O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou nesta quarta uma carta aos principais partidos políticos dos BRICS, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul; os partidos estão reunidos em Tsuane, na África do Sul; no texto, Lula resgata o histórico de acertos do bloco e fala sobre a necessidade do Brasil de integrar-se novamente à comunidade internacional
247 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta aos principais partidos dos BRICS, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China, nesta quarta-feira (5). A carta foi entregue pela presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, ao secretário geral do Congresso Nacional Africano (CNA), Ace Magashule, e organizador do encontro. Estão reunidos, além do CNA, o PT e mais o Partido Rússia Unida, o Partido Comunista da Rússia, o Partido do Congresso da Índia e BJP Partido do Povo e o Partido Comunista Chinês . No texto, Lula resgata o histórico de acertos do bloco e da necessidade do Brasil de integrar-se novamente à comunidade internacional. As informações são do site Lula Livre.
“Meu caro presidente Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, que generosamente hospeda este encontro de partidos políticos dos países BRICS.
Minha querida Nkosazana Dlamini-Zuma, com quem tive o privilégio de compartilhar tantas iniciativas no âmbito do desenvolvimento e do combate à fome na África.
Quero agradecer o convite ao Partido dos Trabalhadores para participar desse importante diálogo.
Saúdo os companheiros do CNA, do Partido Rússia Unida e do Partido Comunista da Rússia; do Partido do Congresso da Índia e BJP Partido do Povo; do Partido Comunista Chinês e todos os que trabalham pela amizade e integração de nossos países.
Em 2003, quando criamos o grupo dos BRICS, quinze anos atrás, o mundo vivia um momento de intenso diálogo e inovação nas relações entre os países. Apesar das guerras e da fome que atingia mais de 1 bilhão de pessoas, inclusive no Brasil, víamos nascer novas iniciativas de diálogo em torno de uma agenda global.
Esta agenda incluía desde combate à fome, a prevenção ao HIV e a solidariedade a seus portadores, até a questões do clima e da regulação das transações financeiras, entre tantos outros. Obtivemos avanços em muitos aspectos e fracassamos em outros.
Mas o que eu desejo ressaltar é o espírito daquela época, nem tão distante assim. Valorizávamos a solidariedade, a cooperação, o respeito à soberania dos países. Ambicionávamos construir uma ordem internacional pautada pelo multilateralismo e voltada para a paz e o progresso dos povos.
Quinze anos depois, estamos presenciando retrocessos pelo mundo, inclusive, e de maneira muito grave, em meu país. Se já tínhamos visto a ascensão, em países da Europa, de partidos e governos marcados pela xenofobia e pela intolerância, a eleição de Trump trouxe à tona um governo que persegue migrantes, fala a língua dos canhões e não tem noção de que existe um mundo fora de suas fronteiras.
No Brasil, como sabem, o futuro governo já mostrou ser não apenas aliado incondicional dos Estados Unidos, mas totalmente subserviente a Trump. Seu objetivo em política externa é desmanchar tudo que construímos com diálogo e cooperação, no âmbito da América Latina, com a África, com os BRICS e nas organizações internacionais.
É muito ruim para o mundo que, neste momento, um país das dimensões do Brasil deixe dar sua contribuição ao multilateralismo e à paz. E sentimos vergonha pelo tratamento ofensivo de Bolsonaro a tantas instituições e países amigos.
Mas vejo com muita esperança que podemos continuar contribuindo por meio do diálogo entre nossos partidos políticos, o que é uma honra e uma responsabilidade para o Partido dos Trabalhadores.
Como vocês sabem, encontro-me preso há oito meses, sem ter cometido crime nenhum, e isso ocorreu para me impedir de disputar as eleições. Pedi à companheira Gleisi Hoffmann, presidenta do PT, que levasse a vocês esta mensagem. Pedi também que conte como está a situação do país e que confirme o compromisso do nosso partido com a consolidação dos BRICS.
Quero, por fim, agradecer a solidariedade que tenho recebido de tantos companheiros de países amigos, o que é um grande conforto na situação em que me encontro.
Desejo que aproveitem bem este encontro, que façam um bom diálogo. Estou certo de que um dia o Brasil voltará a se integrar plenamente aos BRICS e à comunidade internacional.
Com os meus sinceros agradecimentos
Luiz Inácio Lula da Silva
Curitiba, 4 de dezembro de 2018″
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