domingo, 4 de novembro de 2018

Protesto contra Bolsonaro e o fascismo reúne brasileiros e estrangeiros em Berlim. Por Fernanda Nacif

Publicado por Larissa Bernardes

Protesto em Berlim contra Bolsonaro e o fascismo. (Foto: Fernanda Nacif)

POR FERNANDA NACIF, de Berlim

Brasileiros e estrangeiros se reuniram neste domingo, dia 4, em Berlim para manifestar resistência após a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência do Brasil. 

A manifestação começou às 3 da tarde e contou com a presença e a fala de representantes de várias organizações antifascistas e pela democracia. 

O tempo cinza e o frio de 10 graus foram contrastados por cartazes e faixas coloridas, que mostravam tanto a indignação com os acontecimentos recentes quanto o mensagens de luta contra o fascismo em ascensão no país.
Protesto em Berlim contra Bolsonaro e o fascismo. (Foto: Fernanda Nacif)

Duas das organizadoras do evento, Juliana Moreira e Beatriz Krieger, reafirmaram em entrevista a necessidade de se organizar a oposição antifascista tanto no Brasil como no exterior. 

Embora Bolsonaro seja um caso ainda mais extremo, como jornais de todo o mundo tem noticiado, o avanço da direita populista e radical é um fenômeno internacional. 

O mau uso ou abuso das mídias, o falso posicionamento anti-establishment (embora Bolsonaro já esteja na política há décadas e quase não tenha tido projetos durante esse tempo) e o discurso de ódio contra “minorias” são táticas bem pensadas e concertadas por estrategistas políticos, grupos e movimentos de direita entre vários países. 

Devemos enxergar e entender como o pensamento neoliberal tem se associado ao conservadorismo social e à direita mais extrema, para permanecer como lógica predominante de mercado. Isso já aconteceu no passado por meio de golpes militares. 

Agora, está acontecendo por meio do voto, o que aumenta a preocupação com os pensamentos e atitudes ancorados na sociedade, em grande parte advindos do fato de ainda não termos processado coletivamente nosso passado colonial e também autoritário.

Pensando de forma crítica a esse passado colonial, afirma Moreira, falando da Alemanha, devemos revelar quem na economia está se beneficiando a custos e sobre os corpos de quem; ou seja, quem está lucrando com o apoio ou mesmo com o silêncio diante da política brutal de Jair Bolsonaro. 

Isso significa que também nós precisamos pensar e agir de forma transnacional. As ativistas acentuam nossa responsabilidade de chamar a atenção da mídia e de organizações internacionais para os desenvolvimentos durante e após as eleições, e não permitir que a democracia brasileira sofra mais um golpe. 

Além do mais, devemos usar da nossa posição privilegiada no exterior, por não estarmos iminentemente sob ameaça, para lutar ao lado de quem está diariamente confrontado com o perigo do extremismo no Brasil.

Uma outra oradora do evento clamou pelo boicote de empresas internacionais que apoiam Bolsonaro e lucram com suas políticas de violência e exclusão, como uma das maneiras de se demonstrar apoio à nossa luta. 

O recém eleito presidente já deu seu aceno tanto à bancada ruralista quanto ao setor de extração mineral, e manifestou em diversas ocasiões a intenção de aumentar o desmatamento de florestas e expulsar quilombolas e povos indígenas de suas terras.

Txana Bane Hunikuin, representante da Cooperativa Hunikuin Aru Kuxipa, também falou sobre a importância de se lutar com os povos indígenas pela preservação das florestas brasileiras. 

Txana lembrou que só é possível se ter justiça (sobretudo para com as gerações futuras) e harmonia em sociedade, se aprendermos a viver em relação de respeito com a natureza. 

Creio que sua descrição de sentimentos frente a essa ameaça iminente que Bolsonaro traz, representa bem a atmosfera que permeou a manifestação: por um lado, há tristeza, medo e insegurança. 

Por outro lado, porém, há a esperança de que esse é exatamente o momento que temos para nos organizar, para criarmos forças e trabalharmos juntos com os mais diversos grupos por um projeto positivo de sociedade, justo no mais amplo sentido, e igualitário.

Ao fim, Vítor Guimarães do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) e coordenador da Frente de Mobilização Povo sem Medo também fez um discurso. Ele estará essa semana em Berlim com Juliana Guimarães, jornalista e ativista da Marcha de Mulheres Negras de São Paulo, e João Feres, professor de Ciência Política da UERJ, em eventos da série “Brasil: Democracia em Perigo”. 

A série já trouxe Eliane Brum, jornalista, escritora e documentarista, e Itamar Silva, do IBASE, para debates.

A manifestação terminou ao som de músicas brasileiras de resistência.

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