nacional e em outros movimentos ultraconservadores da sociedade brasileira pretendem proibir, colocar uma mordaça impedindo e proibindo que professores discutam as questões de gênero.
As questões de gênero são questões da vida das pessoas, elas estão nas famílias, nas ruas, estão na sociedade e devem estar na escola. Proibir, limitar, impedir que se discuta uma questão tão fundamental de gênero é a mesma coisa que proibir que se fale a respeito do gênero feminino.
Uma das mais complicadas e profunda forma de desigualdade de opressão da sociedade brasileira se dá exatamente em relação à maneira como são tratadas as mulheres no Brasil. Elas, em geral, têm sobretrabalho, ganham menos do que os homens, são vítimas de todas as espécies de violência. Esta é ou não é uma questão de gênero que precisa ser enfrentada e discutida numa escola com crianças de quatro anos de idade?
Um menino com quatro anos de idade precisa saber que a menina, sua coleguinha, tem os mesmos direitos e merece o mesmo respeito. Esta é uma questão de gênero como tantas outras, mais ou menos delicadas, que esses setores do Congresso Nacional pretendem impingir à sociedade brasileira nos colocando uma espécie de mordaça, proibindo que questões desta natureza sejam discutidas nas escolas.
Precisamos combater essas medidas.
Isso não é uma questão apenas dos educadores, é uma questão que envolve toda a sociedade brasileira, que precisa se defender. Educação é luz e não obscuridade, nem obscurantismo e muito menos trevas.
Precisamos agir contra esse tipo de tentativa de, mais uma vez, perpetrar mais um golpe contra democracia e contra a sociedade brasileira.
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