quarta-feira, 14 de novembro de 2018

De raso futuro, por Rui Daher


De raso futuro, por Rui Daher

em CartaCapital

Dos quase 150 milhões de brasileiros habilitados ao voto na eleição para presidente da República, cerca de 90 milhões, mais de 60%, escolheram o outro pretendente ou se expressaram pela não escolha e comparecimento às urnas.

Esses não me preocupam. Era seu direito democrático não considerar, tanto vencedor como perdedor, preparados para presidir um país complexo, em momento de crise política, econômica, social e, em breve futuro, institucional, ainda mais com o sistema econômico vigente no planeta em transição.

Preocupam-me, causam apreensão e medo, aqueles que elegeram Jair Bolsonaro, não pelo o que ele representa, um nada, mas por seus adeptos revelarem o verdadeiro ethos de grande parte do povo brasileiro, talvez até aqui mal interpretado pelos estudiosos das ciências humanas.

Acredito apenas confiarem em seus conceitos antidemocráticos e seus próprios umbigos e interesses, apartadas diversidades, desconsiderados os “outros”, que só passam a existir quando tratar de se auto elogiarem.

Até aqui aliviei. Não mais. Armar uma população que nem consegue comprar hortaliças, legumes e frutas? Esse povo preferirá comprar um revólver 38 e não comer, ou se tornará ainda mais vulnerável ao crime que recrudesce na mesma medida em que aumenta a repressão?

Andei dez dias por aí e trago testemunho. Por que votaram nele? Porque qualquer merda serviria. Foi o que percebi. O petismo foi estigmatizado à maldição. Não que não tivessem percebido o conluio pós-impeachment (mesmo antes). STF e Judiciário, em todos os baixos níveis, Forças Armadas, em todos os altos níveis, e folhas e telas cotidianas, em joelhos, para não quebrarem definitivamente. Pior, o petismo não se percebeu.

E assim Jair Bolsonaro será o 38º presidente do Brasil. Leio na insuspeita Época (Globo): “Seus primeiros pronunciamentos mostraram-se contraditórios (...) o problema dos soldados é que estão sempre a contemplar um inimigo. Um país, entretanto, desenvolve-se com ações harmônicas e complementares de seus governantes e cidadãos”.

“Nem tão esotérico assim”, Época. Amontoam-se lobbies às portas do ilegítimo atual, Michel Temer, e do aparvalhado futuro, Jair Bolsonaro.

Um exemplo, na minha área de atividade, está na conclamação do especialista Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro, manchete da edição 10/12 de novembro do Valor: “Futuro governo não pode fechar portas para o agronegócio”.

Ô prezado, fique tranquilo, já foram e mais serão arrombadas.

Estão certos de sua escolha? Muitos, sim. É o que queriam. Aos demais, preparem-se. Pagaram pra ver e não creio que terão o dinheiro de volta.

Ao final, fico e ouço o Nordeste cantando “Táxi Lunar”, enquanto caminho pela finitude.



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