quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Globo e duas emissoras pagaram US$ 15 mi de propina para transmitir Copas futuras


Presidente da Fifa, Gianni Infantino, ao lado de representantes do United 2026, vencedora na escolha da sede da Copa de 2026 - Foto: AFP

Jornal GGN - A rede Globo de televisão volta a entrar na mira do esquema de corrupção do futebol. Uma denúncia movida por acionistas contra a Televisa, emissora mexicana, revela um acordo com a argentina Torneos e a brasileira Globo para o pagamento de US$ 15 milhões para os direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2026 e 2030. 

Com as novas denúncias, que suscitam o esquema de pagamentos de propina na chamada #FifaGATE, investigada pela Corte do Brooklin, em Nova York (EUA), a Globo aumenta o seu nível de apurações que antes se restringia ao período de 2006 até 2015 para os torneios que nem sequer chegaram.

Em novembro do último ano, o GGN trazia detalhes, a partir dos depoimentos prestados por cartolas e dirigentes aos investigadores norte-americanos, que a Rede Globo havia sido delatada por pagar propina diretamente pelos direitos de transmissão de jogos da FIFA no Brasil, em articulação com a argentina Torneos e também com a Televisa. 

Depoimentos FIFAGate

Alejandro Burzaco, após depoimento nos EUA - Foto: La Nación

O argentino Alejandro Burzaco, empresário e ex-diretor da Torneos y Competencias (ex TyC), foi quem trouxe as acusações mais fortes contra os grupos de televisão da América Latina. Como CEO da Torneos de 2006 a 2015, foi este o período delatado. Burzaco declarou-se culpado no final de 2015 por fraude, lavagem de dinheiro e corrupção.

"Alejandro Burzaco disse que a Fox Sports, a Televisa, a Media Pro, a TV Globo, a Fill Play e a Traffic, todas as emissoras pagaram propinas em troca de direitos [para a transmissão] do futebol. (...) Ele disse que sua empresa teve parceirias com todas estas companhias [que pagaram propinas pelos direitos de transmissão] e ele, pessoalmente, está ciente do suborno", havia narrado o jornalista da BuzzFeed, Ken Bensinger, que acompanha de perto o caso.

"Testemunha num caso da FIFA disse que seis das maiores companhias de comunicação, incluindo a Fox Sports, pagaram subornos para os direitos de transmissão. (...) De acordo com Burzaco, [Ricardo] Teixeira [ex-presidente da Confederacão Brasileira de Futebol] recebeu subornos da T&T para a Copa Libertadores e a Copa Sul Americana também. A partir de 2006, ele recebeu US$ 600 mil a cada ano", seguiu.

Mas apesar de Burzaco ter mencionado a brasileira Rede Globo, a argentina Torneos e a mexicana Televisa, as apurações detalhavam até o ano de 2015. E as investigações contra os grandes grupos de televisão da América Latina apenas começavam.

Livro de Blatter

Foto: Marca

Em maio deste ano, por exemplo, o próprio ex-presidente da FIFA denunciou que "televisão brasileira" criou uma "caixa-preta" de propina do futebol. A acusação foi publicada em seu livro Ma vérité (Minha Verdade), da editora francesa Éditions Héloïse d’Ormesson, lançado no dia 24 de maio na Europa.

Entre as narrativas das 240 páginas de Blatter contando como ele via os fatos hoje deflagrados no chamado FIFAGate, as artimanhas envolvendo o seu antecessor, João Havelange, e Ricardo Teixeira, como ex-presidente da CBF, e que "descobriu" que o dinheiro de uma emissora de televisão brasileira teria sido desviado para a criação de uma "caixa-preta" no futebol.

Apesar de não mencionar diretamente "TV Globo", Blatter estava se referindo à falência da empresa de marketing esportivo ISL, que vendia direitos de transmissão de jogos e é acusada de pagar propinas incluindo aos cartolas brasileiros. 

Ao descrever como o caso passou a ser investigado, ainda em 2001, pelo tribunal da Suíça, abrindo um processo contra a ISL e realizando buscas na Fifa, Blatter mostrou-se surpreendido com o envolvimento da corrupção no Brasil: "Eu então descubro que uma caixa-preta foi constituída com o dinheiro desviado da televisão brasileira", disse.

Esquema continuou na América Latina

      Foto: Reprodução

Mas as novas acusações são ainda mais graves. Porque revelam que mesmo após a deflagração do esquema de corrupção no futebol pelas autoridades suíças e norte-americano, gerando a prisão de cartolas e dirigentes esportivos por todo o mundo, os esquemas de compra de direitos de transmissão seguiram.

Mas gira em torno da mexicana Televisa, após sofrer uma ação de acionistas por supostamente participar de pagamentos de propina para obter os direitos de transmissão da Copa do Mundo deste ano de 2018, de 2022, 2026 e 2030. Somente para a transmissão dos dois últimos, teriam sido pagos pelo menos US$ 7,25 milhões.

Os valores, segundo as novas acusações, eram parte de um total de US$ 15 milhões. Assim, enquanto a mexicana teria investido a metade da quantia da propina, a brasileira Globo e a argentina Torneos teriam entrado com a outra metade.

Os acusadores são membros do Plano de Pensões do Colégio de Artes e Tecnologia, que possui ações da Televisa na Bolsa de Valores de Nova York. Eles afirmam que foram lubridiados. Em um dos casos, em 2013, a Televisa teria conspirado com a Globo e a Torneos para pagar os US$ 15 milhões ao ex-executivo da Fifa, Julio Grondona, pelos direitos de 2026 e 2030 na América Latina.

A mexicana teria usado a filiar suiça Mountrigi Management Group para o repasse ilícito de US$ 7,25 milhões. A íntegra da acusação foi divulgada por Ken Bensinger:



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